Corinthians, exposto ao ridículo, celebra seu melhor ano esportivo desde 2017

Por MARCOS GUEDES

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "O corintiano não tem um dia de paz" foi uma frase recorrente entre torcedores do Corinthians em 2025. Após uma jornada feliz, com uma boa vitória, brotava alguma notícia relacionada ao caos administrativo e financeiro do clube.

Ainda assim, entre momentos como o impeachment de seu presidente, revelações de gastos injustificáveis em cartões corporativos e até falta de uniforme para entrar em campo, a agremiação preta e branca está em festa. Campeã do Campeonato Paulista em março, com triunfo sobre o arquirrival Palmeiras, agora é campeã também da Copa do Brasil, título que não era obtido havia 16 anos.

Após cinco temporadas completas sem nenhuma conquista, o torcedor voltou a festejar e teve seu ano mais vitorioso desde 2017, quando comemorou o título paulista e o brasileiro. O Corinthians ainda foi bi estadual em 2018 -saborosíssima e improvável vitória na casa do maior inimigo- e tri em 2019, mas os problemas da gestão foram crescendo até um ponto quase insustentável.

A dívida bruta está na casa dos R$ 2,7 bilhões, e esse nem é o número mais importante agora. A questão urgente são as obrigações de curto prazo, com notórias dificuldades no fluxo de caixa e atrasos no pagamento de salários para atletas e demais funcionários.

A inadimplência com outros clubes também limita a operação. O alvinegro deve cerca de R$ 40 milhões ao Santos Laguna, do México, pela contratação do zagueiro reserva Félix Torres e sofreu um "transfer ban", punição imposta pela Fifa (Federação Internacional de Futebol) que impede o registro de novos jogadores até a quitação do débito.

A pendência referente ao beque equatoriano não é a única. Já há condenações na Fifa ligadas às contratações de Rodrigo Garro e Maycon, esta por empréstimo, e a diretoria aguarda sentenças da CAS (Corte Arbitral do Esporte). A agremiação deve ainda cerca de R$ 45 milhões ao meia Matías Rojas, que ao menos se mostra disposto a um acordo para evitar mais uma sanção.

O responsável por lidar com a situação é Osmar Stabile, 72. O empresário era vice-presidente na gestão de Augusto Melo e assumiu a presidência -primeiro, provisoriamente; depois, referendado em votação do Conselho Deliberativo- após o impeachment de seu antigo aliado.

Augusto foi afastado com base em irregularidades apontadas no contrato de patrocínio com a empresa de apostas VaideBet. Ele nega essas irregularidades, porém a denúncia do MP-SP (Ministério Público de São Paulo) foi aceita pela Justiça, o que o fez réu, acusado de associação criminosa, lavagem de dinheiro e furto.

A derrotada de Melo foi um baque para a significativa parcela da torcida que o via como a solução após 16 anos de reinado de Andrés Sanchez, cujo grupo politico assumira o poder em 2007. O próprio Andrés e um de seus sucessores, Duilio Monteiro Alves, foram denunciados pelo MP-SP, acusados de apropriação indébita, com gastos pessoais no cartão corporativo do Corinthians -Andrés disse ter se confundido, Duilio nega qualquer malfeito.

As notas fiscais apontam até a compra de remédio para disfunção erétil. Mas, do ponto de vista esportivo, o noticiário atingiu seu momento mais ridículo quando o time ficou sem uniforme para entrar em campo.

Isso ocorreu em setembro, cinco meses após o afastamento de Augusto Melo. Em visita ao Fluminense, no Rio de Janeiro, o clube pediu ao adversário que jogasse de branco porque não havia camisas brancas disponíveis e a equipe teria que jogar de preto -agora, há uma investigação sobre suposto desvio das roupas fornecidas pela Nike por parte de dirigentes.

Nesse cenário, enquanto Stabile dirige o Corinthians em meio período -ele declaradamente toca suas empresas de manhã e vai ao Parque São Jorge à tarde-, ganhou popularidade a ideia de aderir ao modelo SAF (Sociedade Anônima do Futebol). Há bastante resistência, entre conselheiros e também na parcela da torcida que tem ojeriza à ideia de uma venda.

"Em outros times seria caos total, rebaixamento... Mas o Corinthians é o Corinthians. Apavoramos a porcada, com todos os milhões da Leila [Pereira, presidente do Palmeiras], duas vezes. A gente empurra, não tem jeito", disse o motorista Fransérgio Gomes, 31, que viajou ao Rio de Janeiro para acompanhar a final da Copa do Brasil.

Fransérgio está feliz. O Corinthians derrubou o Palmeiras -que não levantou troféu em 2025- a caminho dos títulos do Paulista e da Copa do Brasil. Enquanto os rivais franzem o sobrolho e pedem "fair play financeiro", ele grita "é campeão".