Brasileiro amplia oferta de jogos gratuitos, mas fica 40% mais caro para fanáticos
SÃO PAULO, SP E ARACAJU, SE (FOLHAPRESS) - Apesar da ampliação do número de jogos exibidos gratuitamente na TV aberta e na internet, acompanhar integralmente o Campeonato Brasileiro ficou mais caro em 2025. Com a fragmentação dos direitos de transmissão entre diferentes plataformas, o torcedor que quis ver todos os 380 jogos da competição teve um gasto cerca de 40% maior do que em 2024, mesmo em um cenário com mais opções sem custo, como Globo, Record e CazéTV.
Vencido pelo Flamengo, o Nacional deste ano consolidou a pulverização do mercado de mídia esportiva no Brasil, ampliando o acesso casual ao campeonato, mas encarecendo o consumo para o público mais fiel, que acompanha rodada a rodada e clube a clube.
Na prática, a conta ficou assim: em 2024, o torcedor conseguia ver todos os jogos com a assinatura anual do Premiere (R$ 358) e o acesso às partidas do Athletico como mandante na CazéTV por R$ 15,92 ao ano, num total de R$ 374,72. Em 2025, para acompanhar todas as partidas, passou a ser necessário somar Premiere e Prime Video, o que elevou o gasto anual para R$ 525,60 ?R$ 151 a mais, alta próxima de 40% no menor custo possível.
Em contrapartida, nunca houve tantas partidas disponíveis sem custo para o público. A cada rodada, 3 das 10 partidas estavam disponíveis gratuitamente: duas na TV Globo (divididas pelo sistema de praças da emissora) e uma compartilhada pela TV Record e pela CazéTV (YouTube).
"Este modelo atual talvez seja uma ótima saída para o longo prazo, pois parece atender a diferentes segmentos de torcedores. Para os casuais e de média frequência, os jogos gratuitos se pagam pela publicidade, enquanto os mais fiéis aos times e à competição pagam diretamente para ter acesso a tudo", defendeu Alexandre Vasconcellos, gerente regional da Flashscore, plataforma de estatísticas esportivas.
O atual cenário começou a se desenhar em 2021, com a aprovação da chamada Lei do Mandante, que garante aos clubes a possibilidade de negociar individualmente os direitos dos jogos nos quais atuam como mandantes.
Embora tenha rompido com o modelo de venda coletiva, na prática os clubes das Séries A e B acabaram formando dois blocos, a Libra e a Liga Forte União, para negociar de forma conjunta os direitos de seus membros, com o objetivo de maximizar ganhos.
A Libra foi a primeira a vender os direitos do bloco. Em 2024, fechou exclusividade com o Grupo Globo para transmissões na TV aberta (Globo), na fechada (SporTV) e no sistema pay-per-view (Premiere) por R$ 1,1 bilhão.
A LFU entendeu que dividir seus direitos em pacotes poderia ser mais lucrativo. No fim, ao fechar contratos com a Record, a CazéTV, a Amazon e a própria Globo, obteve valor médio por clube semelhante ao da Libra, com R$ 1,7 bilhão no total.
"Quanto mais players passam a disputar os mesmos direitos, a valorização é um efeito natural da lei de oferta e demanda. Cada detentor precisa monetizar esse investimento, seja via patrocínios no B2B ou por meio da cobrança direta ao torcedor, e esse incremento acaba aparecendo na ponta", disse Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da ESPM.
A pulverização dos direitos de transmissão que será observada no Campeonato Brasileiro já é uma realidade nos campeonatos estaduais. O Paulista, por exemplo, tem sete opções de exibição: Record, TNT, CazéTV, Max, UOL Play, Nosso Futebol e Zapping TV.
O modelo também é comum nas principais ligas da Europa. Além dos diversos acordos internacionais, os campeonatos Inglês, Espanhol, Italiano, Francês e Alemão são divididos entre várias empresas dentro de seus territórios nacionais.
No Reino Unido, por exemplo, as transmissões são partilhadas entre Sky Sports, TNT Sports e Prime Video. Na Espanha, Movistar+ e Dazn dividem as partidas. Na Alemanha, Sky Deutschland e Dazn detêm os direitos de transmissão. O Campeonato Italiano é exibido nacionalmente pelo Dazn e pela Sky Italiana. O Francês, por sua vez, é transmitido pelo Prime Video e o Canal+.
No Brasil, o Grupo Globo monopolizou as transmissões desde 1992, com exceção de momentos em que compartilhou partidas com a Record e a Band, mas sempre sublicenciando seus direitos.
Em 2026, a Copa do Mundo, sediada em conjunto por Estados Unidos, Canadá e México, também terá um modelo de transmissão fragmentado no Brasil.
A edição, que marca a estreia do novo formato da competição ?com 104 jogos e 48 seleções? será exibida no país por Globo, SBT, CazéTV e NSports.
