Arqueira já velejou, escreveu livros e vive 'ano importante' rumo a LA-2028
RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) - A temporada renderia um capítulo de um livro, caso Ana Luiza Caetano queira escrever mais um. Em 2025, a jovem atingiu alguns feitos no tiro com arco e solidificou a caminhada para os Jogos Olímpicos de Los Angeles-2028.
Ana, de 23 anos, participou, pela primeira vez, do Mundial adulto, além de todas as etapas de Copa do Mundo. Além disso, alcançou a quarta colocação no "The Vegas Shoot", campeonato com maior número de participantes do tiro com arco mundial.
"Foi um ano muito importante, principalmente porque nesse ciclo estamos conseguindo fazer ele inteiro. Consegui fazer mudanças na postura, que eu almejava, adaptação de equipamento, tudo que é para ser feito em um primeiro ano de um ciclo olímpico. O último ciclo olímpico foi mais curto, então foi super corrido. E a gente trocou de técnico no meio do caminho. Uma coisa foi atropelando a outra. Acho que, agora, tendo os quatro anos, conseguindo planejar tudo desde o início, ajuda demais. Foi um ano muito bom", disse.
"Consegui o quarto lugar no maior campeonato de tiro com arco do mundo. Foi um resultado muito legal. E quando viemos para a temporada de outdoor, que é quando atiramos na distância olímpica, competições mais relevantes no quesito olímpico, consegui manter bons resultados, e consegui participar de todas as competições que eu queria participar".
Atualmente 31ª do ranking mundial, a atleta ainda está se acostumando ao fato de ser um nome que está ganhando destaque no cenário da modalidade e junto ao público geral. "O momento que senti isso foi logo depois das Olimpíadas de Paris. Assim que acabou a minha participação, quando voltei às redes sociais, fui ler as mensagens que estava recebendo, os comentários nas publicações relacionadas a mim, e aí foi o primeiro momento que eu sentei e falei: 'Agora, mudou. É outra coisa' Foi um momento muito legal, mas também pesou bastante".
Ana passou a entender a responsabilidade que teria dali para frente e levou o assunto à equipe com a qual trabalha, que inclui também psicóloga e assessoria de imprensa. "Passei a entender o impacto que eu poderia ter para outras pessoas. Teve uma seguidora que me acompanha e falou que tinha acabado um tratamento de um câncer, estava tentando se reencontrar, e me vendo competir começou a praticar o tiro com arco. Se apaixonou pelo esporte e está conseguindo levar uma vida muito mais saudável. Relatos como esse foram os que mais me impactaram".
"Podemos mudar a vida de alguém em diversos níveis. Usar nosso alcance para trazer o máximo de gente possível para o esporte, e não apenas pensando que alguém vai se tornar atleta de alto rendimento, é muito legal. Isso me fez enxergar como o esporte é muito mais completo do que é só o momento de competição ou só o resultado. Valorizo, óbvio, muito o resultado, mas também consigo valorizar também esses outros pontos".
O próprio caminho de Ana Luiza Caetano no esporte teve curvas. Nascida em Maricá, Rio de Janeiro, tudo começou no mar. Então velejadora, participou, inclusive, de competições internacionais.
A chegada ao tiro com arco, inicialmente, era para complementar as atividades no barco, mas a relação foi arrebatadora. E quase tão rápida quanto a trajetória da flecha do arco ao alvo foi a ascensão dela na modalidade.
"Eu comecei na vela em Niterói, que é uma cidade vizinha a Maricá. Eu dependia que meus pais tivessem a disponibilidade de me levar, eram 40 minutos até chegar lá... O meu irmão, que também velejava, tinha começado no tiro com arco em um projeto em Maricá mesmo. Eu, então, iniciei no tiro com arco por ter essa facilidade de não depender de alguém e com o intuito de auxiliar na vela. Seria algo para trazer equilíbrio, concentração... Mas, praticando, fui me apaixonando e a vela foi perdendo espaço (risos)"
Ana tinha 11 quando passou a acertar as flechas no alvo. Aos 15, começou a competir já na categoria adulta. Em um dos torneios, ela teve como adversária Kelsey Lard, esposa de Kevin Ikegami, que a observou e a convidou para um período de treinos nos Estados Unidos. O trabalho com ele permanece até hoje ?ela, inclusive, estava em terras norte-americanas quando conversou com o UOL.
"Normalmente, trabalhamos online. Nos momentos em que consigo vir até aqui trabalhar pessoalmente, temos uma evolução mais rápida porque é muito mais fácil a comunicação, ele consegue ver muito melhor a minha postura. E o tiro com arco é um esporte de muito detalhe, então, às vezes, são movimentos milimétricos que precisam ser gravados em câmera lenta e revisados várias vezes, em vários ângulos, para conseguirmos identificar essas variações entre um tiro e outro. E os Estados Unidos foram escolhidos como base também porque os próximos Jogos Olímpicos vão ser aqui"
A brasileira também teve uma experiência na Coreia do Sul, país que é referência no tiro com arco, por cinco semanas e trabalhou com Lim heesik. "Foi muito legal. Foi um momento de conhecer muito a minha postura, testar equipamentos novos, ver detalhes. A minha postura é uma mistura de todos os técnicos com quem já treinei ao longo desses anos. Então, muita coisa funcionou, outras não, mas estou me adaptando. Os coreanos são, realmente, uma potência gigantesca no esporte. Muito do que eles trazem tem a agregar, mas também preciso reconhecer a minha individualidade, o meu caminho até aqui, e encontrar um equilíbrio".
Apesar de ainda focar bastante no treino específico, de Paris para cá eu percebi o quanto tudo que envolve a minha rotina é fundamental. Então, estou priorizando muito mais a nutrição, o treino físico e o descanso. Esses detalhes fazem muita diferença.
ESCRITORA
Ana Luiza é autora de dois livros, onde compartilha experiências que viveu ainda na infância, nos tempos de velejadora. "Bons Ventos: Diário de Aventuras Iradas" foi publicado em 2013 e "Eureka" ?que transpassa também a preservação do meio ambiente e folclore? publicado em 2017. Eles tiveram a ilustração de João, irmão mais velho dela.
A atleta chegou a participar da "FLIPinha", programa infantil da Festa Literária Internacional de Paraty.
"Eu só consigo pensar se estiver escrevendo. Escrever é a forma como eu lido com o mundo. Inclusive, o meu primeiro livro veio disso. Eu escrevia todas as aventuras que eu vivia velejando com meu irmão, conhecendo esse mundo novo. Decidi publicar porque queria que a minha família entendesse como eu via as situações que estavam acontecendo. Desde pequena, escrever é a minha forma de lidar com o mundo, de aliviar um pouco todos os pensamentos", conta
"A gente que fica no campo o dia inteiro, atirando, brinca que somos nós e as vozes de nossas cabeças. Então, escrever faz parte do meu treino, é a minha forma de conseguir processar e entender tudo o que eu pensei, todos os momentos de pressão, tanto da competição quanto do treinamento. E com certeza os meus resultados no esporte estão muito alinhados com isso, conseguir processar as minhas emoções escrevendo e absorver, melhorar com elas por causa disso."
