EUA anunciam operação militar 'Lança do Sul' contra narcotráfico na América Latina

Por RENAN MARRA

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após desdobramentos do caso Jeffrey Epstein, tema considerado sensível para o presidente Donald Trump, o secretário da Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, anunciou nesta quinta-feira (13) uma operação militar para combater grupos ligados ao narcotráfico na América Latina. Ele não divulgou detalhes da iniciativa, que deverá aumentar a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro na Venezuela.

A chamada "Operação Lança do Sul" terá a participação do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA (Southcom, no acrônimo em inglês), responsável pelas ações militares americanas em uma área que abrange 31 países da América do Sul, América Central e Caribe.

Em mensagem publicada na plataforma X, Hegseth escreveu que a missão terá os objetivos de "defender a pátria, retirar narcoterroristas do hemisfério [ocidental] e proteger o país [EUA] das drogas".

"O presidente Trump ordenou a ação ?e o Departamento de Guerra está cumprindo", escreveu Hegseth na publicação, utilizando o novo nome do Pentágono. "O Hemisfério Ocidental é a vizinhança da América ?e nós o protegeremos." O regime de Maduro não tinha se pronunciado sobre o anúncio.

Embora o Departamento de Defesa não tenha divulgado detalhes, a iniciativa reforça o foco do atual governo em intensificar a presença militar na América Latina e adotar uma abordagem mais agressiva contra o narcotráfico e os grupos que Washington considera uma ameaça direta à segurança.

Os EUA vêm reforçando a presença militar na América Latina desde setembro e, na terça (11), o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald Ford, chegou à região a mando de Trump. O navio tem capacidade para carregar dezenas de aviões de combate e se desloca acompanhado de uma frota de apoio. No mesmo dia, a ditadura de Maduro anunciou mobilização massiva de forças terrestres, aéreas e navais.

O ditador é acusado pelos EUA de tráfico internacional e de corrupção, o que ele nega. Trump, por sua vez, tem justificado ataques contra embarcações próximas do território venezuelano com o argumento de combate ao narcotráfico. Pelo menos 79 pessoas foram mortas em ações do tipo. Nenhuma evidência foi apresentada de que os barcos estavam sendo usados para o transporte de drogas.

Mais cedo nesta quinta, o Pentágono anunciou que militares americanos fizeram o 20º ataque contra uma embarcação nas águas da América Latina. Segundo um funcionário da pasta, a ação ocorreu no Caribe na segunda (10) e matou quatro pessoas, todas descritas como narcoterroristas.

Outras duas pessoas que não foram identificadas ficaram feridas e foram repatriadas para seus países de origem, ainda segundo o funcionário do Pentágono.

A ofensiva tem provocado críticas até de aliados dos EUA. O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noel Barrot, afirmou na terça (11) que as ações são preocupantes porque violam o direito internacional. Na quarta (12), o secretário de Estado Marco Rubio rebateu questionamentos sobre a legalidade das operações, afirmando que países europeus "não têm o direito de ditar como Washington defende sua segurança nacional".

O anúncio da operação nesta quinta ocorreu um dia após parlamentares democratas divulgarem emails atribuídos a Jeffrey Epstein sugerindo que o atual presidente tinha ciência dos abusos sexuais que teriam sido cometidos e que passou horas com uma das vítimas.

O tema é caro à base trumpista e considerado sensível para o líder republicano, que sempre negou envolvimento nos abusos. Grupos que inclusive formam a base de apoio do presidente exigem que o Departamento de Justiça esclareça o conteúdo dos documentos e identifique envolvidos que ainda não teriam sido expostos no escândalo.