Trump tenta colher louros de fim da paralisação nos EUA, enquanto oposição racha
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "É uma honra assinar esta incrível lei e fazer com que nosso país volte a funcionar."
Com essa frase, Donald Trump encerrou, na noite desta quarta-feira (12) uma paralisação de 43 dias nos serviços federais dos Estados Unidos, causada por um impasse entre republicanos e democratas no Congresso ?a mais longa do tipo na história do país. Cercado de apoiadores no Salão Oval da Casa Branca, o presidente americano foi aplaudido enquanto exibia a assinatura do acordo que pôs fim ao shutdown.
Com isso, alguns serviços começaram a ser retomados, enquanto outros devem voltar a funcionar apenas daqui alguns dias. O programa de assistência alimentar do governo federal dos EUA, por exemplo, que atende um em cada oito americanos, estava programado para voltar à normalidade em um espaço de 24 horas após a assinatura do acordo. Já a retomada de programas de educação infantil deve levar até duas semanas.
O retorno à normalidade, porém, pode não durar muito, já que o acordo que financia os serviços do governo dura apenas até 30 de janeiro, aumentando a possibilidade de outra paralisação no início do próximo ano.
O centro do imbróglio foi o Obamacare, o seguro de saúde garantido pelo governo americano responsável por cobrir cerca de 50 milhões de pessoas que, do contrário, não teriam acesso a serviços médicos. Os subsídios que mantém o modelo atual, formulado durante a pandemia de Covid-19, vencem no final do ano, e a principal exigência dos democratas ao longo do shutdown foi a manutenção desses benefícios.
Em algum momento dos últimos dias, no entanto, o consenso dentro do partido se rompeu. Diante da recusa de Trump em chegar a um acordo bipartidário e das perdas para o país ?o diretor do Conselho Econômico Nacional, Kevin Hassett, falou nesta quinta-feira (13) em US$ 14 bilhões por semana, ou até 1,5% do PIB?, democratas no Senado resolveram recuar.
Foram eles Adam Gray, da Califórnia; Marie Gluesenkamp Perez, de Washington; Jared Golden, do Maine; Henry Cuellar, do Texas; Tom Suozzi, de Nova York; Don Davis, da Carolina do Norte; John Fetterman, da Pensilvânia; e o independente Angus King ?a maioria de distritos competitivos. "Nenhum pai ou mãe deveria ter que escolher entre alimentar seus filhos ou manter a luz acesa porque alguém em Washington acha que o caos é uma tática de negociação", afirmou Gray ao justificar sua decisão.
A deserção indignou seus colegas de partido, que agora enxergam o desgaste do último mês como uma batalha perdida, uma vez que a principal demanda ?a prorrogação do subsídio no Obamacare? não foi alcançada. O líder do partido no Senado, Chuck Schumer, enfrenta pedidos de renúncia por não ter conseguido evitar a aprovação do pacote de leis, mesmo tendo votado contra o acordo.
A tensão revela o racha que existe atualmente no Partido Democrata. Enquanto a ala mais à esquerda exige uma postura combativa em relação a Trump, os mais moderados acreditam que as ferramentas para conter o presidente são limitadas enquanto os republicanos mantiverem a maioria em ambas as Casas do Congresso.
O revés ocorre menos de dez dias depois de os democratas colherem vitórias nas eleições locais, com o êxito do socialista Zohran Mamdani para a Prefeitura de Nova York e a retomada do governo de Virginia, e um ano antes das eleições de meio de mandato, que poderiam devolver o controle do Senado ou da Câmara ao partido.
Como já era de se esperar, Trump tenta jogar a paralisação no colo dos democratas, afirmando que a população foi "muito prejudicada". "Só quero dizer ao povo americano: vocês não devem se esquecer disso", afirmou ele após assinar o acordo. "Quando chegarmos às eleições de meio de mandato e outras ocasiões, não se esqueçam do que eles fizeram com o nosso país."
Ao longo do shutdown, no entanto, Trump, que quer diminuir o número de funcionários públicos dos EUA de 2,2 milhões para 300 mil até o final do ano, tentou demitir milhares de servidores e entrou na Justiça para não financiar o programa de assistência alimentar.
Enquanto o governo argumenta que a paralisação causou danos desnecessários ?um raciocínio que os democratas já haviam usado em 2013 e 2019, quando os republicanos forçaram paralisações por questões de saúde e imigração?, a oposição tenta marcar posição com a pauta popular que encampou.
De acordo com uma pesquisa de junho da fundação KFF, três em cada quatro adultos nos EUA apoiavam a extensão da política ?incluindo 91% dos democratas, 80% dos independentes e 63% dos republicanos.
"A saúde do povo americano é uma luta que vale a pena travar, e tenho orgulho de que os democratas tenham se mantido unidos por tanto tempo para lutar essa batalha", disse o deputado Hank Johnson, da Geórgia, à Reuters. "O povo americano está mais consciente da importância disso."
Apesar do tom triunfante de ambos os lados, uma pesquisa da agência de notícias Reuters em parceria com o Instituto Ipsos divulgada na quarta revelou que, talvez, nenhum partido tenha saído vitorioso. De acordo com o levantamento, 50% dos americanos culpam os republicanos pela paralisação do governo, enquanto 47% culpam os democratas.
