Investigação aponta que secretário de Defesa dos EUA colocou militares em risco ao usar aplicativo de mensagens
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um relatório do inspetor-geral interino do Pentágono concluiu que o uso de um aplicativo de mensagens pelo secretário de Defesa, Pete Hegseth, para discutir ataques aéreos de forças americanas no Iêmen, no início do ano, colocou em risco soldados dos Estados Unidos.
O documento examinou a participação de Hegseth em um grupo no aplicativo de mensagens Signal com vários outros altos funcionários do governo Trump. A conversa se tornou pública porque um jornalista foi adicionado por engano ao chat.
"O secretário enviou informação não pública do Departamento de Defesa que identificava a quantidade e os horários de ataque de aeronaves tripuladas americanas sobre território hostil através de uma rede não aprovada e não segura", informou o gabinete do inspetor-geral no relatório.
A investigação interna do Pentágono determinou que o uso do aplicativo por Hegseth arriscou comprometer informações do Departamento de Defesa, "o que poderia causar dano ao pessoal do departamento e aos objetivos da missão" se tivessem sido divulgadas a um adversário estrangeiro.
O documento também afirmou que Hegseth se recusou a conceder uma entrevista ao inspetor-geral sobre o assunto e, em vez disso, forneceu uma breve declaração por escrito.
O chefe do Pentágono negou que dados comprometedores tenham sido divulgados através do Signal. As conclusões da investigação constituem "uma exoneração TOTAL" do secretário, escreveu no X seu porta-voz na noite desta quarta. "Isto demonstra o que sabíamos desde o início: nenhuma informação classificada como secreta foi compartilhada", acrescentou Sean Parnell, assegurando que "o assunto está encerrado".
Em março, Michael Waltz, então conselheiro de segurança nacional, adicionou por engano Jeffrey Goldberg, editor-chefe da revista The Atlantic, a um chat no aplicativo Signal que incluía o vice-presidente, J. D. Vance, o secretário de Estado, Marco Rubio, e o assessor da Casa Branca Stephen Miller. O secretário de Defesa transmitiu um cronograma detalhado de ataques aéreos contra houthis e infraestrutura no Iêmen apenas duas horas antes que as primeiras bombas começassem a cair em 15 de março.
Essa campanha aérea, que o Pentágono chamou de Operação Rough Rider, durou cerca de seis semanas, com os EUA atacando mais de 800 alvos no Iêmen com aproximadamente US$ 1,5 bilhão em munições.
O escritório do inspetor-geral anunciou que revisaria o uso do Signal por Hegseth em 3 de abril. Mais tarde naquele mês, foi revelado que ele havia compartilhado informações sensíveis em um segundo grupo de chat do Signal que incluía sua esposa, irmão e advogado pessoal.
O escritório do inspetor-geral é liderado por Steven A. Stebbins, que assumiu interinamente após o presidente Donald Trump demitir seu antecessor, Robert P. Storch, como parte de um expurgo de inspetores-gerais no Poder Executivo apenas quatro dias após Trump assumir o cargo em janeiro.
A investigação não disse se o uso do aplicativo foi mais extenso ou se informações sensíveis adicionais foram compartilhadas com indivíduos não autorizados.
O relatório também não abordou se alguma das informações era confidencial no momento em que foi compartilhada. Observou, no entanto, que Hegseth tem "autoridade de classificação original" como parte de seu papel como secretário de Defesa e não avaliou se ele buscou adequadamente desclassificar informações antes de discuti-las na plataforma de mensagens não autorizada.
Os investigadores também determinaram que nem todas as mensagens foram devidamente preservadas em conformidade com a Lei Federal de Registros e, em vez disso, dependeram fortemente de detalhes publicamente disponíveis sobre as trocas.
A divulgação do relatório encerra uma semana difícil para Hegseth, que tem recebido críticas em conexão com uma série de ataques aéreos em 2 de setembro lançados pelo Comando de Operações Especiais Conjuntas contra uma embarcação no Caribe que o Pentágono disse estar contrabandeando drogas.
