Merz evita novo fiasco e aprova reforma previdenciária na Alemanha

Por JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) - O primeiro-ministro da Alemanha, Friedrich Merz, obteve vitória apertada e importante no Parlamento nesta sexta-feira (5), em Berlim, ao conseguir aprovar polêmica reforma previdenciária, que estende um piso para aposentadorias do país até 2031.

A ala jovem de seu próprio partido, a CDU, havia ameaçado não apoiar o projeto, alegando que as gerações futuras seriam oneradas em ? 120 milhões nos próximos anos. Após intensas negociações, o pacote acabou aprovado por 319, menos do que os 328 votos potenciais da coalizão de governo, que conta ainda com os sociais-democratas do SPD.

Não é a primeira vez que Merz sofre com fogo amigo. Em maio, seu nome como primeiro-ministro só foi aprovado em segunda votação, um constrangimento inédito no Bundestag.

O grupo rebelde de 18 deputados, liderados Johannes Volkmann, neto de Helmut Kohl, premiê da Alemanha de 1982 a 1998 e figura histórica da política alemã, expressou sua insatisfação com o projeto até o debate prévio à votação no Bundestag, na manhã desta sexta.

A dissidência movimentou empresários e sindicatos de trabalhadores nas últimas semanas. Para economistas, o sistema atual não é sustentável e ainda entrega uma das mais baixas pensões entre os países europeus, segundo levantamento da OCDE.

"A mudança demográfica não espera pelas próximas eleições", declarou Pascal Reddig, um dos parlamentares que mais instigou a revolta. O custo do pacote de pensões paralisará o Orçamento federal, segundo as contas apresentadas pelo grupo, risco que o governo nega.

Outro ponto de constrangimento para Merz foi o anúncio do partido A Esquerda de que orientaria a abstenção a seus parlamentares, diminuindo assim a necessidade de votos da própria coalizão. "Trata-se da vida de 21 milhões de pensionistas. Se este pacote não for aprovado, eles ficarão em pior situação, terão menos dinheiro", disse a líder da legenda, Heidi Reichinnek.

Precisar do grupo de oposição para aprovar o projeto faria o premiê engolir as próprias palavras. Em mais de uma oportunidade, Merz comparou A Esquerda com o AfD, o partido considerado de extrema direita pelos serviços de segurança do governo alemão.

A votação evidencia a fragilidade da coalizão de governo, que, após seis meses, ainda não conseguiu aparar as arestas entre conservadores e sociais-democratas.