María Corina Machado não vai se exilar, diz ex-chefe de campanha um dia antes de entrega do Nobel

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A líder opositora da Venezuela, María Corina Machado, não contempla o exílio, disse sua ex-chefe de campanha nesta terça-feira (9), um dia antes da cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz deste ano em Oslo, na Noruega.

A declaração ocorre após as dúvidas sobre a presença da política na cerimônia se multiplicarem com o cancelamento de uma entrevista coletiva que deveria ocorrer na capital norueguesa.

"Como vamos pensar que María Corina não vai retornar e vai ficar no exílio? Isso não existe", disse Magalli Meda em uma declaração divulgada nas redes sociais. "Isso é como dizer a uma mãe que vai deixar de amar seus filhos."

Meda passou mais de um ano, entre março de 2024 e maio de 2025, refugiada na embaixada da Argentina com outros opositores para evitar ser presa antes de escapar em uma fuga cujos detalhes permanecem em segredo.

María Corina, por sua vez, permaneceu no país, mas seu paradeiro é desconhecido -a opositora de 58 anos não é vista em público desde janeiro. Dezenas de venezuelanos no exílio viajaram para a capital norueguesa para acompanhá-la.

A entrevista coletiva, inicialmente marcada para as 13h (horário local) desta quarta-feira (10), chegou a ser adiada para um horário indefinido antes de ser oficialmente cancelada. Em comunicado, o Instituto Nobel escreveu que María Corina tem lidado com desafios para conseguir chegar à Noruega. Por isso, a organização disse não poder fornecer informações sobre quando ou como ela participaria da cerimônia.

O órgão havia anunciado no fim de semana a presença da venezuelana para receber o prêmio, que inclui uma medalha de ouro, um diploma e US$ 1,2 milhão (R$ 6,5 milhões).

O ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, disse nesta segunda desconhecer detalhes sobre a viagem a Oslo da opositora.

María Corina foi proibida de viajar pelo regime de Nicolás Maduro. Em novembro, o procurador-geral venezuelano disse à agência de notícias AFP que ela seria considerada foragida caso deixasse o país.

A entrega do prêmio está marcada para esta quarta no prédio da prefeitura de Oslo com a presença do rei Harald, da rainha Sonja e de pelo menos quatro presidentes latino-americanos, entre os quais o argentino, Javier Milei, e o equatoriano, Daniel Noboa.

María Corina recebeu o Nobel da Paz em 10 de outubro "por seu incansável trabalho em favor dos direitos democráticos do povo venezuelano e por sua luta por uma transição justa e pacífica da ditadura à democracia" no país, segundo a organização.

A opositora mantém proximidade com setores alinhados ao presidente dos EUA, Donald Trump, que acusam Maduro de envolvimento com organizações criminosas que representariam ameaça direta à segurança nacional americana -posição questionada por setores da inteligência de Washington. Ao receber o anúncio da premiação, em outubro, ela dedicou parte do reconhecimento a Trump.

María Corina venceu com ampla margem as primárias da oposição para a eleição presidencial de 2024, mas foi impedida de concorrer. Após o pleito contestado, que resultou na declaração oficial da vitória de Maduro, ela entrou na clandestinidade em agosto, quando o regime intensificou as prisões de opositores.

A entrega do Nobel coincide com a mobilização militar dos EUA no Caribe e no Pacífico, onde mais de 80 pessoas foram mortas em ataques americanos contra embarcações usadas, segundo Washington, para o transporte de drogas.

Os EUA dizem que as ofensivas, iniciadas em agosto, fazem parte de operações contra o narcotráfico, mas especialistas questionam a legalidade desses ataques, e Maduro insiste que o objetivo é derrubá-lo e se apoderar das riquezas da Venezuela, rica em petróleo.