Greve geral paralisa Portugal contra reforma trabalhista proposta por premiê

Por JOÃO GABRIEL DE LIMA

LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) - Portugal amanheceu nesta quinta-feira (11) sem trens, sem escolas, com hospitais trabalhando em regime restrito e vários voos cancelados nos aeroportos. Desde julho de 2013 não havia uma greve geral como esta, que foi convocada pelas duas principais centrais sindicais do país ?a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) e a União Geral dos Trabalhadores (UGT).

O motivo da paralisação é a reforma trabalhista proposta pelo governo de centro-direita de Luís Montenegro. Se aprovada, a nova lei diminuirá restrições a demissões, facilitará a contratação temporária, revogará artigos que dificultam a terceirização e adequará Portugal às diretrizes europeias de trabalho digital remoto.

Para o governo, as medidas são fundamentais para aumentar a produtividade e turbinar o crescimento econômico. Para os trabalhadores, a nova lei irá normalizar o trabalho precário, enfraquecer os sindicatos e achatar os salários.

A greve atingiu também fábricas e teve adesão de operários pelo país inteiro. Em Lisboa, algumas lojas e restaurantes funcionaram normalmente, ainda que com menos funcionários ?o que levou o governo a afirmar que a paralisação havia ficado restrita aos serviços públicos.

"O governo está tentando minimizar o impacto da greve para seguir com sua agenda política, mas os trabalhadores certamente irão resistir", disse Tiago Oliveira, secretário geral da CGTP, à agência Reuters.

A paralisação coincidiu com a semana em que a revista britânica The Economist escolheu Portugal como "a economia do ano", com crescimento de 2,4%, acima da média europeia, e desemprego praticamente inexistente. O governo comemorou. Os economistas foram mais céticos.

"Portugal está num ponto conjuntural favorável, um porto seguro de resiliência econômica num mundo que não está indo tão bem", disse à Folha o economista João Duarte, professor na Nova School of Business and Economics de Lisboa. "Isso não significa que o país tenha se tornado uma terra de oportunidades ou que haja um potencial de crescimento no longo prazo."

De acordo com Duarte, cerca de metade da expansão econômica ?prevista para se repetir em 2026? se deve aos fundos europeus do Plano de Resiliência e Recuperação, o PRR criado na época da pandemia. Só agora Portugal vem conseguindo executar os projetos aprovados pela União Europeia. Em 2027, no entanto, o efeito do subsídio pode acabar.

O pleno emprego esconde uma realidade amarga. Os salários em Portugal estão entre os mais baixos da União Europeia. Parte da classe média está se mudando de cidades caras como Lisboa, por incapacidade de arcar com os alugueis cada vez mais altos.

Portugal sofre com a evasão de mão de obra qualificada. Cerca de 30% dos jovens portugueses emigram em busca de melhores salários em outros países da União Europeia.

Para Montenegro, a reforma trabalhista, ao facilitar demissões, abrirá novas vagas para jovens. Para as centrais sindicais que convocaram a greve geral, a falta de garantias aos trabalhadores fará com que os salários se deteriorem ainda mais.