Apoiado por Trump, Asfura vence em Honduras, em giro do país à direita

Por DOUGLAS GAVRAS E MANOELLA SMITH

BUENOS AIRES, ARGENTINA, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os hondurenhos deram uma nova guinada à direita, elegendo à Presidência Nasry Asfura, ex-prefeito de Tegucigalpa, opositor conservador e que contou com um apoio de peso: o do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Asfura vencedor nesta quarta-feira (24), quase um mês após a votação, realizada em 30 de novembro, por causa de um processo de revisão de milhares de atas de votação com supostas irregularidades. O atraso e o caótico processo de divulgação geraram protestos no país e acusações de fraude.

Com 99,2% das urnas apuradas, o plenário do órgão eleitoral aprovou na noite de terça-feira (23) um relatório que propõe declarar o vencedor do pleito "com os dados que até este momento estão disponíveis".

De acordo com dados divulgados pela autoridade eleitoral, Asfura, do Partido Nacional, recebeu 40,3% dos votos, vencendo o apresentador de televisão Salvador Nasralla, do Partido Liberal (39,5% dos votos), por uma vantagem de menos de um ponto percentual. A governista Rixi Moncada, do Liberdade e Refundação, ficou em terceiro.

Também concorreram na eleição, de turno único, o ex-assessor presidencial Nelson Ávila (Partido de Inovação e Unidade Social-Democrata) e o apresentador Mario Enrique Rivera Callejas (Partido Democrata Cristão).

O CNE tem prazo até 30 de dezembro para proclamar o novo mandatário e ainda está pendente a revisão de cerca de 600 atas com inconsistências. A resolução, que foi aprovada por dois dos três conselheiros, rejeitou várias impugnações, o que abre caminho para a designação de um vencedor.

O CNE encontra-se dividido por disputas políticas, uma vez que os três principais partidos repartem o controle do órgão e do tribunal eleitoral. "Não devo nem posso participar de um ato ilícito. Aqui se consumará um golpe de Estado eleitoral", afirmou o conselheiro Marlon Ochoa, representante da esquerda governista, o único a cotar contra a resolução.

Segundo Ochoa, ainda precisam ser analisadas 288 impugnações, nulidades e recursos. Ele fez uma denúncia ao Ministério Público.

O segundo colocado Nasralla afirmou que não aceitará a procla mação do resultado sem que todas as urnas sejam apuradas e as atas com supostas irregularidades, revistas. "Não aceito a proclamação [...]. Estão impedindo a contagem voto por voto", disse ele em um vídeo divulgado em suas redes sociais.

Neste mês, uma comissão do Congresso já havia declarado que pretende rejeitar os resultados, sob o argumento de que houve "golpe eleitoral", acusando Trump de interferência no pleito.

Um relatório da missão eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) no país constatou atrasos e "falta de perícia", mas descartou indícios de fraudes em um relatório divulgado no último dia 15.

O vencedor Asfura, 67, concorria pela segunda vez ao palácio José Cecilio del Valle, após perder para a atual presidente, Xiomara Castro, há quatro anos. Conhecido como Tito e com raízes palestinas, ele foi prefeito da capital hondurenha de 2014 a 2022. Seu mandato no comando da cidade foi marcado pela construção de obras de infraestruturas na cidade, mas também por acusações de desvio de fundos públicos.

Em sua campanha, ele prometeu "trabalho e mais trabalho" para a população, fez elogios ao programa econômico do argentino Javier Milei e disse se inspirar na política de segurança linha-dura de Nayib Bukele, de El Salvador.

Trump não só apoiou o candidato como concedeu indulto ao ex-presidente de Honduras Juan Orlando Hernández, aliado de Asfura, que tinha sido condenado a 45 anos de prisão por tráfico de cocaína para os EUA. .

Trump também tinha reforçado a ameaça de cortar ajuda a Honduras se Asfura não vencesse. O apoio incluiu críticas à governista Moncada, que o americano chamou de "comunista", e a Nasralla, que ele classificou como "quase comunista".

A influência do republicano na política local pesou em um país que depende economicamente dos EUA e com 60% da população vivendo na pobreza. Os eleitores reforçaram os atuais movimentos da Casa Branca de apoiar líderes da América Latina que estejam alinhados com seus objetivos e punindo os que não seguem esse caminho.

A questão dos imigrantes hondurenhos nos Estados Unidos era um ponto sensível nesse xadrez internacional. Em um primeiro momento, o atual governo bateu de frente com Trump, ameaçando rever a presença de militares americanos em seu território, caso o presidente dos EUA insistisse na deportação de cidadãos do país. Depois, Tegucigalpa acabou cedendo e ofereceu apoio aos deportados.

Em uma entrevista dada antes das eleições, o futuro presidente comemorou o apoio recebido de Trump, afirmando que essa aproximação poderá trazer "benefícios" para imigrantes hondurenhos e para a economia do país, de forma geral.

"Hoje estamos em um dia muito importante para Honduras, onde precisamos defender a democracia, a liberdade e viver em paz, que é o que cada um de nós deseja", disse Asfura mais cedo, ao votar.

A polarização em Honduras se consolidou a partir do golpe de 2009 que depôs Manuel Zelaya, marido de Xiomara Castro. Moncada classificava seus adversários como "oligarcas do golpe", enquanto eles a chamavam de aliada "comunista" da Venezuela.

Ao longo da campanha, os candidatos se concentraram em ataques mútuos, sem abordar as preocupações dos hondurenhos, como pobreza e violência. Ambos os lados alertaram sobre supostos planos de alterar os resultados.

Além de terem escolhido o presidente que governará o país de 2026 a 2030, os hondurenhos votaram em prefeitos, representantes para o Parlamento Centro-Americano e renovaram as 128 vagas deputados para o Congresso Nacional (que é unicameral).