Campanha de Bolsonaro manterá ataques a Lula no 2º turno e comemora desidratação de Ciro

Por MARIANNA HOLANDA E MATHEUS TEIXEIRA

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Jair Bolsonaro (PL) começa o segundo turno atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas fortalecido por um desempenho bem superior ao indicado pelos principais institutos de pesquisa.

A campanha diz que Bolsonaro deve redobrar os ataques ao rival, para incendiar o antipetismo, aumentar a rejeição de Lula e tentar, assim, herdar a maioria dos votos de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT).

Com 99,36% das urnas apuradas, Lula marcava 48,28% dos votos válidos, contra 43,33% de Bolsonaro.

Aliados do presidente planejam uma reunião nos próximos dias para bater o martelo sobre qual será a estratégia no segundo turno. Algumas linhas gerais, no entanto, já foram desenhadas por assessores.

Oficialmente, bolsonaristas sabem que não poderão contar com o apoio oficial de Tebet e Ciro. Mas a avaliação é a de que grande parte desses eleitores rejeita o PT e, por isso, tende a votar em Bolsonaro.

O diagnóstico é que os votos da senadora serão mais fáceis de atrair, uma vez que Ciro tem um perfil mais à esquerda. No entanto, como o pedetista fez uma campanha marcada por críticas a Lula, o entorno do presidente afirma acreditar que também conseguirá conquistar ao menos uma parcela desses eleitores.

Um aliado celebrou ainda o fato de Ciro ter desidratado na reta final da campanha --justamente por seu eleitor ser visto como mais pró-Lula. Outro fator comemorado foi o desempenho de Bolsonaro em estados-chave, como São Paulo e Minas Gerais, grandes colégios eleitorais. Também destacaram que, no segundo turno, haverá paridade de tempo no rádio e na TV entre presidente e ex-presidente.

Um outro aliado destacou que o discurso que associa Lula à corrupção está surtindo efeito e que, no segundo turno, Bolsonaro deve equilibrar esses ataques com argumentos de que a economia tem ido bem --com destaque para medidas como o Auxílio Brasil e a redução do preço dos combustíveis.

Apesar de o discurso oficial ser o de que Bolsonaro seria reeleito no primeiro turno, assessores já davam como certo que o pleito seria decidido em duas rodadas. Mesmo que Bolsonaro tenha conquistado menos votos que Lula, a campanha comemorou nos bastidores o resultado divulgado neste domingo, uma vez que a diferença entre os dois candidatos ficou abaixo do apontado por institutos de pesquisas.

Assim, Bolsonaro deve insistir na tese chamada por aliados de "Datapovo", em que os institutos de pesquisa são desacreditados, uma narrativa que deve ser ampliada ainda mais, assim como o discurso de que o presidente é perseguido pelos veículos tradicionais da imprensa e até mesmo por outras instituições, devido aos enfrentamentos protagonizados com o STF (Supremo Tribunal Federal).

O entorno do chefe do Executivo também celebrou a vitória expressiva de bolsonaristas nos estados, como um sinal de força dele. Citam, por exemplo, as eleições de Damares Alves (Republicanos), Cleitinho (PSC) e Marcos Pontes (PL) ao Senado por Distrito Federal, Minas Gerais e São Paulo, respectivamente.

Além, claro, da liderança de Tarcísio de Freitas (Republicanos) na disputa pelo Governo de São Paulo.

Outros nomes foram impulsionados pela onda bolsonarista no Senado: Hamilton Mourão (Republicanos) foi eleito no Rio Grande do Sul, Magno Malta (PL) no Espírito Santo e Jorge Seif (PL) em Santa Catarina. Outro sintoma da força de Bolsonaro apontada por aliados é a expressiva votação de nomes como Nikolas Ferreira (PL-MG) e Bia Kicis (PL-DF) para a Câmara, recordistas em suas unidades da federação.

O presidente votou neste domingo (2) pela manhã na Escola Municipal Rosa da Fonseca, na Vila Militar, zona oeste do Rio de Janeiro. Ele não respondeu se aceitaria os resultados das eleições. Depois, seguiu para Brasília, onde acompanhou a apuração dos votos no Palácio da Alvorada ao lado de sua família.

Questionado se reconheceria o resultado do pleito, não respondeu. "Com eleições limpas, sem problema nenhum, que vença o melhor", disse, antes de votar. Após deixar a cabine de votação, repetiu o mote. "Então está tranquilo. Em primeiro turno. E eleições limpas têm que ser respeitadas."

Bolsonaro fez uma campanha com repetidos ataques ao sistema eleitoral, que sempre colocou sob dúvidas. Segundo o Painel, sua campanha reúne episódios que mostrariam uma suposta parcialidade do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra o presidente durante o primeiro turno, o que poderia servir de base para a contestação do resultado, em caso de derrota. Há a possibilidade de uma ação nos próximos dias.