Lula afaga Padilha após pressão da Câmara, e ministro diz que não comenta fofoca

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Lula (PT) elogiou nesta sexta-feira (22) o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), após insatisfação da cúpula da Câmara dos Deputados com a atuação do titular da pasta responsável pela articulação política.

O presidente afirmou que Padilha é responsável pela "relação difícil" do governo com o Congresso Nacional, em que a maioria dos parlamentares não integra a base de Lula. O ministro, por sua vez, classificou as notícias como "fofoca" e disse que não iria comentá-las.

"O companheiro Alexandre Padilha, vocês conhecem, sabem que foi extraordinário ministro da Saúde, extraordinário ministro das relações políticas no primeiro mandato e foi escolhido para mim para manter a relação com o Congresso Nacional, uma relação difícil", disse Lula.

"É importante vocês lembrarem que o PT só tem 50 deputados de 513, PCdoB tem um pouquinho, PSB tem um pouquinho, PDT tem um pouquinho. A esquerda toda não deve ter 130 deputados de 513. Então vocês têm que compreender a capacidade que temos que ter de negociar para aprovar qualquer coisa", completou.

A declaração foi dada durante Natal dos Catadores, Catadoras e População em Situação de Rua, realizado no estádio Mané Garrincha, em Brasília.

Horas depois, no Palácio do Planalto, Padilha disse a jornalistas estar contente com a aprovação de medidas no final do ano Legislativo e disse que não comentaria "fofoca".

"Primeiro que eu não comento aquilo que não é dito diretamente a mim ou ao presidente Lula, ou em on [declarações com autor definido]. Eu não vou entrar em comentários de matérias em off [feitas sob anonimato], em comentários em off, de fofocas que são feitas pela imprensa", afirmou o ministro.

"Eu tenho uma relação de profundo respeito com todos os deputados e senadores, em especial com os presidentes das duas Casas, respeito institucional, com os líderes, dialogo permanentemente", completou.

Padilha ainda afirmou ter conversado com Lula durante a confraternização de fim de ano, na Granja do Torto, que notou que seu ministro estava feliz. Disse ter respondido que estava contente com a aprovação da pauta do governo e acrescentou "estou muito feliz onde estou", em referência ao seu cargo.

Assim como em outros momentos em que esteve sob pressão, o ministro também repetiu aos jornalistas que é um político experimentado, que já foi responsável pela articulação política de outros governos. Por isso costuma "deixar o fígado na geladeira" ao sair de casa. E também acrescentou em tom de brincadeira que está com a "terapia em dia".

A articulação do Executivo na Câmara e no Senado tem sido alvo frequente de queixas dos parlamentares desde o início do mandato do petista, em especial daqueles que integram o centrão.

Líderes desses partidos dizem que se Lula quiser azeitar sua base de apoio no Congresso para 2024, será necessário fazer trocas no governo.

Já do lado petista na Câmara, o discurso de bastidores é que boa parte das insatisfações decorre do fato de o centrão ter perdido a gerência exclusiva da distribuição de emendas e verbas que tinha sob Jair Bolsonaro (PL).

Apesar de trocas na Esplanada que garantiram a entrada de representantes do centrão no governo, o Executivo ainda não tem uma base de apoio sólida.

Segundo relatos, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), levou essa reclamação sobre Padilha ao próprio Lula em encontro recente com o petista.

A insatisfação gira em torno, principalmente, de falta de traquejo nas negociações políticas e do não cumprimento de acordos que teriam sido firmados. A atuação de Padilha na negociação da reforma ministerial, que se arrastou de julho a setembro, também foi bastante criticada por parlamentares.

Segundo eles, essa não é uma avaliação isolada de Lira. Também há críticas à atuação dos líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Nesta semana, Lula fez uma fala durante reunião com ministros de seu governo elogiando os articuladores do Planalto no Congresso e tratando das negociações políticas que tiveram êxito neste ano--ele falou do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), mas não citou Padilha nominalmente.

Integrantes do Palácio do Planalto, contudo, negam que haja uma insatisfação do presidente com a atuação de Padilha, apesar de reconhecerem a pressão da Câmara.