Direção do PT defende Ministério da Segurança Pública e ignora Flávio
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A direção do PT decidiu defender a criação de um Ministério da Segurança Pública, desmembrado da pasta da Justiça, sob a justificativa de que o tema se tornou uma questão nacional incontornável.
Em resolução que deve ser divulgada nesta segunda-feira (8), o partido do presidente Lula também ignora o lançamento da pré-candidatura ao Planalto do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e trata o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), como o principal interlocutor de um "projeto neoliberal e privatista".
O diretório nacional do PT se reuniu no sábado (6) para discutir um documento que faz uma ampla análise da conjuntura político-econômica do país e que serve como guia para posicionamentos de filiados à legenda.
O peso dado à segurança pública se deve ao fato de o assunto ter virado um mote da direita para a eleição de 2026 e aberto um flanco de desgaste para o governo Lula.
De tão delicado, o tema passou por diferentes tratamentos nas discussões do diretório. Versão preliminar da corrente majoritária CNB (Construindo um Novo Brasil), da qual Lula faz parte, era enfática ao propor a criação de um ministério.
Uma segunda versão excluiu a proposta de desmembramento da Justiça, hoje chefiada pelo ministro Ricardo Lewandowski.
Na versão final, a criação do Ministério da Segurança Pública foi reintroduzida, ainda que como uma das conclusões de um seminário realizado pelo PT sobre o tema no Rio de Janeiro.
"O PT reafirmou que o Brasil precisa de um Ministério da Segurança Pública e uma política de segurança nacional articulada, com foco em inteligência, combate financeiro ao crime e proteção das comunidades", diz o texto final.
"A segurança pública se tornou uma questão nacional incontornável. O crime organizado avança, ocupando cidades e estados inteiros e substituindo funções do Estado. A PEC da Segurança Pública, o PL Antifacção, as operações Carbono Oculto e Poço de Lobato são exemplos de proposições e ações concretas e efetivas do governo federal."
A resolução acrescenta que "o enfrentamento ao discurso da direita, baseado em ações de repressão fracassadas e com alto índice de letalidade, é também um passo necessário".
A direção petista ignorou, na resolução recém-aprovada, as pretensões presidenciais de Flávio Bolsonaro, que se lançou como o nome bolsonarista ao Planalto na sexta-feira (5). A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado foi tratada pela direção petista como "uma vitória da democracia".
Apesar de não citar Flávio diretamente, a resolução argumenta que a prisão do ex-presidente "abre disputas internas por hegemonia e expõe a crise moral e política do bolsonarismo".
O texto diz ainda que a oposição segue articulada e que setores da direita, especialmente governadores, atuam para sabotar políticas de Lula. Para o PT, Tarcísio "se destaca como principal interlocutor do projeto neoliberal e privatista". A primeira versão afirmava que o projeto do governador era de "inspiração fascista" ?a expressão acabou suprimida.
Ao apontar os desafios do partido de Lula, a resolução diz que a relação entre o Executivo e o Legislativo vive momentos tensos e é marcada por "uma instabilidade produzida deliberadamente pelos setores da direita, extrema direita, conservadores e setores fisiológicos que controlam o Congresso, se apropriam do orçamento do executivo, com extorsão e esvaziam o presidencialismo".
Na crítica ao Congresso, o documento diz que "o sequestro do orçamento público por meio das emendas parlamentares transformou-se em um dos principais fatores de instabilidade institucional e corrosão da democracia brasileira."
Na quinta-feira (4), Lula criticou o volume de emendas parlamentares impositivas, associou-as a um sequestro do orçamento e a um "grave erro histórico".
O texto do PT diz ainda que "na disputa política e cultural, a comunicação e a soberania digital assumem papel estratégico". "A regulação das big techs, o empoderamento das redes progressistas" são destacados como "condições decisivas para disputar corações e mentes, bloquear a desinformação e proteger o processo eleitoral".
Ao falar do pleito de 2026, o documento diz ainda que "não haverá eleição sem interferência externa, como já ocorreu com o tarifaço e com a pressão norte-americana pela não regulação das big techs, incluindo ameaças inaceitáveis contra ministros da Suprema Corte e membros do governo".
Em sua versão final, o PT excluiu uma autocrítica que constava em uma das primeiras versões da corrente encabeçada por Lula. Um esboço debatido pela CNB afirmava que o PT precisava "superar suas debilidades nas redes sociais e nas ruas". Esse trecho acabou suprimido.