Fachin defende código de ética com diálogo após resistências de ministros do STF
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Edson Fachin, afirmou nesta quinta-feira (19) que "o diálogo será o compasso" da criação de um código de ética da magistratura, em um momento de resistência de colegas a respeito da iniciativa.
A menção foi feita no discurso de encerramento do ano do Judiciário, em sessão do plenário da corte. Fachin falou sobre transparência e a necessidade de "vigilância institucional, responsabilidade decisória e permanente atenção à legitimidade das cortes" antes de entrar no tema do código.
"Não poderia, nessa direção, deixar de fazer referência à proposta, ainda em gestação, de debatermos um conjunto de diretrizes éticas para a magistratura", afirmou o presidente do Supremo.
"Considerando o corpo expressivo que vem espontaneamente tomando o tema no debate público, dirijo-me à eminente ministra [Cármen Lúcia] e aos eminentes ministros, e, também, à sociedade brasileira, para dizer que o diálogo será o compasso desse debate."
Fachin disse ainda que o país precisa de paz e que "o Judiciário tem o dever de semear paz", mas "sem ignorar o dissenso, que é elemento vital da democracia".
"Divergências fundamentadas enriquecem o trabalho jurisdicional, aperfeiçoam a técnica e reforçam a legitimidade das decisões. O diálogo qualificado é instrumento de maturidade republicana", afirmou.
Ele colocou a elaboração dessas normas como um dos assuntos prioritários para 2026.
A proposta do presidente pelo código de ética levou a críticas internas de ministros, mesmo antes de ser formalizada.
Uma ala do tribunal questionou o momento de essas normas serem discutidas publicamente, durante uma crise do Supremo com o Congresso Nacional.
Fachin tem apostado no fortalecimento de um debate público sobre transparência para tentar reduzir resistências internas e convencer os demais ministros a aprovarem um código de ética na corte.
O modelo que serve como inspiração para o código que Fachin deseja aprovar no Supremo é o da Alemanha, que privilegia a transparência. O ministro deu preferência a ela em detrimento de outros códigos europeus que dão ênfase às proibições, segundo pessoas que acompanham as discussões sobre o tema.
Esse enfoque ajuda a evitar que ministros insatisfeitos critiquem a iniciativa de forma pública.
Segundo um integrante de tribunal superior, nenhum ministro vai se opor publicamente à divulgação de valores recebidos em palestras ou quem bancou uma viagem à Europa.
Um dos motivos é que o próprio STF tem cobrado transparência do Legislativo, em especial na execução das emendas parlamentares, do Executivo e das empresas.
No discurso desta sexta, Fachin usou uma frase do filósofo político Norberto Bobbio para defender a transparência. O ministro disse que "a legitimidade democrática das instituições depende da publicidade dos atos do poder e da possibilidade de controle por parte da cidadania".
"A transparência, portanto, não é um atributo acessório, mas um elemento constitutivo do Estado democrático de Direito."
Ao elencar as prioridades do próximo ano, Fachin listou, além do código de ética, a discussão sobre remuneração da magistratura e o aprofundamento da colegialidade de julgamentos.
"Reiteremos: transparência é a chave quanto às modalidades de remuneração. Nosso respeito intransigente à dignidade e valorização da carreira, irá na mesma medida conter abusos", disse o ministro.
Ele também defendeu a atuação por direitos humanos, compromisso com segurança jurídica, transparência e sustentabilidade.
Também fez um desagravo ao ministro Alexandre de Moraes, que foi alvo de sanções financeiras dos Estados Unidos, retiradas no último dia 12.
"Que esta corte jamais se dobre a ameaças, venham de onde vier. Registrando, portanto, ao final deste ano, o levantamento da injusta e inadmissível aplicação da Lei Magnitsky à sua excelência o ministro Alexandre de Mores e seus familiares", disse Fachin.
