Bolsonaro deixa prisão para passar por cirurgia e é internado em hospital em Brasília

Por LUCAS MARCHESINI E CAIO SPECHOTO

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deixou na manhã desta quarta-feira (24) a Superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde cumpre pena de prisão por tentativa de golpe de Estado, e deu entrada no hospital DF Star, onde ficará internado para uma cirurgia nesta quinta-feira (25), dia do Natal.

Bolsonaro saiu pelos fundos da unidade da PF e, por volta das 9h30, foi escoltado por um comboio até o hospital, em um trajeto que durou cerca de cinco minutos.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), autorizou a realização do procedimento para correção de hérnia inguinal bilateral e concordou com a data solicitada pela defesa do ex-presidente.

Hérnia inguinal é uma condição em que um tecido do abdômen incha e faz aparecer uma protuberância na região da virilha. Além da cirurgia de correção da hérnia, os médicos avaliam submeter Bolsonaro a um procedimento anestésico, com bloqueio do nervo frênico, para controlar as crises de soluço, no começo da próxima semana.

"Depois dessa cirurgia de hérnia a gente vai reavaliar essa situação e ver se convém fazer esse bloqueio anestésico, que é um procedimento relativamente seguro, mas que não é o padrão para o tratamento de soluço. Precisa ver realmente se isso justifica o benefício, o risco", disse o cirurgião Claudio Birolini.

Segundo ele, a cirurgia de hérnia tem algum grau de complexidade, mas baixo índice de morbidade. Ela deve durar de 3 a 4 horas, e a previsão é que Bolsonaro fique internado entre cinco e sete dias, a depender da evolução do quadro.

Informações sobre o tratamento do ex-presidente foram oficializadas em boletim médico divulgado pouco depois da declaração dos integrantes da equipe a jornalistas na porta do hospital.

"O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro foi admitido para realização de procedimento de herniorrafia inguinal bilateral. Realizou exames pre-operatórios, com avaliação cardiológica e de risco cirúrgico, sendo considerado apto para o procedimento proposto. A cirurgia está programada para ocorrer amanhã (25), a partir das 9h, sob anestesia geral, com previsão de 4 horas de duração", diz o documento.

"A necessidade do procedimento de bloqueio anestésico do nervo frênico será avaliada durante a internação, a depender da evolução do pós-operatória e condição clínica", afirma o boletim. Os médicos afirmam que Bolsonaro deverá passar cerca de uma hora e meia ou duas horas se recuperando da anestesia.

Também integrante da equipe que trata Bolsonaro, o médico Brasil Ramos Caiado disse que o político estava um pouco deprimido e bastante ansioso. "A ansiedade leva a um quadro recorrente de soluço que atrapalha o sono dele."

O despacho de Moraes determinou que o transporte e a segurança do ex-presidente fossem realizados pela Polícia Federal de forma discreta, com desembarque na garagem do hospital.

A PF ficará responsável pela vigilância e a segurança de Bolsonaro durante todo o período de sua estadia, bem como do hospital, mantendo equipes de prontidão.

A corporação deverá garantir a segurança e a fiscalização ininterruptas com, no mínimo, dois policiais federais posicionados na porta do quarto hospitalar, além das equipes que entender necessárias, tanto nas dependências internas quanto externas do hospital.

Está proibida a entrada no quarto hospitalar de computadores, telefones celulares ou quaisquer outros dispositivos eletrônicos, com exceção dos equipamentos médicos.

Moraes autorizou a presença da esposa, Michelle Bolsonaro, como acompanhante durante toda a internação do ex-presidente. As demais visitas somente poderão ocorrer com autorização judicial.

A defesa havia pedido que os filhos Carlos Bolsonaro e Flávio Bolsonaro fossem liberados como acompanhantes secundários, mas essa autorização só veio em decisão posterior nesta quarta-feira. Também poderão visitá-lo Jair Renan Bolsonaro e Laura Bolsonaro.

Eduardo Bolsonaro, também filho do ex-presidente da República, não consta da decisão de Moraes. Eduardo está nos Estados Unidos desde o início deste ano.

Carlos foi ao hospital DF Star na manhã desta quarta, antes da liberação de Moraes, para acompanhar a chegada do pai e reforçou não estar descumprindo decisão judicial por estar em um local público. "Estou aqui para passar boas energias, porque a gente sempre foi assim, e a minha intenção é só seguir como filho, estar do lado do meu pai."

Uma apoiadora de Bolsonaro rezava em frente à unidade de saúde e deixou uma bandeira do Brasil no gramado do local.

Moraes autorizou a cirurgia de Bolsonaro após a perícia médica da PF afirmar que o ex-presidente, de fato, precisaria ser submetido a cirurgia eletiva com rapidez.

O laudo foi feito por determinação do ministro do STF, que, na mesma decisão, indeferiu pedido de prisão domiciliar com base na condição de saúde de Bolsonaro. O ex-presidente está preso na Superintendência da PF, em Brasília, desde novembro.

De acordo com Moraes, Bolsonaro está "custodiado em local de absoluta proximidade com o hospital particular onde realiza atendimentos emergenciais de saúde" e o endereço seria, inclusive, mais próximo que o da casa dele. Assim, a prisão na PF não prejudicaria Bolsonaro em caso de necessidade de deslocamento de emergência.