Requerimento para a criação da CPMI do Banco Master já recebe assinaturas de deputados e senadores; deputadas de Juiz de Fora ainda não assinaram o documento
Pedido já reúne mais de 100 assinaturas entre deputados e senadores; comissão depende de apoio mínimo para ser instalada.
O requerimento para a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) destinada a investigar o caso do Banco Master já conta com mais de 100 assinaturas no Congresso Nacional. Até o momento, no entanto, as deputadas federais de Juiz de Fora, Delegada Ione e Ana Pimentel, ainda não subscreveram o documento. Para que a CPMI seja oficialmente instalada, são necessárias assinaturas de pelo menos 171 deputados federais e 27 senadores.
A proposta da CPMI ganhou força após o avanço das investigações que envolvem o Banco Master, alvo de uma operação da Polícia Federal e de medidas do Banco Central, incluindo a decretação de sua liquidação extrajudicial.
Operação da Polícia Federal
No dia 18 de novembro, a Polícia Federal deflagrou a Operação Compliance Zero, que investiga a suposta emissão de títulos de crédito falsos por instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional. As apurações envolvem suspeitas de gestão fraudulenta, gestão temerária e organização criminosa.
A operação resultou no cumprimento de cinco mandados de prisão preventiva, dois de prisão temporária e 25 de busca e apreensão, além de outras medidas cautelares, nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e no Distrito Federal. A Justiça também determinou o bloqueio de R$12,2 bilhões em contas, além da apreensão de carros de luxo, obras de arte e relógios.
As investigações tiveram início em 2024, após solicitação do Ministério Público Federal, diante de indícios de fabricação de carteiras de crédito sem lastro adequado, que teriam sido negociadas entre instituições financeiras e posteriormente substituídas por ativos sem avaliação técnica compatível.
Entre os presos está Augusto Lima, ex-sócio e ex-CEO do Banco Master, com quem a PF encontrou R$1,7 milhão em espécie. A operação também incluiu mandado de busca e apreensão contra o presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, que foi afastado do cargo por decisão judicial, assim como outros três diretores da instituição.
Prisão do controlador do banco
O dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, foi preso na noite do dia 17 de novembro, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, quando embarcaria para Dubai. A Polícia Federal antecipou a prisão para evitar uma possível fuga do país.
Vorcaro era conhecido no mercado financeiro por uma gestão considerada agressiva e pela oferta de CDBs com rentabilidade acima da média do mercado, prática que vinha sendo questionada por agentes do setor.
Dados divulgados pelo Banco Central indicam que, em março de 2025, o Banco Master possuía patrimônio líquido de R$3,214 bilhões, ativos de R$86,4 bilhões e passivo de R$83,2 bilhões. Em 2024, a instituição registrou lucro líquido de R$1 bilhão, o dobro do resultado obtido em 2023.
Defesa e tentativas de venda
A defesa de Daniel Vorcaro afirmou que a viagem aos Emirados Árabes Unidos estava relacionada a negociações para a venda do banco. Em nota, os advogados informaram que Vorcaro e a instituição haviam se colocado à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.
Ao longo do último ano, o Banco Master tentou negociar a venda de seus ativos. Em março, o conselho do BRB chegou a aprovar a aquisição de participação relevante na instituição, operação que recebeu aval do Cade, mas foi posteriormente rejeitada pelo Banco Central. A principal preocupação do BC era o risco de sucessão de passivos e ativos problemáticos, que poderiam comprometer a solidez do comprador.
Na noite da prisão de Vorcaro, a Fictor Holding Financeira anunciou a compra do Banco Master, em operação que também envolveria investidores dos Emirados Árabes Unidos. Após a decretação da liquidação extrajudicial, no entanto, o Grupo Fictor suspendeu o negócio. Autoridades em Brasília avaliam que o anúncio da compra pode ter funcionado como uma estratégia para ganhar tempo diante do avanço das investigações.
Liquidação extrajudicial e situação dos credores
O Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master, medida que também alcança a corretora de câmbio da instituição. Com a decisão, os bens dos controladores e ex-administradores foram tornados indisponíveis. A liquidação é aplicada em casos de insolvência irrecuperável ou de infrações graves às normas do sistema financeiro.
O Fundo Garantidor de Créditos (FGC) informou que realizará o pagamento das garantias aos credores após o envio da base de dados pelo liquidante nomeado pelo Banco Central. Segundo o fundo, esta será a maior operação de ressarcimento da história, superando o caso do Banco Bamerindus, nos anos 1990.
A estimativa é de que cerca de 1,6 milhão de credores tenham depósitos e investimentos elegíveis, que somam aproximadamente R$41 bilhões. O FGC garante até R$250 mil por CPF ou CNPJ, com limite global de R$1 milhão por período de quatro anos, em caso de quebra de mais de uma instituição. O processo de ressarcimento será realizado por meio do aplicativo e do site do fundo, após a consolidação dos dados enviados pelo liquidante.