Uma breve reflexão sobre a m?dia e os animais não-humanos
Uma breve reflexão sobre a mídia e os animais não-humanos
Há pesquisadores que demonizam a mídia. Não é o caso. Creio que há uma mídia séria e eticamente preocupada sim. Mas não podemos negar que há, todavia, comunicações das mais infelizes a respeito dos animais. Por exemplo, quando o título de um programa interessante de comportamento felino é "Meu gato endiabrado". Ou quando o título de um documentário é: "Elefantes assassinos". Se pensarmos naqueles animais não tão carismáticos no olhar do público, como tubarões, cobras, aranhas, escorpiões, por exemplo, a coisa fica bem pior. Há a atribuição de uma moralidade a estes seres que passam a ser representados como agentes do mal. Vilões. É assim em muitos filmes, desenhos, livros e propagandas. O gato preto da Volkswagen deu o que falar... E quando olhamos para um peru da Sadia, feliz da vida em ir para o seu prato? Talvez isso banalize e suavize o fato de que estamos matando e consumindo um ser senciente. Que tem medo, dor, frio, fome... Como você. É bem mais confortável comê-lo quando na embalagem ele está contente...
Sei bem que para muitos leitores isso tudo é uma grande besteira. "Para que esse povo da ética animal gasta tanto tempo estudando livros didáticos, vendo desenhos animados, analisando propagandas ou avaliando filmes?" E sabendo do potencial da mídia em formar ou reforçar opiniões, eu respondo pensando em um pesquisador da qual sou fã número 1. O nome dele é Marc Bekoff. Sugiro que ouçam o que ele diz. É muito mais apto em convencer-nos de que estamos falhando como espécie do que eu. Para Bekoff (e para mim): "A ética pode enriquecer as nossas visões dos animais, quando eles vivem no seu próprio mundo e quando nos relacionam conosco no nosso mundo; eles nos ajudam a ver que a vida deles merece ser respeitada, admirada e apreciada". E talvez uma mídia mais ética nos ajude a enxerga-los em toda sua beleza e sonhando ainda mais, nos ajude a mudar nosso olhar e a desejar que sejam respeitados e valorizados em sua essência.
Juliana Machado é Bióloga, mestre em Ciências Biológicas - Comportamento e Biologia Animal - UFJF/MG. Doutoranda em Bioética, ética aplicada e saúde coletiva - UFRJ/UFF/UERJ e Fiocruz.