Consumismo exagerado pode explicar a existância dos produtos piratas
Mundo pirata
Quem quer andar na moda? Quem quer ouvir a última canção da banda sertaneja do momento? Quem quer aquele par de tênis dos atletas do basquete norte-americano? — Se a resposta for um "sim" e a carteira estiver quase vazia, a solução é comprar os genéricos. "Mas eles são irregulares, Juliano Nery!", ao que direi, "Eu sei". Não estou fazendo juízo de valor, se é certo ou se é errado comprar um produto pirata. Estou apenas constatando a forma como se convencionou a pensar em nosso país. Atire a primeira pedra, quem nunca utilizou um programa de computador falsificado, com registro de autenticação extraído na web em alguma página de hacker. Isso sem contar a utilização da banda larga alheia...
O que quero dizer, portanto, refere-se a outro ponto da questão, ligado à noção de consumo. A verdade é que todos nós, queremos consumir. Seja um tênis chamado Nike ou um ali da esquina, chamado, "Like", que se parece muito com aquele que eu "gosto", desculpando aí, o meu trocadilho português-inglês. O importante é satisfazer o ímpeto da vontade de poder ter algo. Quem não tem cão, caça com gato, já enunciava a sabedoria popular.
E, já que há gente que consome, existe gente que produz também. E como produz, sabe-se lá! O fato é que, seja para ganhar algum como atravessador de mercadoria ou como contrabandista, existe gente disposta (ou sem opção) a arcar com o risco de uma carga apreendida. E tem ainda o vovô da Zona Rural, que faz aquele queijinho artesanal, sem o menor compromisso com os trâmites da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, mas que quer aproveitar o leite em abundância disponível na fazenda. Sempre na torcida para que ninguém passe mal, sempre na torcida para que a carga chegue ao consumidor. Sempre fora da lei.
No fundo, tudo isso pode estar ligado ao excesso. Tanto o exagero em se querer consumir, como o em se querer criar necessidades para se vender para a população. As irregularidades acabam acompanhando esta abundância. Mas, como lidar com tanto excesso? — Difícil, muito difícil, já que até o governo contribui com o excesso de impostos, por exemplo. Com uma carga tributária de fazer inveja a qualquer estado-nação, o Brasil arrecada uma baba nas transações financeiras nossas de cada dia...
E neste planeta pirata não faltará serviço para a Secretaria de Atividades Urbanas, responsável por notificar o que vê de errado por aí, em nossa cidade. Pode ser cachaça, pode ser cigarro, pode ser roupa, podem ser artigos eletrônicos. E muito mais. Tanto que o órgão deveria, inclusive, mudar de nome: Secretaria de Mundo Paralelo.
Juliano Nery não é uma figura tão importante. Jamais foi pirateado.
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Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.