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A m?sica em Juiz de Fora

Inauguro este espa?o no Portal ACESSA.com, para falar sobre m?sica em Juiz de Fora. Ser? um desafio agrad?vel. Desafio, pois n?o se trata de uma tarefa nada f?cil, visto ser um tema t?o amplo, melindroso e complexo. Vou falar daquilo que gosto e conhe?o. Enfim, o leitor que resolver ler esta coluna, ter? textos apaixonados.

Ser?o textos dialogais. Quero dizer que vou levantar o tema, se ele render e se houver rea??o eu continuo a discuss?o, sen?o falo sobre outra coisa. Este pobre portugu?s j? quase abrasileirado gosta de falar de m?sica e de debater tamb?m, ent?o convido o leitor a uma acalorada conversa.

Juiz de Fora me parece uma cidade muito estranha no que diz respeito ? m?sica. Estranha e complexa. Vim para esta cidade porque garantiram-me que aqui havia uma vida musical intensa e muita coisa de boa qualidade, n?o s? em interpreta??o como tamb?m em cria??o. N?o diria que fiquei frustrado, pois h? de fato uma vida musical mais ativa que a da maioria das cidades brasileiras, mas realmente esperava mais do que vi. Hoje, se perguntassem minha opini?o sobre o universo musical juizforano confesso que n?o me sentiria confort?vel para dizer algo diretamente, ou talvez pedisse para manifestar-me em partes e bem explicadamente.

Juiz de Fora tem muita riqueza em m?sica sim, e j?ias valiosas, mas como em todo o Brasil, tem pouca consci?ncia de sua riqueza e n?o raro troca um ouro de fino quilate por uma bijouteria barata, valoriza o trivial e deixa passar despercebido o original e criativo, aferra-se a um provincianismo descriterioso sem justificativas musicais reais.

Antes de falar de quem faz a m?sica, seria interessante come?ar por quem assiste. O p?blico de Juiz de Fora ? ativo, vai aos concertos, apresenta?es e shows. Faz fila para pegar ingresso e at? considera concerto um programa para a noite. D? gosto ver o Central lotado. E at? discute com propriedade o concerto ou o show depois (se bem que nunca li uma cr?tica musical). No entanto, ? um p?blico do espetacular e n?o do musical propriamente dito. Gosta da performance mais que da interpreta??o. Se os m?sicos vestem roupas fosforecentes e dan?am durante um concerto cl?ssico o p?blico adora, independentemente de terem feito uma boa ou m? execu??o, ou de estarem dignamente afinados ou n?o. Se houve um bom jogo de luz e uma maquiagem curiosa o coro cantou bem, sem que se considere o aspecto vocal, interpretativo ou mesmo o repert?rio escolhido. Se o artista est? na m?dia ent?o, a presen?a ? disputad?ssima, o que n?o ocorre se o artista n?o for t?o evidente (isso n?o ? peculiaridade de Juiz de fora, sejamos justos). Al?m, ? claro, de aplaudir com veem?ncia o j? conhecido ou o grandioso e dificilmente reconhecer boas m?sicas e boas interpreta?es.

Aplaudir merece um par?grafo ? parte nestas terras. As palmas t?m uma fun??o important?ssima na m?sica. Elas s?o como um certificado de qualidade. Aplaudir n?o ? uma obriga??o do p?blico, mas um direito que este tem de conferir um atestado ? interpreta??o. N?o se aplaude para incentivar, isso ? falsidade. Se foi mal interpretado n?o pode ser ovacionado. Tamb?m n?o se aplaude a pessoa, mas a interpreta??o.

Eu sei que muitas vezes nosso p?blico ? a fam?lia e que esta n?o vai diferenciar muito uma coisa de outra, que vai aplaudir ? o parente mesmo porque est? feliz de v?-lo tocando ou cantando, mas n?o acredito muito que, na maioria das vezes, o p?blico inteiro seja de familiares. ? incr?vel como aqui em Juiz de Fora tornou-se quase uma regra aplaudir de p? ao fim do concerto. J? me ocorreu, algumas vezes, de n?o me levantar para aplaudir e receber uns olhares de reprova??o dos que est?o em volta. Aplaudir de p? e pedir bis ? dar nota 10 com louvor e se distribui-se t?o facilmente este conceito fica dif?cil diferenciar o joio do trigo.

Como disse acima, n?o acho o p?blico de Juiz de Fora ignorante e facilmente ludibri?vel, ele sabe o que est? ouvindo, e em virtude do bom n?mero de concertos e shows a que ? submetido j? tem crit?rios de observa??o acima da m?dia. Portanto, ? preciso fazer valer este conhecimento, e ainda, ? preciso saber valorizar o que se ouve. Como int?rprete sei o quanto d?i ouvir aplausos desvairados quando a apresenta??o n?o foi suficiente para tanto.

O aplauso ? de extrema import?ncia na forma??o de um m?sico. Um dos maiores expoentes do romantismo musical alem?o, Schubert, em um livreto chamado "Pequenos conselhos aos jovens estudantes de m?sica" advertia que os aprendizes deviam ser muito cuidadosos ao ouvir os aplausos e n?o se inebriarem, pois isso poderia significar o fim de uma carreira brilhante.

Pois bem, acho que este ? o risco que corremos aqui em Juiz de Fora, achar que tudo ? muito bom, s? porque tem aqui ou ? daqui (e de prefer?ncia n?o tenha sa?do daqui), e aplaudir sem crit?rio. Com isso matamos talentos jovens, enganando-os com nossas palmas, ainda que em nossa reta inten??o seja para incentiv?-los; perdemos a no??o do que ? realmente bom em compara??o ao razo?vel e, pior ainda, ao med?ocre, pois tudo merece palmas e de p?.

Bom, por hoje ? isso. Espero que esse espa?o renda o debate para o crescimento da m?sica na cidade. Bons concertos!

*As fotos que deste artigo s?o meramente ilustrativas