Juliano Nery Juliano Nery 25/3/2011

Proibido estacionar

Foto de flanelinha"Ser ou não ser, eis a questão." Adicione ao dilema proposto por Willian Shakespeare em Hamlet, a expressão "flanelinha" e será possível obter conjecturas das recentes discussões quanto à legitimidade da categoria. Regulamentação ou proibição — qual é a sua?! — Simples assim. Opa, nem tão simples! E é por isso que as esferas públicas envolvidas neste caso tem uma missão muito delicada, para avaliar as diversas dimensões envolvidas em "posso olhar o seu veículo, enquanto você toma uma água mineral em algum lugar em que não posso entrar?"...

Sei que muitos vão interpelar, "são vagabundos, querem amedrontar quem tem carro", "querem nos extorquir dinheiro", ou "se eu não pagar, meu carro vai dançar"... Mas, existe uma outra pergunta, tão importante quanto essa de segurança pública, mas, de política social: "onde esse cara vai arrumar dinheiro, meu Deus?", ao que alguns hão de responder, "não é um problema meu", mas que se torna, quando, ele vem com a mão estendida, em forma de pires, esperar as moedas depositarem-se nas suas mãos, que bravamente agarrarão os trocados... A mesma mão que pode arranhar a pintura da lataria do seu veículo, caso ele não esteja protegido pelos olhares de quem fica nas imediações, enquanto quem tem a chave do carro se diverte, caso não pinte as moedinhas.

E olha que as moedinhas já passaram de bons tostões. Tem flanelinha que exige montante considerável, pagamento adiantado e intimida o cidadão. Tem até tabela de preços, em algumas regiões mais badaladas. É, a mesma mão que cura, pode também enfiar o dedo na ferida. E a quem você irá recorrer na saída do bar, do trabalho, ou de uma simples compra no centro da cidade? — Guardar carros — Preenchimento de uma lacuna importante no centro da Manchester Mineira... Protegem-nos da maldade que a rua pode nos proporcionar... Espere aí, acho que já paguei os impostos para ter segurança pública! — Mas, assim como na educação, na saúde ou nas rodovias, temos que pagar, quase sempre, duas vezes. Para o SUS e para o plano de saúde. Para a escola pública e para a particular. O IPVA e o pedágio...

Reflexões à parte, já passou do tempo a intervenção municipal no assunto. O tema é incômodo e polêmico, sendo, portanto, importante a manifestação de nossas instâncias competentes. É para isso que os homens nos quais votamos naquele pleito de outubro de 2008 estão lá. Para decidir, de acordo com a representatividade. Representando, é sempre bom lembrar, não somente à camada detentora dos automóveis, mas aqueles que tentam sobreviver com o estacionamento deles. Briga pesada, item sem solução? — Temos gente preparada para resolver. E a Comissão Especial pode ser uma saída. Só não é possível instalar uma placa de "proibido estacionar" neste caso.

Por via das dúvidas e até sair uma definição, não se esqueça de trazer um dinheiro à parte para o pagamento dos flanelinhas. É o mais prudente a ser feito, para que dissabores não aconteçam. Muitos deles, inclusive, cuidam bem do carro estacionado, mostrando educação e atendimento de fazer inveja em muitas lojas de Juiz de Fora. Como em todo mercado, existem bons e maus profissionais. "Profissionais"? — Cabe à comissão definir... Fato é que não podemos negar a existência de ser...

Juliano Nery acredita que em breve os flanelinhas terão máquinas de débito e crédito, quando você disser a eles que não tem dinheiro...


Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.