A Igreja em saída para as Periferias

Nome do Colunista Dom Gil 15/07/2017

Há muito que a Igreja vem insistindo no tema da missão. Aliás, desde seu início foi assim, pois Cristo, em seu último diálogo com os discípulos, os enviou a todo o mundo para anunciar o evangelho, ensinando tudo o que lhes ensinara, e lhes deu ordem de batizar a todos os que crescem, ou seja, introduzi-los no ambiente de sua família espiritual (Cf. Mt 28, 16-20; Mc 16, 14-20). Para isso, garantiu-lhes presença sem limites: “Estarei convosco todos os dias até o fim dos séculos” (Mt 28,20).

Nos tempos atuais, após a realização do Concílio Vaticano II (1962-1965), os Papas têm destacado com tal frequência a causa da missão que, pode-se dizer, a maioria dos documentos, homilias, alocuções e outros textos, raramente não trazem referência a este imperativo eclesial.

Papa Francisco prima pelos esforços de impulsionar a Igreja para que esteja sempre em atitude de “saída” e insiste que tenha os olhos direcionados especialmente para as periferias. Sua encíclica Evangelii Gaudium (24.11.2013) é quase um compêndio missionário, destacando a alegria de servir o evangelho ao mundo de hoje, das mais variadas formas. Retomando vários textos de seus predecessores, sobretudo Paulo VI, São João Paulo II e Bento XVI, bem como documentos de Conferências Episcopais, Francisco reforça a identidade da Igreja como comunidade missionária que tem a missão como a primeira de todas as suas causas. Citando o documento de Aparecida (2007) literalmente, escreve o Papa Francisco: “Nesta linha, os Bispos latino-americanos afirmaram que ‘não podemos ficar tranquilos, em espera passiva, em nossos templos’, sendo necessário passar ‘de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária’” (EG 15).

Com certos louváveis neologismos, Francisco insiste: “Uma Igreja ‘em saída’ é a comunidade de discípulos missionários que ‘primeireiam’, que se envolvem, que acompanham, que frutificam e festejam” (EG 24). Mais adiante continua: “A Comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa, precedeu-a no amor (cf. Jo 4,10), e, por isso ela sabe ir à frente, sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos”. Convida mesmo para atitudes corajosas: “Ousemos um pouco mais no tomar iniciativa!” (EG 24).

Por estas palavras inspiradas e ditas à Igreja ultimamente, através da voz de seus pastores, e sobretudo do seu Pastor Maior que é o Sucessor de Pedro, é que a Arquidiocese de Juiz de Fora envia sete missionários ao Haiti, a partir do dia 16 de julho, para um estudo básico a respeito do que ela possa fazer pelos irmãos naquele país considerado o mais pobre e mais sofrido das Américas. Com eles estarei pessoalmente acompanhado também pelo Bispo Diocesano de Leopoldina.

Com a intenção de compartilhar com o leitor a respeito da realidade que pretendemos contemplar presencialmente, a fim de descobrir como ajudar, passo alguns dados da região a ser visitada.  

O Haiti é um país situado no Caribe, numa ponta da Ilha Hispaniola, no grande arquipélago das Antilhas, contando hoje com população de cerca de onze milhões de habitantes. Sua capital é Porto Príncipe, que agrupa cerca de três milhões de pessoas. O regime político é a República, mas, há anos, sofre sucessivas crises, ao ponto de um grupo de nações, entre as quais o Brasil, se fazerem presentes em socorro da população para garantir-lhe a paz e a segurança. Esteve ali um contingente de servidores militares de Juiz de Fora. Semana passada, o Exército Brasileiro iniciou seu retorno, tendo já cumprido gloriosamente sua missão de paz.

A maioria da população é constituída de negros, afrodescendentes, oriundos do regime escravocrata ali predominante no passado. Foi o primeiro país da América Latina a abolir a escravatura e o segundo a proclamar a independência, o que se deu no ano de 1804, através de uma revolta dos escravos. Abrigou Simão Bolívar, em 1815, com a condição de que ele impusesse a libertação dos escravos nos países que conseguisse levar à independência política. Antiga colônia da França, é o único país da América latina cujo idioma oficial é o francês, somando-se ao Canadá, na América do Norte.          

O País tem sido atingido por dolorosas catástrofes naturais, como o terrível sismo de 12 de janeiro de 2010, que matou mais de trezentas mil pessoas, tendo destruído o Palácio Presidencial, a Catedral de Porto Príncipe, oitenta por cento das casas, prédios públicos e comerciais. Neste terremoto, morreu a nossa Dra. Zilda Arns, que ali estava para implantar a Pastoral da Criança. Também faleceu, na ocasião, o Arcebispo Dom Joseph Serge Miot. Ano passado, o país foi vítima do furação Matthew, com muitíssimas vítimas.

O atual Arcebispo de Porto Príncipe é Dom Guirre Poulard, nascido em 1942, tendo, portanto atualmente, 75 anos de idade, aguardando a emeritude.

A Arquidiocese de Porto Príncipe foi criada como Diocese, em 03 de outubro de 1861 e hoje conta com quatro dioceses sufragâneas. Em todo o Haiti, há apenas duas Províncias Eclesiásticas, a de Porto Príncipe e a outra, no norte do País, em cabo Haitiano. Pela primeira vez, o Haiti conta com um Cardeal, que é Sua Eminência Chibly Langois, Bispo de Les Cayes, criado no consistório de 2014.    

Sendo o principal objetivo da missão levar Cristo às pessoas, a Igreja tem em Maria o modelo mais eloquente de missionariedade. Em sintonia com Papa Francisco, rezamos ao partir para o Haiti: “Maria, Mãe do Evangelho vivente, manancial de alegria para os pequeninos, rogai por nós!”

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