Crise de identidade e hero?smo presentes em Detona Ralph

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Crise de identidade e hero?smo presentes em Detona Ralph
 Paulo César 31/12/2012

Crise de identidade e heroísmo presentes na nova e ousada produção da Disney Detona Ralph

Quando não mais se pode supreender com o poderio da megaempresa multimídia fundada por Walt Disney, que produz ao menos um grande longa-metragem de animação todos os anos, principalmente após anexar a especialista no assunto Pixar, nos deparamos com uma obra gigantesca, tanto em seu conteúdo lírico impregnado no roteiro (tudo bem, isso não é novidade), quanto em seu aspecto técnico, que conta com quatro universos digitais diferentes e mais de 182 personagens. Detona Ralph fecha mais um ano produtivo do estúdio e disputará com sua "irmã" Valente os prêmios do circuito e mostra quem é que continua mandando no cinema, quando o assunto é animação.

O grandalhão e desajeitado Detona Ralph é o vilão do jogo de videogame dos anos 80, Conserta Felix Jr., e há 30 anos passa os seus dias virtuais sendo jogado do prédio que tentou destruir, tendo que conviver com a solidão de um lixão e frequentando os encontros dos Vilões Anônimos junto com Zangief, Copa, entre outros malvados. Só que ele não gosta da condição e tenta provar para seus amigos de jogo que pode sim ser um mocinho e ganhar uma medalha. Decide, então, sair em busca da redenção e, nesta saga, enfrenta insetos gigantes de Missão de Heróis e docinhos mal-intencionados em Corrida Doce. Neste último, conhece a pequena Vannellope, que, entre uma travessura e outra, para tentar participar da corrida da qual foi expulsa pelo Rei Doce, vai ensinar a Ralph que precisa-se de muito mais que uma medalha para ser um verdadeiro herói.

A história de Detona Ralph reverte a lógica dos videogames (pelos menos os primeiros) em que tudo gira em torno do mocinho. Essa opção dos roteirista em focar nesta "crise de meia-idade" do vilão, que não vê motivos para continuar na ocupação traz as reflexões que, inevitavelmente, a maioria dos seres humanos são colocados a analisar. Seja no trabalho, em um casamento ou em uma relação interpessoal qualquer, tudo isso traz aos adultos um certo ar melancólico sobre as escolhas que foram feitas durante a vida e as possibilidades de uma mudança. Além disso, ver personagens tão conhecidos dos mundos virtuais de outrora aumenta a nostalgia em torno da infância que se foi. Para as crianças, além da fofura de Vanellope, fica a lição de que todo mundo merece seu respeito, seja qual for sua aparência, condição social, profissão, etc. Um dos roteiros mais versáteis que a Disney criou nos últimos anos.

A ousadia de desfilar por quatro ambientes diferentes foi arriscado e trabalhoso. Em nenhuma outra produção na história do gênero tantos personagens foram criados (182), e com um toque primoroso da equipe de produção, pois manteve as características inerentes a cada um dos universos. Conserta Felix Jr. mantém as formas tétricas e movimentos simplórios que mantém a veracidade de seus 8 bits. Em contrapartida, o 3D de Missão de Herói dão formas reais e alta definição das expressões da mal-humorada Sargento Calhoun, e o toque do diretor Rich Moore, que veio do mundo ácido de Os Simpsons e Futurama, criou uma divertida relação amorosa crescente entre os dois personagens, que rende situações divertidíssimas.

Ralph e Vanellope formam um dupla tão improvável quanto divertida. Não tão infantil quanto a amizade da menininha Bo e os monstros de Monstros S.A., esta parceria leva o público das gargalhadas às lágrimas, mas sempre com um premissa benfazeja. É a sensibilidade e a brutalidade trabalhando juntas, para mostrar que o caminho certo é aquele que nos faz sentir-se heróis. Talvez toda a tensão dramática que se cria quando o verdadeiro vilão da história se revela seja pueril e até dispensável depois que o recado já estava dado, entretanto não foi o suficiente para estragar este belo (mais um) trabalho do estúdio. Detona Ralph não é seu melhor filme filme, mas pode-se colocá-lo no topo dos mais ousados e inteligentes.



Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg.