Complexo e sem bons argumentos, Contra o Tempo decepciona

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Paulo César 3/10/2011


Complexo e sem bons argumentos, Contra o Tempo decepciona

A premissa parece ser a mesma de longas de ficção científica consagrados por público e crítica nos últimos tempos. Mas o problema de Contra o Tempo está no modo mais complicado e inexplicável com que a ação se desenvolve nos poucos mais de 85 minutos de fita. Um filme decepcionante e pouco atraente do filhinho de David Bowie, Duncan Jones, que não conseguiu repetir o bom trabalho que fez em Lunar, seu debute como diretor.

O roteiro do estreante Ben Ripley bebeu em fontes bem conhecidas. Logo de cara, vemos traços de Avatar (2009), O Efeito Borboleta (2003), Minority Riport (2002) e Feitiço do Tempo (1993), assim que passamos a compreender o que realmente está acontecendo ao Capitão Stevens (Jake Gyllenhaal). A explicação científica de parábolas quânticas é muito obscura, e o modo de como a conexão entre o semidefunto se dá com um homem que esteve em um acidente catastrófico é abstrata.

A história se passa em uma Chicago provavelmente alguns anos a frente do nosso tempo, e quando um grande acidente acontece em um trem, o Dr. Rutledge (Jeffrey Wrigth) coloca seu projeto, o Código Fonte, em ação para impedir que milhões de pessoas morram. Capitão Stevens, que foi dado como morto no Afeganistão é o voluntário do programa, e com a ajuda de Capitã Goodwin (Vera Farmiga), terá apenas oito minutos para tentar evitar que uma hecatombe destrua a cidade.

Na verdade a história é muito mais complicada. Em momento algum é exposto ao público do que realmente se trata o programa. Mesmo no final, com tudo resolvido, ainda é difícil saber o que aconteceu. Nisso, o filme perde feio para os dois citados no início do texto. Enquanto Avatar nos deixa claro sua condição de futurista nos efeitos extraordinários e O Efeito Borboleta mostra uma doença rara sob uma montagem excelente, Contra o Tempo é vago e sem um bom argumento.

O diretor perde-se em meio idas e vindas e se enrola com o roteiro mal planejado de Ripley. Com o passar das tentativas de salvar o destino da população da cidade e também as vidas das pessoas no trem, a cabeça do público dá um verdadeiro nó. Seria ele capaz de mudar o futuro assim como em O Efeito Borboleta? Será que passará a habitar outro corpo como em Avatar? Talvez nem mesmo o próprio roteirista tenha se preocupado em bolar algo novo e inteligível para responder a tais perguntas.

O bom desempenho de Jake Gyllenhaal é ponto forte do filme. Consegue convencer que realmente é uma pessoa com um humor e motivação diferente a cada volta ao trem. Faltou um pouco da participação de Vera Farmiga e Michelle Monaghan, que por culpa de uma direção que privilegiou o personagem central, tiveram atuações discretas.

Com todas as referências que carrega, fica difícil que Contra o Tempo vire sucesso. Estar sempre ligado a produções melhores traz sempre as inevitáveis e cruéis comparações. Mas depois de ter acertado em Lunar, Duncan Jones ainda terá mais chances de continuar seu trabalho, sem que precise correr contra o tempo e a crítica para realizá-lo.

Mais críticas

Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg.