Audiodescrição é a nova ferramenta para inclusão de cegos

Por

Audiodescri??o ? a nova ferramenta para inclus?o de cegos Recurso ainda ? pouco explorado no Brasil. Em Juiz de Fora, cegos t?m acesso aos
audiolivros e a programas de computador que fazem leitura de textos


Guilherme Ar?as
Rep?rter
18/11/2008

Assistir a um filme ou pe?a teatral pode ser uma tarefa f?cil para a maioria das pessoas. Por?m, para cerca de 16 milh?es de brasileiros com algum tipo de defici?ncia visual grave, a tarefa n?o ? t?o simples assim. Muita gente pode achar imposs?vel ou considerar brincadeira de mal gosto o fato de um cego acompanhar a hist?ria narrada em um filme, por exemplo.

Mas surge no Brasil um movimento que pretende acabar com as barreiras que os cegos enfrentam junto ? TV, ao cinema, ao teatro e ?s v?rias formas de acesso ? cultura. A audiodescri??o ? a mais nova ferramenta para a inclus?o de pessoas com esse tipo de defici?ncia.

O recurso consiste na descri??o clara e objetiva de todas as informa?es que compreendemos visualmente e que n?o est?o contidas nos di?logos, como, por exemplo, express?es faciais e corporais. Informa?es sobre o ambiente, figurinos, efeitos especiais, mudan?as de tempo e espa?o, al?m da leitura de cr?ditos e t?tulos que tamb?m podem ser audiodescritas.

Em Juiz de Fora, a Associa??o dos Cegos, refer?ncia no tratamento e acompanhamento de pessoas com defici?ncia visual na regi?o, ainda n?o conta com esse recurso em filmes. Mas os recursos de ?udio s?o usados na narrativa de livros, inclusive a B?blia.

Na biblioteca da institui??o os cegos contam com a narra??o de dezenas de livros da literatura cl?ssica. O ?udio tamb?m ? utilizado atrav?s de um software livre de computador. O DOSVOX foi desenvolvido em 1993 pelo N?cleo de Computa??o Eletr?nica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O programa permite que todo tipo de texto em extens?o .txt seja lido por uma voz artificial masculina ou feminina. "Isso permite uma autonomia muito grande para os cegos acessarem sozinhos o computador", relata a respons?vel pela transcri??o de materiais em braile da Associa??o dos Cegos, Fl?via Alves Bonsanto.

Apesar das novas tecnologias facilitarem a inclus?o dos cegos, Fl?via acredita que o m?todo braile, criado pelo franc?s Louis Braille em 1829, n?o est? com os dias contados. "Quem foi alfabetizado pelo braile, geralmente prefere ter acesso aos mat?rias com esse recurso", explica. Como a maioria das pessoas com defici?ncias visuais j? nasceram cegos, o braile ainda ? o principal m?todo para a alfabetiza??o.

Funcionamento da audiodescri??o

A audiodescri??o funciona como uma banda extra no ?udio, parecido com o sistema utilizado atrav?s da tecla SAP. Assim como o recurso do closed caption ? usado para a acessibilidade de surdos, a audiodescri??o ? a ferramenta ideal para a inclus?o dos cegos. Gravado, o recurso pode ser usado em DVDs, salas de cinemas ou s?ries e novelas da TV. Ao vivo, a audiodescri??o pode ser utilizada em pe?a teatrais, por exemplo.

A primeira iniciativa no Brasil foi registrada em 2003, durante o Festival Assim Vivemos, que re?ne filmes do mundo inteiro, cujos temas s?o as diversas formas de defici?ncia. A experi?ncia inicial foi feita pela atriz e audiodescritora Graciela Pozzobon, que j? havia interpretado uma personagem cega no curta-metragem C?o Guia. A partir disso, ela foi convidada a fazer as primeiras audiodescri?es do festival e hoje se tornou uma das maiores autoridades no assunto no Brasil.

Com a ajuda de Graciela, o recurso vem ganhando espa?o no pa?s, mas ainda ? desconhecido de boa parte das pessoas, inclusive de institui?es que trabalham com pessoas que possuem defici?ncia visual. "? um recurso muito novo e ? normal que as pessoas ainda n?o conhe?am", comenta Graciela.

O crescimento da audiodescri??o

A audiodescri??o ? poss?vel em quase todos os produtos audiovisuais, al?m de outras formas de manifesta??o cultural, como o teatro. Tamb?m j? existem registros desse recurso em exposi?es de artes pl?sticas e espet?culos de dan?a. "O jornalismo, por exemplo, n?o ? t?o necess?rio por j? ser descrito por si s?", observa Graciela.

Segundo ela, o trabalho como atriz ? fundamental para fazer uma boa audiodescri??o dos filmes. "O trabalho do ator tem muito a ver com o do audioescritor. N?o s? na quest?o ?bvia da narra??o e da coloca??o da voz, mas tamb?m na produ??o do roteiro. Assim como o ator, n?s temos que pegar a obra, entender o contexto, ver qual ? a??o essencial do filme".

Fazer a audiodescri??o chegar ? TV aberta ? uma meta para os profissionais dessa ?rea. Mas o caminho ainda parece longo e cheio de obst?culos. O principal ? a Associa??o Brasileira de Emissoras de R?dio e Televis?o (Abert). Uma portaria do Minist?rio das Comunica?es (MinC), que dava prazo para as TVs abertas das cidades com mais de um milh?o de habitantes inserirem duas horas de programas audiodescritos por dia na programa??o, foi derrubada no ?ltimo dia 15 de outubro.

A discuss?o entre os engenheiros das emissores e t?cnicos do Minist?rio das Comunica?es passa pela viabilidade t?cnica da implementa??o da audiodescri??o na TV aberta e pela disponibilidade de profissionais capacitados no mercado.

Por?m, o Minist?rio abriu uma consulta p?blica para debater o tema. Para participar do debate ? preciso se cadastrar no site do Sistema de Consulta P?blica do Minc.

Enquanto no Brasil as discuss?es est?o em fase inicial, a audiodescri??o j? ? realidade em na?es mais desenvolvidas, como o Reino Unido, atrav?s da BBC. Segundo Graciela, o canal p?blico brit?nico e todas as suas afiliadas contam com o recurso da audiodescri??o em quase 100% da programa??o. J? a Alemanha se destaca pela audiodescri??o em teatros e casas de ?pera. Nos Estados Unidos, muitos cinemas j? contam com o recurso, que tamb?m ? presente na Espanha.

Para as pessoas com defici?ncia visual que ainda n?o t?m acesso a filmes audiodescritos, foi criado um portal que re?ne esse tipo de v?deo. O site conta com uma reuni?o de curtas-metragens legendados e audiodescritos. A id?ia de Graciela, que organiza todo o material do portal, ? reunir os curtas em um DVD e distribu?-los gratuitamente para as institui?es que se interessarem.

Ap?s receberem a informa??o sobre o recurso da audiodescri??o pelo Portal ACESSA.com, a Associa??o dos Cegos de Juiz de Fora j? demonstrou interesse em receber o material em DVD.