Imigração é retratada atrav?s da culinória

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Imigração é retratada através da culináriaExposição de elementos, lançamento de livro, apresentação de grupos folclóricos e feira representam a importância da imigração na formação de JF

Pablo Cordeiro
Repórter
5/5/2010

Uma série de eventos irá caracterizar a culinária dos portugueses, afrodescendentes, germânicos, italianos, libaneses e sírios a partir da próxima terça-feira, dia 11 de maio. Trata-se da terceira edição da Festa das Etnias, que aborda a magia e a cultura dos povos que imigraram e contribuíram para a formação de Juiz de Fora desde o século XIX, através da culinária. Dentre as atividades estão exposição, lançamento de livro de receitas, feira de comidas e bebidas típicas, além de apresentações de grupos folclóricos.

Para a historiadora da divisão de Memória da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), Hilda Rezende, o principal objetivo da festa é levar ao público elementos das etnias que ajudaram no desenvolvimento da cidade. "Os elementos da culinária fazem parte do cotidiano e acabam passando despercebidos. Mas representam a cultura." Hilda ressalta que essa divulgação é importante, já que as pessoas consomem os alimentos e não fazem ideia de suas origens.

Na abertura oficial, às 20h, no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM), será inaugurada uma exposição de fotos e apetrechos da cozinha estrangeira. A mostra fica em cartaz até o dia 29 de maio, de segunda a sexta, das 9h às 21h, e sábado e domingo, das 10h às 16h. O evento marca também o registro do Pão Alemão como bem de natureza imaterial do município. Hilda diz que o alimento é uma referência cultural, devido ao grande número de imigrantes e de descendentes alemães nos bairros São Pedro e Borboleta.

Hilda explica como ocorreu a formação de Juiz de Fora. "Por volta de 1850, começou a imigração do povo germânico para a construção da estrada que liga a cidade à Petrópolis. Em meados do século XX, foi identificada a chegada mais frequente de famílias de italianos e de sírios, atraídos pela promessa de oportunidades no país. Eles se misturaram com os portugueses e afrodescendentes que já estavam aqui desde o século XVII e formaram a cidade."

A contribuição dos povos será amplamente abordada no livro De todos os cheiros e sabores que fizeram Juiz de Fora, que será lançado no dia, 15, às 10h, no CCBM. A obra, editada pela Funalfa, tem 132 páginas e reúne, além de receitas típicas de cada etnia, curiosidades sobre a culinária de cada povo. Nos dias 15 e 16, uma feira de comidas e bebidas típicas será realizada na Praça Antônio Carlos, das 11h às 20h. O público poderá saborear delícias de cada uma das etnias e apreciar, a partir das 16h, apresentações de grupos folclóricos.

Receitas para todos os gostos

A psicóloga Gilmara Mariosa ajudou a escrever, no livro, o histórico culinário das etnias e a relação da religiosidade da cultura africana no país. Ela ressalta que o evento só vem para valorizar as etnias que contribuíram para a formação de Juiz de Fora. "A culinária mineira, de uma forma geral, tem grande marca da cultura afrodescendente. A ideia é reconhecer os afros como constituintes da cidade e mostrar para a população essa cultura."

Como exemplos da comida, Gilmara destaca o angu com couve, a vaca atolada, a canjiquinha, o feijão tropeiro, o frango a molho pardo, o arroz doce e o pé de moleque. "Muitas pessoas não sabem da origem desses pratos", complementa. Para o comerciante aposentado Aderito Aníbal Rodrigues, imigrante português que chegou à cidade em 1950, o bacalhau é o maior representante da culinária do país natal, mas há também o carneiro, o polvo e a sardinha. "Desde quando cheguei, a culinária portuguesa sempre foi muito presente em restaurantes e bares. O povo gosta da comida portuguesa."

Também em Juiz de Fora desde a década de 1950, a imigrante síria Mounira Haddad Rahne comenta que a comida tradicional do seu país é amplamente conhecida pelo juizforano. "O quibe e a esfiha são os mais conhecidos, mas nas lojas especializadas são encontrados outros alimentos que têm ótima aceitação."

O descendente germânico Dirceu Scoralick reconhece a forte tradição da culinária da Alemanha na cidade e vê na festa uma oportunidade de conhecer os pratos de outras culturas. "É forte o espírito de divulgação e de idealismo. É a exposição da tradição que veio junto com os imigrantes." Na lista de sabores de origem europeia, ele cita a salada de batata, o salsichão, o joelho de porco, o pão de farinha de trigo, o chouriço de sangue, a linguiça e as tortas doces e salgadas.


Os textos são revisados por Madalena Fernandes