Sobre o Rejuvenescimento de Cora
Sobre o Rejuvenescimento de Cora
Já Cora, talvez por ser também uma vilã suburbana, foi cobrada e comparada a Carminha desde o início de "Império", em julho do ano passado. E não há diálogo bem escrito que resista a tanta cobrança. Devido a inúmeros tropeços pelo caminho, a expectativa em torno da personagem não se satisfez. Não se trata de uma crítica ao talento ou ao trabalho de Drica Moraes, que já viveu papéis memoráveis na teledramaturgia da Rede Globo, como a divertida Márcia, de "Chocolate com Pimenta" (trama escrita por Walcyr Carrasco, exibida entre 2003 e 2004), que foi, para mim, sua melhor atuação na TV. No entanto, Cora não obteve tanto destaque quanto se esperava e, obviamente, os problemas de saúde da atriz contribuíram para isto, pois prejudicaram o andamento da trama.
Então, fazer Cora desaparecer não seria uma solução viável. Entre trazer uma outra atriz da mesma idade de Drica ou rejuvenescer a vilã, creio que esta última foi mesmo a decisão mais acertada. Por quê? Porque, como eu já havia afirmado há alguns meses, houve uma continuidade absolutamente verossímil entre as aparências dos personagens da primeira para a segunda fase de "Império", ao contrário do que ocorreu, por exemplo, em "Em Família" (trama de Manoel Carlos, exibida em 2014), em que a tia Juliana (Vanessa Gerbelli), teoricamente 10 anos mais velha, parecia, na verdade, ter 10 anos a menos que a sobrinha Helena (Júlia Lemmertz).
Assim, em "Império", como a Cora vivida por Drica Morais se parece muito com a Cora de Marjorie Estiano, ninguém melhor do que esta última atriz para substituir a primeira. Não se trata somente da semelhança física, mas das expressões, do tom de voz utilizado em algumas frases, dos movimentos das mãos, entre tantas outras coisas. Esses detalhes certamente seriam esquecidos se a escolha fosse a de substituir Drica Moraes por outra atriz da mesma idade. Além disso, de qualquer forma, teria que haver a "desculpa" da cirurgia plástica para a mudança de aparência. Ora, se a personagem vai fazer uma cirurgia, é melhor que seja para rejuvenescer. É inverossímil que Cora pareça 30 anos mais jovem, mas Aguinaldo Silva já está bem acostumado aos recursos do realismo fantástico, sabe se utilizar comicamente dele e, além disso, esta era a opção menos prejudicial ao andamento do enredo, que seria afetado de qualquer forma. Por outro lado, o retorno de Marjorie também contribuiu para a melhora da audiência de "Império", por ter gerado muitas matérias na imprensa e comentários nas redes sociais e despertado a curiosidade do telespectador.
Enfim, em minha opinião, a solução mais óbvia, ou seja, a de matar a personagem, nunca é a melhor alternativa, porque, dessa forma, o autor perde uma figura em torno da qual muitos acontecimentos se desenvolveriam. Por outro lado, acredito que o suposto retorno de Drica Moraes, este sim, causaria sérios danos à trama, tornando-a ainda mais inverossímil. Tudo bem se o autor quer se utilizar do realismo fantástico para rejuvenescer miraculosamente uma personagem, mas como justificar seu envelhecimento em seguida? Dizer que a personagem vivida por Marjorie Estiano era uma falsa Cora e que a verdadeira está retornando não seria aceitável, uma vez que, em várias cenas, Marjorie revela conhecimentos e sentimentos íntimos, que só a verdadeira Cora poderia demonstrar.
Esta suposta nova substituição está cumprindo seu papel de incitar milhares de opiniões e fazer "Império" virar assunto diário por todo o país, mas, pelo menos por enquanto, não parece ser um dado concreto. Sem mais, resta-nos, de novo, aguardar pelas cenas dos próximos capítulos.
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Paula Faria é jornalista e mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora, além de especialista em TV, Cinema e Mídias Digitais, pela mesma instituição. Também é publicitária pela Faculdade Estácio de Sá e desenvolve pesquisas relacionadas à comunicação, cultura e identidades, mais especificamente sobre ficção seriada televisiva e música popular brasileira