Adoção tardia

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Desafios e vantagens da ado??o tardia Por medo, preconceito e falta de informa??o, a procura pela ado??o de beb?s ainda ? maior em Juiz de Fora. Apenas 3% adotam crian?as maiores


Priscila Magalh?es
Rep?rter
05/11/07

? grande o n?mero de crian?as em abrigos e a quantidade de casais querendo fazer a ado??o, tamb?m. Por?m, dois fatos contribuem para que o processo se torne demorado: o perfil procurado pelas fam?lias ? quase sempre o mesmo e a maioria delas n?o t?m prefer?ncia pelas crian?as que est?o abrigadas.

Segundo a assistente social judicial do setor t?cnico da vara da inf?ncia e juventude da comarca de Juiz de Fora, Cl?udia Martins Pinheiro, as fam?lias procuram mais por crian?as rec?m-nascidas, brancas e do sexo feminino. "Em 97% dos casos a procura ? por beb?s e os outros 3% optam pela ado??o de crian?as mais velhas", diz.

A ado??o ? considerada tardia a partir dos dois anos de idade. ? medida que a crian?a cresce, a dificuldade para encontrar uma fam?lia tamb?m aumenta. Por?m, se engana quem pensa que o processo de ado??o tardia acontece mais r?pido por causa disso. "N?o acho que o processo para adotar uma crian?a mais velha seja menos demorado. Se a pessoa j? estiver inscrita, talvez seja mais f?cil mesmo, mas nestes casos temos o estado de conviv?ncia da crian?a com a fam?lia, para adapta??o, o que tamb?m exige tempo", acrescenta a assistente social.

Eliane Cristina Osti Pedr?o (foto abaixo, ? direita) e Cl?udio Pedr?o pensavam na ado??o desde a ?poca do namoro. "Nunca imaginei engravidar e quando nos casamos a ado??o se fez cada vez mais desejada. A maior dificuldade ? a burocracia, o que faz o tempo de espera ficar muito longo", diz Eliane.

Dificuldades

O processo do casal teve in?cio em 2003 e a ado??o definitiva de Vict?ria Osti Pedr?o (fotos abaixo) s? saiu dois anos e meio depois. Inicialmente, o cadastro era para um beb? de at? seis meses. "Mudamos de op??o depois de passarmos por todo o processo, quando tomamos conhecimento da ado??o tardia. Ent?o, decidimos que quer?amos um filho independente da idade e fomos abrindo o cora??o para uma crian?a maiorzinha", explica.

Depois de optarem pela ado??o tardia, Eliane e Cla?dio n?o tiveram grandes dificuldades. O contato com Vict?ria foi muito tranq?ilo. "N?o tivemos nenhum problema que o amor n?o tenha superado. Por j? estar abrigada, ela ficou insegura quanto ao fato de ser abandonada novamente", conta.

O psic?logo judicial do setor t?cnico da vara da inf?ncia e juventude da comarca de Juiz de Fora, S?rgio da Silva Lopes, (foto ao lado) diz que esta ? uma quest?o muito importante e bastante trabalhada durante o processo de ado??o.

"Junto com a an?lise psico-social trabalhamos as quest?es para diminuir a inseguran?a. Quando a crian?a passa algum tempo no abrigo, ela tem refer?ncias, j? conhece uma realidade. O novo ? que assusta. Fazemos a passagem do abrigo para a fam?lia e este processo deve ser gradativo. A crian?a passa alguns dias com os pais, depois as f?rias at? que os fantasmas v?o caindo", explica.

A ado??o tardia

Segundo Cl?udia (foto ao lado), as pessoas escolhem um determinado perfil n?o por preconceito, mas porque existe a cultura do sangue. "As crian?as mais parecidas n?o provocam estranhezas. Assim, a fam?lia tem a impress?o biol?gica. Quanto aos beb?s, eles s?o mais escolhidos, por causa do sonho do trocar fralda".

O maior medo das pessoas em adotar uma crian?a mais velha ? quanto ? dificuldade de cuidar e se adaptar. "Existem muitos fantasmas com rela??o ? hist?ria de vida e aos traumas daquela crian?a. Mas os beb?s tamb?m d?o trabalho. Todo filho d? trabalho", explica a assistente social. E completa. "Muitas pessoas perdem a chance de ver como ? bonita a ado??o. O sangue ? o que menos importa, pois toda crian?a deve ser adotada, acolhida. Existem crian?as abandonadas dentro de casa, sem afei??o. A ado??o ? definitiva".

Por isso, o mais importante ? perceber se realmente existe desejo pela ado??o. "Antes de iniciar o processo deve-se ter certeza do desejo de se ter um filho. N?o se deve fazer uma ado??o com a finalidade de substituir outro", diz o psic?logo.

Este tamb?m ? o conselho que Eliane e Cl?udio (foto ao lado) d?o. "Um filho n?o ? decis?o para apenas o homem ou a mulher. Os dois devem desejar e concordar com o momento certo de ir em busca deste sonho. ? importante ter consci?ncia de que filho n?o resolve crises conjugais e muito menos substitui a perda de algum outro filho", diz ela.

Ela ainda ressalta a quest?o do preconceito. Ele existe, porque as pessoas fazem diferen?a entre as crian?as adotadas e as biol?gicas e tamb?m, porque a conviv?ncia com estas crian?as adotadas n?o ? constante. "Realmente h? uma grande diferen?a entre alguns filhos biol?gicos e os adotivos, pois os primeiros nem sempre foram planejados e desejados, mas os adotivos sim, eles foram muito desejados, aguardados e por fim amados de maneira mais intensa".

Depois que Vict?ria passou a fazer parte do dia-a-dia do casal, muita coisa mudou. "Costumamos dizer que foi ela quem nos adotou, pois nos trouxe a realiza??o de sermos pais, amigos e companheiros. Nos trouxe responsabilidades, aconchego e alegria de viver. Tudo tem sido uma troca entre n?s onde o amor, o respeito e a confian?a tem sido fator predominante em nosso dia-a-dia, al?m da alegria de termos constitu?do uma fam?lia feliz", completa Eliane.