Sobre informação e conhecimento
Sobre informação e conhecimento
A sufocante disponibilidade de informações tende a levar os receptores à impressão de que somente a recepção destes dados basta para que haja entendimento sobre algo, para que se estruture o conhecimento, o entendimento. Desta forma, ocorrem situações em que a avaliação do cenário político é feita na base da recepção passiva de informações de um determinado canal; o julgamento de um certo acontecimento notório do país é dado a partir da perspectiva apresentada por uma específica fonte de notícias; e assim segue. No âmbito educacional, este processo aparece também quando as fontes mais fáceis e rapidamente acessíveis são transcritas como conhecimento acerca de um determinado assunto, sem que haja qualquer reflexão crítica sobre tal conteúdo.
O filósofo Michel de Montaigne escreveu em seus Ensaios, nos idos do século XVI, que é preciso valorizar mais uma "cabeça bem feita" que uma "cabeça bem cheia". Recuperando tal ideia no século XX, o também filósofo Edgar Morin, preocupado com a educação, afirmou: "o significado de 'uma cabeça bem cheia' é óbvio: é uma cabeça onde o saber é acumulado, empilhado, e não dispõe de um princípio de seleção e organização que lhe dê sentido. 'Uma cabeça bem-feita' significa que, em vez de acumular o saber, é mais importante dispor ao mesmo tempo de: uma aptidão geral para colocar e tratar os problemas; princípios organizadores que permitam ligar os saberes e lhes dar sentido".
Na mesma linha, a percepção de outro filósofo, Arthur Schopenhauer, em meados do século XIX, era a de que, em geral, estudantes e estudiosos têm em mira a informação, e não a instrução, o que significa um acúmulo de dados e informações sobre as mais diversas áreas, sem que haja capacidade e preparo para a devida avaliação, assimilação e conexão contextual. A comparação feita por ele é precisa: uma biblioteca imensa e mal organizada é menos proveitosa que uma modesta mas ordenada – da mesma forma, uma cabeça com grande acúmulo de informações pode ser perdida, confusa e inepta; mais do que uma que tem menor quantidade de informações, mas que as estrutura segundo um pensamento próprio, amadurecido.
O excesso de informações, portanto, pode ser bastante prejudicial, especialmente por dois motivos: em primeiro lugar, porque tende a sufocar qualquer reflexão crítica acerca das informações compulsoriamente lançadas sobre os receptores; em segundo lugar, porque edifica esta "ilusão do conhecimento": a crença de que as informações bastam, que elas constituem conhecimento, e que o dado recebido passivamente é retrato da verdade e, portanto, conclusão definitiva. A certeza gerada pela "ilusão do conhecimento" é ainda mais temível: ela muitas vezes pode engendrar os preconceitos, os autoritarismos, a intolerância e a violência.
É necessário que o processo formativo (educação em seus mais amplos aspectos) zele pela diferenciação clara entre informação e conhecimento, para que este seja tomado como valor, e aquela, ricamente distribuída como é, torne-se material submetido à crítica e à reflexão. Valorizar o pensamento crítico e apto para o conhecimento em detrimento da cabeça depósito-de-informações acriticamente inculcadas: este é um projeto que se deve assumir.
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Ivan Bilheiro é Licenciado em História pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF), bacharel em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), instituição na qual cursa a licenciatura na área. Especialista em Filosofia pela Universidade Gama Filho (UGF) e pós-graduando em Ciência da Religião pela UFJF.