Quarta-feira, 29 de abril de 2009, atualizada às 18h35

Resultado do Enem aumenta discussão sobre sua implantação no vestibular da UFJF

Clecius Campos
Repórter

Um dia após a divulgação das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2008, representantes da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), de escolas particulares e públicas da cidade, do Diretório Central dos Estudantes (DCE), da Associação de Professores de Ensino Superior (Apes) e vereadores debateram a decisão do Conselho de Graduação (Congrad) de utilizar as notas do exame como forma de acesso à instituição. O encontro aconteceu durante em audiência pública realizada na Câmara Municipal.

A maioria dos representantes pediu que o Conselho Superior (Consu) da UFJF reavalie a decisão do Congrad, uma vez que o prazo para que as universidades se posicionem sobre a adesão ao novo vestibular foi estendido.

O vereador que convocou a audiência, Flávio Checker (PT), pediu que o Consu aprecie a possibilidade de não implantar o Enem, como forma de seleção. "Apesar de a decisão não ter desagradado inteiramente às escolas, existe um descontentamento dos estudantes quanto à adoção desse sistema neste momento. A população pede mais diálogo com a UFJF".

Entre os argumentos daqueles que são contra a adesão, está o resultado do Enem 2008, apontando que 75% dos estudantes das escolas públicas do país estão abaixo da média nacional no exame. Para o vereador Roberto Cupolilo (Betão - PT), a utilização do Enem não caracteriza necessariamente a democratização do acesso ao ensino superior.

"Entre as mil escolas que  apresentaram melhor desempenho, 34 são estaduais e 50 federais. Mesmo que o conteúdo da prova continue explorando conhecimento e habilidade, os resultados mostram que os colégios particulares continuariam na frente".

Preparação para o vestibular

A preparação para o novo vestibular preocupa dirigentes das escolas da cidade. De acordo com o vice-diretor do Colégio de Aplicação João XXIII, José Luiz Lacerda, o processo seletivo atual não suporta o uso de dois sistemas paralelos como forma de ingresso. "Tanto o Enem quanto a primeira fase do vestibular tradicional serão processos seletivos , porém cada um com suas características. O aluno não pode se preparar para ambos ao mesmo tempo. A concepção da seleção deve ser acertada, para que as escolas possam definir suas metodologias de trabalho."

Para o Checker, o fato de o vestibular 2009 ter passado por três modificações também é preocupante. Segundo ele, não seria correto mudar as regras este ano, uma vez que os alunos já começaram suas preparações, sem conhecer as características do novo Enem. "Se não há nada que force a adesão imediata da UFJF ao novo vestibular, então, não é necessário que esta questão seja resolvida já".

Congrad irredutível

O pró-reitor de graduação da UFJF, Eduardo Magrone, ouviu os pareceres dos representantes envolvidos e voltou a afirmar que a decisão do Congrad está definida. "Os conselheiros já votaram e encaminham na próxima quinta-feira, dia 30 de abril, a resolução para o Conselho Superior." Segundo ele, a formação do Congrad prima pela diversidade e alta representatividade da população acadêmica.

Magrone esclarece ainda que a nota do Enem foi escolhida apenas como mais uma opção para o candidato, não descartando a primeira fase do vestibular. Ele assume que o novo processo não resolverá o problema das escolas públicas em relação ao acesso. "O Enem não vai promover o milagre da democratização do ensino superior. Por outro lado, o vestibular sempre foi elitista, sendo inclusive criticado pela Pesquisa Educacional Brasileira".

O pró-reitor acredita que os processos seletivos não só pautam, como definem e formatam de maneira grave o conteúdo curricular do ensino médio. "Os programas do vestibular são muito extensos. Com a adesão ao Enem, deve ocorrer um deslocamento do centro de atenção para as habilidades e competências exigidas pelo exame, mudando os olhares sobre o currículo do ensino médio."

Os textos são revisados por Madalena Fernandes