Um jogo perdido no tempo

Por

Ailton Alves 25/5/2009

Um jogo perdido no tempo

Leio nas páginas que Tupi e Sport vão se enfrentar no próximo domingo, em honra e glória da cidade, que completa 159 anos de emancipação. Será a primeira partida entre Carijós e Periquitos desde 30 de outubro de 1988. A notícia, porém - como de resto a maioria das noticias, nestes tempos de fartas e inúteis informações -, carece de exatidão. E é por enquanto apenas isso: uma notícia. A despeito do enorme esforço da Liga de Futebol em promover a partida, não há, ainda, entre a maioria dos juizforanos, nenhum interesse especial pelo confronto. Talvez porque seja um jogo entre dois times semiclandestinos: um que não joga desde sete de abril e outro que, depois de um longo e tenebroso inverno, lança mão de garotos para disputar um torneio regional. Mas temo que o desdém tenha raízes mais profundas e revele um desejo inconfessável de muitos: Juiz de Fora não tem nenhuma pretensão libertária, quando o assunto é futebol.

Não é por acaso que Tupi e Sport não se enfrentam há inacreditáveis quase 21 anos. É sintomático que aquela partida de outubro de 1988, na inauguração do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio, tenha sido uma mera preliminar de Flamengo (!?) e Argentinos Juniors (???!!!). Pouco depois desse jogo perdido no tempo, o Sport (que venceu o confronto - contra o time reserva do Galo, diga-se de passagem) desapareceu do cenário esportivo mineiro. Não demorou muito e o Tupi também mergulhou no inferno da segunda divisão das Gerais, só voltando à tona no alvorecer deste milênio.

Nada, portanto, vai mudar a história. Aquele é um jogo perdido no tempo, tristemente célebre por ser coadjuvante de flamenguistas e argentinos, ponto de partida para um período de trevas, principalmente para os lados do Verdão da Avenida.

Agora, no entanto, não custa ter esperanças. Depois de mais de duas décadas, o Tupi parece estabilizado no cenário futebolístico de Minas e se prepara, como um dos favoritos, para a quarta divisão do campeonato brasileiro. E o Sport parece se levantar, com boa participação no torneio regional e presença quase certa na terceira divisão das Gerais. Mas falta a nós, talvez, muito do espírito de David Copperfield - não o mágico e sim o personagem de Dickens: "Estas páginas propõem-se mostrar se virei a ser o herói da minha própria vida ou se alguém mais tomará essa posição."

Custa muito, então, ter esperanças. Pouca coisa parece ter mudado, quando o assunto é dependência (tanto que a partida vai ser realizada na manhã de domingo, para fugir da concorrência dos jogos da tarde: Botafogo - contra outro Sport, o de Recife - e Fluminense - que enfrenta o Náutico). Consequência direta desse estado das coisas: o Tupi acaba de perder parte do seu patrimônio - preço alto demais por ter ousado manter o time de futebol na ativa; e na última vez que outro clube local tentou se reerguer (no caso, o Tupynambás) não demorou mais quem um simples campeonato para que as ilusões virassem pó.

Com o Sport parece diferente (e todas as velas a todos os santos serão acesas para que seja diferente). Com o Tupi sempre foi diferente. Mas é impossível, por ora, tapar o sol com a peneira. Afinal, somos, todos, vítimas daquele jogo perdido no tempo.



Ailton Alves é jornalista e cronista esportivo
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