Alo?sio Tavares

Por

Alo?sio Tavares Aos 80 anos, ex-jogador do Flamengo relembra sua trajet?ria e
conta experi?ncias inesquec?veis que passou pelo futebol

Guilherme Oliveira
Colabora??o*
16/05/2007

Ficar diante dos holofotes nunca foi o seu forte. Ex ponta-direita do Flamengo no in?cio da d?cada de 50, e com passagens pelos principais clubes de Juiz de Fora, Sport, Tupi e Tupinamb?s, Alo?sio Tavares sempre preferiu dividir as gl?rias e tristezas que viveu no futebol com seus companheiros de time, bem longe das badala?es.

Mas quis o destino que ele tivesse presente diante de quase 200 mil pessoas na abertura do Est?dio M?rio Filho, o Maracan?, no dia 16 de junho de 1950 defendendo as cores da Sele??o Carioca contra a Paulista. Foi dele o passe para o primeiro gol no est?dio convertido por Didi. "Quando sa? do t?nel para entrar no gramado eu cheguei a trope?ar de tanta gente que tinha. Era uma coisa deslumbrante, aquilo me marcou", relembra.

Hoje, com 80 anos, Alo?sio traz na mem?ria, bem l?cida, as hist?rias de uma ?poca em que o futebol n?o tinha tanto glamour. Nas pernas, as marcas das entradas violentas dos defensores ainda s?o vis?veis; no ?lbum, as fotos de um passado que ele se orgulha e que al?m de ajudar a definir sua personalidade lhe deu condi?es para realizar seu verdadeiro sonho: ser dentista.

Esportista nato, desde os 13 anos praticando diversos esportes no col?gio Granbery e logo depois vestindo a camisa do Sport Club, como juvenil, n?o demorou muito para que ele fosse visto pelos tais "holofotes" do futebol que o fez entrar de vez no cen?rio nacional.

Convites atr?s de convites

Primeiro veio o convite para integrar a Sele??o Mineira de futebol, fato dif?cil visto que um atleta de Juiz de Fora dificilmente era convocado. "Fui o primeiro jogador a ser convocado juntamente com o Zu e o Chico Maroca. Quando jogava um time de Belo Horizonte com um de Juiz de Fora era uma guerra", lembra, destacando a rixa que havia entre as duas cidades.

Com as boas atua?es, surgiram convites do Flamengo, Fluminense e Vasco. Mesmo com apenas 21 anos, Alo?sio j? come?ava a demonstrar sua forte personalidade e como ele mesmo diz o direito de exigir, "pois nunca teve rabo preso com ningu?m". Na ?poca, ele disse que s? iria para o Rio se arrumassem uma faculdade para ele prosseguir nos estudos de odontologia que havia iniciado em Juiz de Fora. Em ?pocas dif?ceis, com mais tr?s irm?os, bancar os estudos n?o era nada f?cil para esse "cidad?o juizforano" nascido em Petr?polis.

Acertou com o Flamengo que o matriculou na Universidade Federal do Rio de Janeiro, ent?o se viu mergulhado nas belezas da cidade maravilhosa, mas sempre com o pensamento no futuro. "No meu contrato ficava claro que eles n?o podiam me negar de estudar. O jogador, na ?poca, era tido como um marginal, 90% n?o sabiam nem escrever o nome. A minha finalidade era jogar futebol para pagar meus estudos. Queria fazer um p? de meia para eu poder estudar, alcan?ar aquilo que desejava. Nunca passou pela minha cabe?a ser profissional de futebol", diz.

Trajet?rias, conquistas e escolhas

No Flamengo, a grande presen?a do torcedor rubro negro nos est?dios faziam com que todos os jogos fossem uma verdadeira festa. "Todos os jogos tinham uma super renda, onde ?amos, em qualquer canto do pa?s ou na Europa era uma festa", conta.

As v?rias excurs?es pela Europa e a hist?rias de uma ?poca em que o futebol era jogado por amor durou pouco tempo, Alo?sio ficou somente tr?s anos no clube da G?vea e decidiu ir embora. "Decidi abandonar a carreira de jogador. Tinha formado em odonto. Podia quebrar uma m?o, um bra?o, ent?o preferi abandonar. O futebol abriu as portas para mim e me encaminhou para a profiss?o que abracei", conta.

O caminho poderia ter sido diferente se ap?s a excurs?o que a equipe rubro negra realizou na Fran?a, o presidente do Flamengo tivesse aceitado a proposta de negociar o jogador. Contra o Racing de Paris, Alo?sio diz que fez a melhor partida de sua vida , quando marcou dois gols. "Os dirigentes franceses vieram me procurar para que eu atuasse por l?. Mas o presidente do Flamengo disse que aceitaria negociar qualquer jogador, menos eu", diz querendo ter aceitado a oportunidade.

Na passagem pelo Flamengo ele n?o conquistou t?tulos pela equipe profissional, somente pelo aspirante. "Nunca passou pela minha cabe?a ser campe?o para me promover. O que promove um atleta s?o os gols. As coisas que fiz na vida, sempre procurei fazer o correto. Eu ficava treinando sozinho depois dos treinos. Sempre fui muito perfeccionista".

Aprendizados com o futebol

"O futebol me deu disciplina, era muito moleque, nunca fui desleal. Sempre quis ajudar os meus companheiros, era o porta voz deles. Nunca gostei de ser chamado a aten??o em nada. Era o primeiro a chegar e o ?ltimo a sair. No primeiro jogo que fiz pela Sele??o Mineira cheguei de trem em Belo Horizonte um dia antes da partida, o treinador perguntou se eu tinha condi?es de atuar. No dia seguinte, joguei e marquei quatro gols, depois saiu estampado nos jornais. Aquilo para mim n?o valeu de nada, mas sim a amizade com os meus companheiros, porque sozinho n?o se ganha nada. Nunca fui de badala??o isso ? para quem quer aparecer", conta.

Para Alo?sio, o melhor jogador que ele viu atuar foi o seu companheiro de Flamengo, Zizinho. "Ele era uma pessoa espetacular. Igual, na minha vida n?o vi", diz.Elogios tamb?m para o treinador Fl?vio Costa. "N?o s? como treinador mas como pessoa, foi o melhor".

Depois de jogar no Flamengo, o atleta voltou para Juiz de Fora e recebeu um convite do Tupi para continuar a atuar. Depois voltou para o Sport e chegou a ser treinador do Tupinamb?s. Terminou a carreira com 29 anos. "A idade vai chegando e voc? sabe que tem que encerrar. O ideal ? dos 21 aos 30 para voc? se definir como jogador e ganhar dinheiro. Depois, os movimentos passam a ser limitados, o racioc?nio tamb?m n?o ? o mesmo.

Impress?o do futebol atual

Do futebol do seu tempo aos atuais, muita coisa mudou. Para ele, jogar agora ? bem mais f?cil. Encarar os campos do Madureira, Olaria e do Bangu, locais em que o torcedor ficava a poucos metros dos jogadores n?o era tarefa f?cil. "Voc? ia bater um lateral e recebia uma "guardachuvada" na cabe?a. A vantagem ? que nossa torcida sempre foi maior que a dos outros".

Somado a isso as jogadas desleais que raramente eram punidas pela arbitragem. "Quando recebia a bola corria em dire??o a grande ?rea, porque fora dela os defensores te derrubavam e o juiz mandava seguir e ainda falava que futebol era para homem. Se fosse jogar hoje seria uma beleza"

Desde que abandonou os gramados, ele nunca mais voltou a um est?dio de futebol, jogos s? pela televis?o. "Vejo o futebol por um prisma diferente. Quem lidou dentro das quatro linhas conhece o dia a dia de um jogador de futebol. Essa viol?ncia toda e o desrespeito tamb?m fazem com que eu veja os jogos em casa.

*Guilherme Oliveira ? estudante de Comunica??o Social da Universidade Federal de Juiz de Fora