Os falsários

Por

Ailton Alves 3/8/2009

Os falsários

O torcedor de futebol é antes de tudo um falso.

Não que haja novidade aqui. Nos dias de hoje, falseia-se demais. No telefone, nos e-mails e no contato direto. É um tal de “bom que você ligou (ou escreveu)... estava com saudades”, encerrando – as ligações ou as mensagens eletrônicas – com um indefectível “abraços“ (!?) ou “beijos” (?!). Isso quando não se atende o invento de Graham Bell com um “oooooiiiiiii” tão cheio de vogais que parece música baiana, mas na verdade quer dizer: “ai meu Deus, estou sem tempo e paciência para atender agora”. Nas ruas é “bom te ver”, “vamos tomar uma”, “aparece lá em casa”...Na maioria das vezes é verdade, mas ali naquela hora, a frase e os convites saem meramente para cumprir uma convenção social.

Mas...Acho que exercitamos essas falsidades nos estádios de futebol. O torcedor faz isso desde que a bola é o mundo. O time de coração é ruim de doer, não tem nenhum craque, maltratou a pelota durante 90 minutos, mas – sabe-se lá os motivos – venceu. Pronto. Saímos da partida anunciando: “Rumo a Tóquio” (para disputar a final do título mundial, de preferência contra o Real Madrid de Kaká e Cristiano Ronaldo).

E como nós, os torcedores, somos levianos com os árbitros de futebol! Os nossos “craques” tropeçam na bola e caem dentro da grande área. Sabemos que não foi nada, no máximo falta de jeito com a pelota, mas gritamos com toda a força e convicção do mundo: “Pênalti!!!”. Se o juiz marca, erradamente, a penalidade, urramos de felicidade e reafirmamos toda a nossa fé na humanidade: “Sim, o mundo tem jeito, pois ainda existem pessoas honestas”. Se o árbitro, acertadamente, manda o jogo seguir, um coro de milhares de vozes decreta: “Ladrão!!!, Ladrão!!!”, acrescentando alguns “elogios” à mãe do profissional do apito.

E como nós, os que frequentamos arquibancadas, somos volúveis! Rodada por rodada pegamos a tabela do campeonato e marcamos com um asterisco o resultado que mais nos convém, o que mais ajuda o time do coração. A cada jornada isso muda. Primeiro queremos que o Paulista aplique uma goleada no Friburguense. Em seguida torcemos desesperadamente para que o Friburguense (a equipe antes execrada) vença o Madureira. Vai entender...

Mas...dizem os acadêmicos, sociólogos, psicólogos e palpiteiros em geral que tudo isso é normal. Ver qualidades inexistentes no nosso time é uma cegueira típica da paixão que o futebol provoca, xingar o árbitro é catarse e torcer pela derrota dos outros participantes do campeonato faz parte da competição.

Pode ser, pode ser... Ao contrário das outras paixões, ninguém inventa um amor por um time de futebol.

O torcedor de futebol é, então, antes de tudo um autêntico. Nunca conheci alguém que tivesse, ao longo da vida, mudado de time. Por isso, só por isso, ele, entre outras coisas, calunia pessoas pelo simples fato de elas soprarem um apito e usa outras equipes em benefício próprio. É o grito da paixão. Perdoável.

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Classificado para a segunda fase, o Tupi arrancou um empate em Jundiaí (0 a 0 com o Paulista). Faltam 11 jogos e 89 dias para o Galo ganhar seu primeiro título nacional.

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Rio Branco (AC) x ASA (AL), Icasa (CE) x Paysandu (PA), América (MG) x Brasil (RS) e Caxias (RS) x Guaratinguetá (SP). Esses são os duelos das quartas-de-final da Série C do Campeonato Brasileiro. Os quatro vencedores estarão na Série B em 2010. Duelos imperdíveis.

Sampaio Corrêa (MA), Confiança (SE). Mixto (MT) e Marcílio Dias (SC) cairam para a quarta divisão do futebol nacional. Estão perdidos.

 


Ailton Alves   é jornalista e cronista esportivo
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