Conflito de gera?es

Por

Ailton Alves 8/2/2010

Conflito de gerações

Nós, os velhos, temos a mania de diminuir os jovens. Como se tivéssemos o monopólio de um saber que só se adquire com o tempo. Em todas as áreas, até nos assuntos do coração, achamos que podemos dar conselhos: “Esses moços, pobres moços, se soubessem o que eu sei, não amavam, não passavam aquilo que já passei. O que eu peço, a esses moços, é que acreditem em mim” – e coisas do gênero. Via de regra não somos ouvidos e, pior, tratados como chatos, pedantes e decadentes. E está tudo bem e certo: eles, os jovens, são realmente os tais e não precisam mesmo de ouvir alguém, como eu, que já dobrou o Cabo da Boa Esperança e principalmente o das Tormentas.

Digo tudo isso porque passamos (nós, os velhos) a semana inteira torrando a paciência de um jovem, de nome Leonardo Condé, que, aos 31 anos, é o técnico do Tupi Futebol Clube. Dizíamos (nós, os donos da verdade) que o nosso Galo poderia ter vencido o Atlético, dentro do Mineirão, e só não vencemos porque faltou ambição, maturidade etc e tal, além de criticar a não substituição do goleiro machucado.

Pois bem. É lógico que Leonardo Condé não nos ouviu (como escrevi lá em cima, os jovens não precisam mais ouvir os velhos) e muito menos deu bola para críticas tão descabidas, mas que deu uma sábia resposta dentro de campo, isso deu.

O Tupi já vencia a Caldense por 2 a 0 (gols dos veteranos Marcelinho e Ademilson) quando reparei na ousadia do jovem. Leonardo Condé tinha arriscado, e muito, na armação do time, ao colocar o garoto Michel, embora com a camisa 6, no meio de campo e o igualmente jovem Chiquinho, ainda que com a camisa 11, na ala esquerda. Isso desnorteou a equipe do Sul de Minas e foi fundamental para a estrondosa goleada aplicada pelos Carijós.

Sei que o termo não faz mais nenhum sentido (muito menos depois da morte, dia desses, de J.D. Salinger, autor do “Apanhador no Campo de Centeio”) mas a verdade nua e cozida é que a vitória do Tupi sobre a Caldense, por 5 a 1, e suas explicações se transformaram num visceral conflito de gerações.

Pelo lado dos jovens, Leonardo Condé deixou claro, nas entrevistas, que sua ousadia foi planejada e arriscada. Michel também não escondeu, em suas atitudes em campo, que não se intimidou com a missão recebida. Mesmo tendo colocado, inadvertidamente, a cabeça na bola, no lance que originou o gol da Caldense ele não se abateu. Chutou bolas a gol que deveriam ter sido passadas e até broncas deu em alguns companheiros.

Pelo lado dos veteranos, um show de humildade. Marcelinho (que fazia parte daquela fantástica geração de juniores de 2000 e depois correu mundo) estava bastante sereno depois de marcar seu primeiro gol com a camisa Carijó. E Ademilson negou inúmeras vezes seus três gols e sua fundamental participação no jogo. Creditou tudo a um trabalho de equipe. Nem mesmo quando lembravam que ele era – em terra de Cléber, Tardelli e Euler – o artilheiro do campeonato, Ademilson deixava transparecer qualquer vaidade.

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Jovens, velhos e homens de fé não têm mais nenhuma dúvida: faltam 14 jogos e 91 dias para o Tupi ser campeão mineiro.

 


Ailton Alves é jornalista e cronista esportivo
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