Uma manh? quase especial

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Uma manh? quase especial

Ailton Alves 01/09/2008

O insosso empate do Tupi contra o Arax?, na manh? de domingo, ?ltimo dia de agosto do Ano da Gra?a de 2008, quase foi temperado por um lance especial. Ouvi pelo r?dio - estava no Bairro Vila Esperan?a II - que aos 44 minutos do segundo tempo o goleiro do Galo, Marcelo Cruz, cruzou o campo para tentar fazer o gol da vit?ria. At? chegou a cabecear a bola, que, no entanto, foi para fora. Seria, caso desse certo, in?dito na hist?ria carij? que conhe?o e simplesmente sensacional.

O s?o-paulino Rog?rio Ceni e, antes dele, o paraguaio Chilavert banalizaram a possibilidade. Fizeram e fazem tantos gols que quase nos esquecemos o quanto ? especial um goleiro - logo quem tem a miss?o de evita-los - atingir a rede advers?ria.

Puxo pela mem?ria (que j? n?o est? t?o precisa assim) e descubro que nunca vi, ao vivo, de arquibancada, isso acontecer. J? vi pela televis?o, algumas vezes.

A ?ltima lembran?a dessa natureza ? de 2003, numa noite de quarta-feira realmente especial. Em Belo Horizonte, a capital de todos os mineiros, mais precisamente no Est?dio Magalh?es Pinto, o Mineir?o.

Naquele dia tudo estava preparado. Havia um ex-goleiro, Raul, que reinou naquele peda?o de grama por anos a fio e que voltava ao lar, 13 anos depois, como t?cnico do Juventude, de Caxias do Sul. Havia um ex-atacante, Marcelo, o parceiro de Reinaldo no ataque do Atl?tico dos anos 70, que, como agora, era o t?cnico interino do Galo de BH.

Por conta desses dois ex-jogadores havia a hist?ria. Raul e Marcelo j? protagonizaram grandes duelos, ao cair da tarde, naquele mesmo espa?o, ali a caminho da Lagoa da Pampulha e ao lado do zool?gico. Um era raposa, outro galo, num tempo em que a identifica??o jogador-clube-torcida era total. At? onde minhas reminisc?ncias podem alcan?ar, deu Raul (mesmo porque o Cruzeiro era melhor do que o Atl?tico naquela ?poca). Quando a disputa era individual e contra Reinaldo, Raul perdia sempre, pelo simples fato de que todos os goleiros eram v?timas do Rei, o maior craque que j? vi jogar, ao vivo.

Mas, naquela quarta-feira, havia ainda um goleiro louco, Eduardo, do Atl?tico (hoje no N?utico), que aos 45 minutos do segundo tempo abandonou a sua meta para tentar o gol. N?o ? uma cena t?o rara assim de se ver. Muitos goleiros fazem isso, sem sucesso. Parece que a atitude ? mais uma justificativa perante a torcida, um ato para a plat?ia, sem muita convic??o.

Com Eduardo foi diferente. Ele foi para marcar o gol e, mais importante, n?o teve, por nenhum momento, medo de ser feliz.

E n?o foi a primeira vez. Na semifinal do Campeonato Carioca de 2002, ele tamb?m marcou um gol, de cabe?a, jogando pelo Bangu, contra o Fluminense, no Maracan?. Mas o tento foi anulado. Por isso, e tamb?m porque n?o havia glamour no torneio, aquela noite n?o passou para a hist?ria, n?o foi especial.

A quarta-feira que cito sim, ficar? para a eternidade. Por causa de Eduardo, mas principalmente e ironicamente por Raul. Sereno como sempre foi, o ?dolo eterno dos cruzeirenses disse, brincando, que recebera um "presente de grego". Depois, a s?rio, afirmou categoricamente que o gol era um presente para todos os goleiros, por tudo que eles passam.

Isso ? que ? ser fino e entender exatamente o que ? o futebol.

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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