Eles:Contar a adoção
Ado??o: conto ou n?o conto? Diga sempre a verdade. Mais que evitar problemas, essa conversa demonstra compromisso com a hist?ria da pessoa que se escolheu para amar
Fernanda Leonel
Rep?rter
29/06/06
Nos quesitos amor e inten??o de se fazer o melhor pelo pequeno ou pequena n?o h? discuss?o. Mas os m?todos que cada respons?vel entende como ideal sim! Como destaca a psic?loga L?cia Bargiona Geara (foto abaixo), muitos pais ainda acreditam que podem sustentar essa mentira e acabam adiando um momento que ? imprescind?vel.
Tentar adiar continuamente essa conversa, acaba refletindo, mesmo que sem querer, uma excessiva preocupa??o dos pais com eles mesmos. Como se tentassem evitar um momento dif?cil, que n?o deixa de ser assim, mas que evita outros piores ainda.
"Mentira tem perna curta. E essa ? a maior verdade que existe. Os pais tem que pensar em fazer isso antes que algu?m fa?a. Sempre tem algu?m que sabe da hist?ria e que pode "solt?-la" de maneira impr?pria", complementa Geara.
Para ela, dizer a verdade, mais que fundamental, ? um compromisso com a hist?ria de quem se escolheu para amar. Demonstra respeito com uam pessoa que agora faz parte da vida comum de maneira t?o intensa.A psic?loga aconselha que os pais, a partir do momento que pegaram a crian?a para criar, coloquem express?es no repert?rio habitual da fam?lia que fa?am com que ela se acostume com a id?ia de que algumas crian?as no mundo s?o "filhos de cora??o" e que outras s?o "filhos de barriga", mas que o amor ? sempre enorme em todos os dois casos.
Como destaca L?cia, a palavra ado??o n?o deve ficar estigmatizada, porque at? que o filho ganhe certa maturidade, classificar ou repetir tal classifica??o pode gerar efeito contr?rio: o filho pode se sentir diferente demais.
Mas n?o "estigmatizar" n?o quer dizer "esconder". Durante toda a inf?ncia devem existir conversas sobre a ado??o, nas quais as crian?as tem que suas perguntas respondidas com honestidade e clareza.
Como e quando fazer?
At? os tr?s anos de idade as crian?as n?o costumam demonstrar qualquer interesse sobre ado??o ou o seu significado. Antes dessa idade, comece a usar frases que fa?am com que seu filho v? entendendo as raz?es e boa vontade da ado??o.
Fale frases cheias de ternura, para que os pequenos as associe a sentimentos positivos. "Estou muito feliz de ter adotado um menino t?o carinhoso como voc?". "Meu filho, o momento mais feliz de nossa vida foi o dia em que adotamos voc?".
Entre tr?s e cinco anos, os filhos come?am a fazer perguntas do tipo "De onde v?m as crian?as", "Eu vim da sua barriga?" Explique ao seu filho as maneiras como o beb? vem ao mundo; que todas as crian?as devem ter uma fam?lia e que a ado??o ? uma maneira de conseguir um pai, uma m?e e uma fam?lia para os beb?s que nasceram em outras barrigas. Mas que os que nasceram em outras barrigas s?o t?o queridos e amados pelas m?es adotivas como se tivessem nascidos delas.
Essa ? uma forma positiva de deixar as coisas claras, que vai preparando a
crian?a para a recep??o da not?cia. Mas se voc? n?o conseguir fazer isso at?
os cinco anos de idade, que ? o recomendado, L?cia Geara aconselha os pais
esperem que a fase que vai dos "cinco aos sete" anos passe.
Nunca ? demais insistir no fato de que todo adolescente reage como um adolescente, e que, se acertar em um assunto t?o delicado com algu?m que est? mais revoltado e impaciente pode ser muito mais dif?cil. Como brinca L?cia, se o pais n?o contaram at? a adolesc?ncia, v?o entrar em um jogo perigoso, porque o conselho ? que ele espere que o filho complete pelo menos 17 anos para que o assunto "volte ? pauta", mas, ao mesmo tempo, corre-se o risco de se enfrentar uma das piores fases para explica??o da mentira, caso ela seja descoberta.
A pr?tica
Matheus Hugo Rezende, est? vivendo a experi?ncia da paternidade pela
primeira vez. Ele e a esposa, St?fani, adotaram J?lio, logo que ele saiu da
maternidade. Como explica Matheus, na casa de seus pais trabalha uma senhora como
dom?stica h? muitos anos que ? considerada como que da fam?lia. Foi essa
senhora, a dona Magali, que avisou que uma sobrinha dela ia ter mais uma
crian?a e que n?o ia ter condi?es de criar. Magali j? sabia da hist?ria do filho da patroa e imaginou que a hist?ria ia
ficar boa para ambos os lados. Como conta Matheus, na ?poca da ado??o, a m?e
do beb? chegou a dizer que ficava com o cora??o menos apertado porque
conhecia a fam?lia que agora ia ser do seu filho. E que ela esperava que
eles o criassem bem.
O pai acrescenta ainda que vai ajudar o filho a entender toda a sua hist?ria, e que, se J?lio, em algum momento da vida quiser procurar os pais biol?gicos, vai dar todo apoio.
Essa ? atitude que a psic?loga L?cia Geara diz ser a mais v?lida para aplica??o pelos pais. Ela afirma que a crian?a tem o direito de saber toda a sua hist?ria e, que apesar de muita gente acreditar que n?o, cada uma vai tra?ando sua "necessidade de informa??o" segundo a pr?pria personalidade.
"Responda sempre o que ela quer saber. N?o omita nada. Mesmo que a hist?ria dela for um pouco triste. Cada pai ama o suficiente para traduzir a vers?o, sem traumas e sem mentiras", resume a psic?loga. Para L?cia, o importante ? que a crian?a se sinta amada, parte daquela fam?lia que a abrigou, e que entenda que tudo foi feito para o bem dos dois lados.