Atirador na Bahia propagava discurso de ódio e revelou ataque em rede social

Por JOÃO PEDRO PITOMBO

SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - O adolescente que entrou armado em uma escola, atirou contra colegas e matou uma estudante nesta segunda-feira (26) em Barreiras (875 km de Salvador) divulgou o passo a passo do ataque em uma rede social, na qual também propagava discurso de ódio.

A vítima do ataque foi identificada como Geane de Silva de Brito. Ela tinha 19 anos, era aluna da escola e cadeirante.

"Irá acontecer daqui quatro horas e eu estou bem de boa. Estou tão calmo, nem parece que irei aparecer em todos os jornais", afirmou o adolescente em sua última postagem no Twitter.

O atirador também publicou uma carta de despedida na última quinta (22) e postou mensagens em que disse que "o dia do massacre está chegando" e dava a entender que estaria morto nos próximos dias.

As postagens foram feitas em uma conta no Twitter com um pseudônimo, mas a autenticidade foi confirmada à Folha por pessoas ligadas à investigação. A conta foi suspensa pela empresa por violar as regras da rede social.

Nas mensagens, o adolescente fez uma espécie de passo a passo do seu ataque. Postou fotos usando uma touca ninja e segurando uma faca, afirmou que a escola não tinha câmeras de videomonitoramento e que tinha feito uma bomba caseira com pregos.

O autor dos disparos tem 14 anos, é filho de um policial da reserva e também estuda na escola.

Segundo a prefeitura, ele havia sido transferido de outra unidade de ensino de Brasília em maio deste ano. Era aluno irregular e costumava faltar às aulas com frequência.

Nas redes, o rapaz também propagava discurso de ódio contra gays, lésbicas e nordestinos. Também dizia ser um ser superior.

"Sai da capital do Brasil para o 'merdeste' e nunca pensei que aqui fosse tão repugnante. Lésbicas, gays e marginais aos montes, acham que são dignos de me conhecer e conhecer minha santidade. Os farei clamar pela minha misericórdia, sentirão a ira divina", afirmou.

O jovem também participava de comunidades e fóruns que discutiam crimes notórios e assassinos em série.

Em nota, a Secretaria de Segurança pública da Bahia disse que os perfis em redes sociais do adolescente serão analisados pela Polícia Civil, que também investiga o acesso do garoto à arma de fogo.

"Solidarizo-me com a família da estudante e a todo o corpo estudantil nesse momento trágico. Determinei prioridade na elucidação desse caso, até para que evitemos novos episódios", disse o secretário estadual de Segurança Pública, Ricardo Mandarino.

O secretário afirmou que casos como este se devem, em parte, à política de facilitar a compra de armas: "Estamos importando o que há de pior nos Estados Unidos, em matéria de segurança pública. Essa cultura armamentista, que muito tem infelicitado o país irmão, com a alta incidência de homicídios por motivos fúteis".

O caso aconteceu por volta das 7h20 desta segunda na Escola Municipal Eurides Sant'Anna, unidade de ensino militarizada e gerida em parceria entre a Polícia Militar da Bahia e a Prefeitura de Barreiras.

Em nota, a PM disse que o jovem pulou o muro da escola e atingiu a estudante com golpes de arma branca e um disparo de arma de fogo. A vítima morreu no local.

Na tentativa de fuga, o autor dos disparos foi atingido por um tiro que partiu de uma outra pessoa.

O atirador foi levado em uma ambulância do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) para o Hospital Geral do Oeste. Não há informações sobre o seu estado de saúde.

Segundo a polícia, foram encontrados com o jovem um revólver calibre 38, duas armas brancas e um objeto que aparenta ser uma bomba caseira. O material foi apreendido.

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil da Bahia, que confirmou que o autor dos disparos é menor de idade e já foi apreendido.

Em nota, a Prefeitura de Barreiras classificou o caso de "inesperada tragédia". Também disse que está prestando apoio e assistência aos estudantes e seus familiares e se solidarizou com a família da aluna assassinada.