Dois em cada cinco estudantes no Brasil precisam de apoio psicológico, diz pesquisa

Por LUCAS LACERDA

Restauração da Escola Estadual Delfim Moreira

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pesquisa Datafolha aponta que dois em cada cinco estudantes no Brasil precisam de apoio psicológico, e que o grupo também tem dificuldades de controlar as emoções como raiva e frustração. Quem estuda em escolas que oferecem esse suporte e usa os serviços se diz mais integrado, mais feliz no dia a dia e mais envolvido com o ambiente escolar.

A pesquisa, divulgada em março deste ano, foi realizada pelo Datafolha a pedido da Fundação Lemann, do Itaú Social e do Banco Interamericano de Desenvolvimento BID. O objetivo era mapear a visão das famílias e de estudantes sobre o primeiro ano de retorno às aulas após a pandemia de Covid-19.

O levantamento ouviu 1.323 responsáveis de estudantes e 1.863 alunos entre seis e 18 anos matriculados em escolas públicas municipais e estaduais, de ensino fundamental e médio.

A necessidade de apoio psicológico é a principal questão relatada pelos estudantes (40%), segundo a pesquisa, seguido por dificuldade para controlar emoções como raiva ou frustração (38%), despreparo para atividades escolares (34%) e dificuldade para manter rotina de estudos.

De forma geral, esses problemas foram relatados por mais familiares no último levantamento, em relação a pesquisa anterior, de maio. Segundo o levantamento, 44% das escolas ofereçem apoio --23% dos estudantes desses locais disseram ter usado os serviços.

Para enfrentar problemas de saúde mental, os principais entraves são as faltas de profissionais suficientes para apoio psicológico (62%), de experiências para ensinar a lidar com emoções e de proteção da privacidade dos alunos com problemas (ambos com 11%).

Para Daniel de Bonis, diretor de conhecimento, dados e pesquisa da Fundação Lemann, questões como bullying, alunos menos integrados ou com problemas familiares encontram melhor amparo na escola, mas outros exigem uma capacidade além da que é oferecida.

"Temos visto que temas de depressão, episódios violentos e abuso de substâncias geram um contingente que escapa à capacidade que a escola tem de resolver sozinha."

Ele diz que professores podem ajudar quando formados para mediação, resolução de conflitos, mas que a solução exige uma política pública com psicólogos e assistentes sociais integrados às redes de ensino.

A pesquisa também aponta que os responsáveis pelos estudantes elegeram como prioridade do governo a educação (78%), com vantagem sobre saúde (66%) e segurança pública (21%). Segundo Bonis, isso pode ser reflexo do fechamento de escolas durante a fase mais restritiva da pandemia.

"A pandemia aproximou a família do processo educacional, porque quando as escolas fecharam, percebemos o tamanho e a complexidade disso."

Em relação a eventos extremos, como o ataque à escola Thomazia Montoro, na capital paulista, a sociedade precisa mostrar que está do lado da escola, diz Bonis. Para ele, isso é feito com políticas de saúde pública e de segurança integradas às redes de ensino.