Chuva abre cratera em rua de Maresias, e moradores passam a noite sem dormir em São Sebastião

Por REGINALDO PUPO

SÃO SEBASTIÃO, SP (FOLHAPRESS) - Chuvas de forte intensidade atingiram o litoral de São Paulo desde a noite desta quarta-feira (24) causaram danos em diferentes cidades, como em São Sebastião, onde a prefeitura acionou sirenes de alerta para orientar a população de áreas de risco a buscar abrigos.

Segundo a Defesa Civil, a chuva continuava persistente na cidade por volta das 12h. Foram registrados alagamentos nos bairros Juquehy, Barra do Sahy, Barra do Una, Camburi e Boraceia.

Na Na Vila Sahy, comunidade que fica na área de encosta do lado oposto da praia de Barra do Sahy, a madrugada foi tensa para moradores. Muitos saíram de suas casas temendo novos deslizamentos, como os que ocorreram no Carnaval do ano passado, quando 64 pessoas morreram soterradas --na época, outra morte foi registrada em Ubatuba.

Moradores do bairro entraram em desespero quando a prefeitura acionou as sirenes por volta das 21h desta quarta-feira. Foi a primeira vez que o sistema foi colocado em prática desde a tragédia.

Uma mensagem pedia que a comunidade se dirigisse aos pontos de encontros criados após a catástrofe. Diversas famílias deixaram suas casas e se dirigiram em busca de abrigo em residências de parentes ou amigos. Outras permaneceram em vigília durante toda a madrugada.

Às 23h35, a Defesa Civil de São Sebastião emitiu um alerta de "movimento alto de massa", que indica alto risco de deslizamentos e inundação.

Uma escola foi aberta pela prefeitura em Barra do Sahy para receber eventuais desabrigados ou desalojados do bairro e da Vila Sahy. Até 0h15 desta quinta, um casal havia procurado o abrigo na Escola Municipal Henrique Tavares de Jesus. O espaço tem capacidade para até 60 pessoas. A prefeitura disponibilizou um ônibus na entrada da Vila Sahy para levar desabrigados até a escola.

Nesta amanhã, outra unidade de ensino, a Prof. João Gabriel de Santana, foi aberta como ponto de abrigo em Toque-Toque Pequeno, na costa sul. Oito pessoas de três famílias, incluindo quatro crianças, foram retiradas de suas casas na região em razão do risco.

A menos de 10 quilômetros dali, na praia de Boiçucanga, algumas casas e comércios ficaram alagados devido ao nível de um rio que cruza o bairro subir acima do normal. A correnteza criada pela força das águas levou bicicletas e caçambas de lixo.

Em Juquehy, também na região sul, moradores correram para tentar evitar que a água da chuva atingisse o interior das residências. Sofás, geladeiras, camas e aparelhos eletrônicos foram suspensos para não serem afetados pelas águas, que chegaram à altura das portas de algumas casas.

Na região norte, diversos bairros ficaram alagados, como Portal da Olaria e Pontal da Cruz. A rodovia Rio-Santos, que corta o município, ficou alagada em diversos pontos. Alguns trechos ficaram totalmente submersos, impedindo o trânsito de veículos e até de caminhões.

Na região de Maresias, uma das mais baladas da cidade, o temporal provocou uma cratera na rua Maria Prudência. Segundo a Secretaria de Obras, houve o rompimento de tubulação de drenagem urbana, atingiu a base do pavimento e causou o solapamento da via.

Outras cidades do litoral são afetadas pela chuva

Outros municípios do litoral norte também foram afetados pelas chuvas. Em Caraguatatuba, vizinha a São Sebastião, vários bairros e a região central tiveram ruas alagadas e ficaram sem energia elétrica. A água invadiu casas e comércios.

Houve queda de energia, e o fechamento da rodovia dos Tamoios, por risco de deslizamento, dificulta o acesso da concessionária à cidade. Por volta das 21h30, a serra antiga, principal ligação entre o litoral norte e o Vale do Paraíba, foi fechada pela concessionária por questões de segurança. O volume de chuva acumulado nas últimas 72 horas na Tamoios ultrapassou os 100 mm, de acordo com medições feitas pela própria concessionária, causando o risco de queda de barreiras no trecho, segundo a empresa.

A serra antiga atualmente é utilizada para descida. A subida é feita por uma nova estrada, composta por quatro túneis. É por ela que os carros terão de descer para o litoral norte enquanto durar a interdição, no sistema pare e siga. A serra antiga é fechada sempre que o acumulado de chuva atinge 100 mm.

No decorrer da madrugada, a região registrou deslizamentos de terra e quedas de árvores em diversos pontos da rodovia Rio-Santos. No bairro Getuba, o transbordamento de um rio e a queda de uma barreira interditou os dois lados da pista, gerando congestionamento e prejudicando a chegada de turistas. A pista foi totalmente liberada por volta das 10h.

Em Bertioga, a forte precipitação, acompanhada por ventos de 30 km/h, começou ainda no meio da tarde e alagou ruas de diversos bairros. Um carro estacionado foi atingido por um poste de eletricidade e ficou parcialmente danificado. Ninguém se feriu.

As chuvas também provocaram o desabastecimento de água em alguns bairros dos quatro municípios do litoral norte.

Segundo a Sabesp, a lama, galhos e outros materiais arrastados nos mananciais prejudicam a captação e o tratamento da água. Em Caraguatatuba, os bairros Massaguaçu, Getuba, Morro do Chocolate, Fazendinha, Santa Rosa, Capricórnio I, II e III, Cocanha, Delfim Verde, Jardim do Sol, Morada do Sol, Parque Imperial, Parque Patrimônio, Portal Fazendinha, Santa Rosa e Verde Mar, todas na região norte, estão com intermitência no abastecimento.

Em Ubatuba, os sistemas operam em modo de atenção. Já em Ilhabela, as regiões afetadas foram Água Branca e Pombo, incluindo os bairros Barra Velha, Perequê, Itaquanduba, Itaguassu, Saco da Capela, Engenho d'Água, Vila, Santa Tereza, Pedra do Sino, Armação, Curral, Praia Grande, Feiticeira, Portinho, Ilhote e Piúva.

Em São Sebastião, os bairros mais afetados são Maresias, Boiçucanga e Paúba.