Presidente da Alerj, Bacellar passou de nome forte da direita para eleição a alvo da PF
RIO DE JANEIROR, RJ (FOLHAPRESS) - O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Rodrigo Bacellar (União Brasil), chegou a ser o principal nome da direita fluminense para disputar o governo do estado em 2026.
A articulação previa que Cláudio Castro (PL) deixaria o cargo para concorrer ao Senado e abriria caminho para que o deputado assumisse o Palácio Guanabara por seis meses, entrando na eleição com a máquina na mão.
O plano começou a ruir em 2024 e implodiu nesta quarta-feira (3), quando Bacellar foi preso pela Polícia Federal.
Nascido em Campos dos Goytacazes em 1980, o deputado é advogado tributarista e iniciou a carreira política impulsionado pelo pai, o ex-vereador Marcos Bacellar.
Antes de se eleger, passou por cargos no governo estadual, como a presidência da Fundação Estadual do Norte Fluminense. Foi eleito deputado estadual em 2018 pelo Solidariedade e reeleito em 2022 pelo PL, quando obteve quase 98 mil votos.
Sua projeção aumentou em 2020, quando relatou o processo de impeachment de Wilson Witzel, que levou Cláudio Castro ao comando do estado. O movimento o aproximou do governador e ajudou a consolidar sua base política.
Em 2023, em meio ao racha do PL, foi eleito presidente da Alerj. Dois anos depois, reconduziu-se ao cargo por unanimidade em um acordo que uniu PL, PT, Psol, PDT e PSD, algo inédito na Casa.
A relação com Castro azedou em 2024, quando Bacellar assumiu o governo interinamente e exonerou o secretário de Transportes, Washington Reis, sem consultar o governador. O gesto irritou o bolsonarismo fluminense -incluindo figuras como Flávio Bolsonaro (PL), Carlos Portinho e Sóstenes Cavalcante- e reduziu seu espaço dentro da direita. Ainda assim, até meados deste ano, seu nome seguia como o preferido de Castro em eventual disputa contra o prefeito Eduardo Paes (PSD) pelo governo.
Bacellar também é alvo de investigações paralelas. Em agosto, o Conselho Superior do Ministério Público do Rio autorizou apuração sobre possíveis sinais de evolução patrimonial incompatível com seus rendimentos, incluindo a operação de um frigorífico em Campos financiado pela AgeRio.
A Promotoria suspeita que ele seria sócio oculto do empreendimento, o que o deputado nega. Ele ainda foi citado em 2010 em investigação sobre um suposto esquema de aluguel da Prefeitura de Cambuci.
A prisão desta quarta o transforma no segundo presidente da Alerj detido no exercício do cargo, repetindo o precedente de Jorge Picciani (MDB), preso em 2017, e recoloca a Casa no centro de uma crise política às vésperas da eleição de 2026.
A PF afirma que Bacellar participou do vazamento de informações sigilosas sobre a operação que prendeu o ex-deputado Thiego Raimundo dos Santos, o TH Joias, sob suspeita de intermediar negociações do Comando Vermelho. Segundo investigadores, o presidente da Alerj soube previamente da ação e orientou o então parlamentar a apagar provas.
A defesa nega qualquer tentativa de obstrução e afirma que ele "esclareceu tudo o que lhe foi perguntado".
Na decisão que determinou a prisão, o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), escreveu que há "fortes indícios" de que Bacellar integra organização criminosa. A PGR (Procuradoria-Geral da República) afirmou que a medida busca garantir a ordem pública diante da suspeita de infiltração de interesses ilícitos no Estado, cenário que descreveu como "Estado paralelo".
Outro elemento citado pela PF foi a reação do governo e da cúpula da Alerj após a deflagração da Operação Zargun. Para os investigadores, Bacellar e o governador Cláudio Castro articularam uma "célere manobra regimental" para afastar TH Joias do mandato, o que o governo nega.
Em nota divulgada nesta quinta-feira (4), Castro disse acompanhar o caso com "atenção institucional", afirmou confiar na condução técnica do STF e da PF e destacou que o Executivo já enviou todos os esclarecimentos solicitados.
A primeira sessão da Alerj após a prisão durou poucos minutos. Foi encerrada sem menção ao caso e com o plenário esvaziado. A Casa aguarda comunicação oficial do STF para decidir se colocará em votação a revogação da prisão, passo previsto na Constituição estadual e adotado em episódios como as operações Cadeia Velha e Furna da Onça.
