Dólar fecha em ligeira queda, a R$ 5,31, em dia positivo para emergentes

Por Por Antonio Perez

Após queda expressiva pela manhã, quando registrou mínima a R$ 5,2882, o dólar ganhou fôlego ao longo da tarde e chegou a operar pontualmente em terreno positivo, com máxima de R$ 5,3164. No fim do dia, a moeda era negociada a R$ 5,3104, baixa de 0,05%. Operadores afirmam que houve um movimento de ajustes de posições e realização de lucros, uma vez que investidores ainda se mostram reticentes com a permanência da taxa de câmbio abaixo de R$ 5,30.

Além das questões técnicas locais, houve uma diminuição dos ganhos de divisas emergentes durante a segunda etapa de negócios em meio ao avanço das taxas dos Treasuries. Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis moedas fortes, o DXY acelerou e atingiu na máxima os 99,000 pontos, apesar da valorização do iene, em meio à possibilidade de alta de juros no Japão.

O dólar recuou em relação ao real nos últimos três pregões, período em que acumulou desvalorização de 0,91%. A divisa apresenta queda de 0,46% nas quatro primeiras sessões de dezembro, após recuo de 0,85% em novembro. No ano, as perdas da moeda americana são de 14,07%.

"Tivemos claramente uma realização de lucros à tarde. Dezembro é um mês de remessas de lucros e dividendos ao exterior, com o fechamento de balanço de multinacionais. Investidores já estão se preparando para a virada do ano", afirma o superintendente da Tesouraria do BS2, Ricardo Chiumento.

O tesoureiro ressalta que o real experimentou uma rodada recente de apreciação estimulada pelo aumento das chances de corte de juros pelo Federal Reserve na semana que vem, após uma sequência de dados fracos da economia dos EUA. Ele avalia que dados de pedidos semanais de auxílio-desemprego não alteram a leitura de enfraquecimento do mercado de trabalho.

"A pesquisa ADP mostrou ontem destruição de vagas no setor privado dos EUA em novembro. Todos os dados reforçam a perspectiva de que o Fed vai reduzir os juros em 25 pontos-base. O mercado até chegou a duvidar desse corte na segunda metade de novembro com o shutdown, mas voltou atrás e já vê 90% de chances de uma redução", afirma Chiumento.

Além da decisão do Fed, a próxima quarta-feira, 10, é marcada também por reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O crescimento abaixo das expectativas do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre, com perda de fôlego do consumo das famílias pelo lado da demanda, esquentou as apostas em torno de possível sinalização do Copom da possibilidade de corte de juros em janeiro.

A economia brasileira cresceu 0,1% no terceiro trimestre, na margem, abaixo da mediana das estimativas (+0,2%). Na comparação anual, contudo, o PIB apresentou alta 1,8%, um pouco acima das projeções (+1,7%). A avaliação de economistas ouvidos pela Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, é a de que a política monetária restritiva mostra seus efeitos sobre o nível de atividade e deve levar a uma moderação da inflação.

Com manutenção da taxa Selic em 15% até pelo menos janeiro e o provável corte de juros pelo Federal Reserve, vai haver um aumento do diferencial de juros interno e externo, o que sustenta a atividade das operações de carry trade. O Tesouro vendeu a oferta integral de 2,5 milhões de NTN-F (R$ 2,325 bilhões) - papel público preferido pelo estrangeiro.

Além de estimular o carry trade, a taxa Selic elevada torna muito custoso o carregamento de posições em dólar, o que tende a mitigar o impacto do aumento de remessas no fim do ano sobre a dinâmica da taxa de câmbio. Operadores ressaltam que o BC já mostrou que vai atuar para prover liquidez com linhas com cláusula de recompra e eventual venda de dólares no segmento spot, o que também inibe apostas contra o real.

Bolsa

O Ibovespa subiu novos degraus na escalada de recordes iniciada ainda nas sessões finais de outubro, chegando pela 17ª vez nesse intervalo de 28 pregões a uma máxima histórica de fechamento, agora na linha de 164 mil pontos. Nesta quinta-feira, 04, oscilou dos 161.759,12 até os 164.550,77 pontos (novo pico intradia). Ao fim, anotava 164.455,61 pontos, em alta de 1,67%. Na abertura de hoje, marcava 161.759,78 pontos. Nesta primeira semana de dezembro, acumula ganho de 3,38%, tendo renovado recorde nos últimos três fechamentos, considerando este.

O giro financeiro desta quinta foi reforçado, a R$ 31,1 bilhões. O ganho acumulado no ano, a 36,72%, aproxima muito o Ibovespa do avanço observado em 2016, quando o índice da B3 registrou alta nominal de quase 39% (+38,94%), encerrando então aos 60.227,28 pontos.

Vale ON, principal papel da carteira Ibovespa, fechou o dia em alta de 1,74%. Os ganhos também foram fortes no principal segmento da Bolsa brasileira, o financeiro, em especial no papel de maior peso do setor, Itaú PN, em alta de 2,46%, na máxima do dia no fechamento. Outra empresa de frente, Petrobras, subiu 0,56% na ON e 0,65% na PN, em dia de ganhos em torno de 1% para o Brent e o WTI, em Londres e Nova York. Na ponta ganhadora, Totvs (+7,27%), Hapvida (+6,22%) e Localiza (+5,04%). No lado oposto, C&A (-9,05%), Lojas Renner (-2,72%) e Embraer (-1,93%).

Ao fim, nove dos 82 papéis da carteira Ibovespa mostravam perdas na sessão - em certo momento, no início da tarde, apenas duas ações operavam em baixa. Em Nova York, os principais índices de ações mostravam variação entre -0,07% (Dow Jones) e +0,22% (Nasdaq) no fechamento.

"Muito dessa alta do Ibovespa, batendo o topo histórico novamente, podemos atribuir aos juros futuros americanos em queda ante expectativa de corte de juros pelo Federal Reserve, na próxima semana. Tanto aqui no Brasil quanto nos Estados Unidos, há apostas maiores de cortes de juros. E as apostas de corte da Selic, aqui no Brasil, se voltam para janeiro", diz Rubens Cittadin Neto, especialista em renda variável da Manchester Investimentos. "Além disso, a gente tem a questão das empresas pagando dividendos maiores para fugir de aumento da tributação, o que contribui também para impulsionar a bolsa."

Na agenda doméstica desta quinta, destaque para a divulgação do PIB do terceiro trimestre, com percepção favorável, especialmente com relação ao desempenho do agro no intervalo, destaca Antonio Ricciardi, economista do Daycoval. "O consumo das famílias, mais fraco, não deixa de ser uma boa notícia, pelo efeito para a política monetária", acrescenta o economista, em contexto no qual o mercado tem se reposicionado para o início do ciclo de redução da Selic que, na avaliação dos agentes, pode começar em janeiro - anteriormente, a expectativa majoritária se concentrava para março.

Para Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, a expectativa de queda de juros nos Estados Unidos, reforçada para a reunião do Federal Reserve na próxima semana, e o momento global de recuperação dos preços das commodities, em geral, têm favorecido as moedas de emergentes, como o real. "PIB é olhar pelo retrovisor e, em geral, veio dentro do esperado", acrescenta a economista. Nesta quinta-feira, na mínima do dia, a moeda americana à vista chegou a ser negociada a R$ 5,2882 e, no fechamento do câmbio, mostrava desempenho colado à estabilidade (-0,05%), a R$ 5,3104.

"O PIB veio um pouco abaixo, na margem, o que trouxe algum efeito para a abertura. Ainda há efeito sobre exportações com o tarifaço dos Estados Unidos, enquanto não houver uma resolução completa para a situação. Sinais com relação ao fiscal ainda são muito sutis, e enquanto não houver uma situação mais definida para isso, ainda haverá margem para cautela", diz Paloma Lopes, economista da Valor Investimentos.

Juros

Tendo como principal condutor o resultado mais fraco do que o esperado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, os juros futuros negociados na B3 mantiveram a toada de recuo por toda a extensão da curva no pregão desta quinta-feira, 04.

Segundo agentes, mais do que o número cheio em si - que mostrou que a economia brasileira cresceu apenas 0,1% nos três meses encerrados em setembro ante o trimestre anterior, feitos os ajustes sazonais -, a composição do dado, que trouxe desaquecimento maior da demanda, finalmente deu um sinal mais contundente ao mercado de que a política monetária restritiva está segurando a atividade.

Com maior clareza sobre essa leitura, as apostas de que a Selic será reduzida em janeiro cresceram. Agora, as atenções dos investidores se voltam ao comunicado que vai acompanhar a decisão de juro do Comitê de Política Monetária (Copom) na próxima semana, em busca de sinais menos conservadores do Banco Central.

Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 diminuiu de 13,591% no ajuste de quarta-feira para 13,55%. O DI para janeiro de 2029 cedeu de 12,694% no ajuste para 12,645%. O DI para janeiro de 2031 ficou em 12,88%, vindo de 12,915% no ajuste precedente.

Nos cálculos de Gean Lima, gestor de portfólio da Connex Capital, na quarta, a precificação implícita na curva a termo apontava 73% de chances de redução de 0,25 ponto porcentual do juro básico na reunião de janeiro do Copom, probabilidade que aumentou para 77%. "O PIB abaixo das expectativas, principalmente demonstrando moderação no consumo das famílias, reforça a perspectiva de que o BC deve cortar a taxa de juros no primeiro trimestre de 2026", afirma Lima.

Na passagem trimestral, o consumo das famílias ficou praticamente estagnado, com avanço de 0,1%, após ter crescido 0,6% de abril a junho - abertura que, para economistas, foi o grande destaque das Contas Nacionais Trimestrais. Pela ótica da oferta, a expansão dos serviços desacelerou de 0,3% para 0,1% entre e o segundo e o terceiro trimestres, sempre na comparação dessazonalizada com o trimestre antecedente.

Outro ponto que indicou perda de ímpeto da atividade na margem foi a revisão do IBGE, realizada sempre no período do terceiro trimestre, em resultados trimestrais anteriores. A alta do PIB segundo trimestre de 2025 foi reduzida de 0,4% para 0,3%. Por outro lado, o crescimento dos primeiros três meses do ano foi revisto de 1,3% para 1,5%. De qualquer forma, a visão predominante é de que o dado conhecido desta quinta é favorável ao início do aguardado ciclo de flexibilização monetária.

"Acho que essa era a grande mensagem de que o mercado precisava: uma desaceleração mais clara no consumo e nos serviços", afirma Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, para quem o PIB e sua abertura ainda foram os fatores que reduziram os prêmios de risco ao longo de toda a curva na segunda parte da sessão.

"O PIB trouxe grande animação para o mercado no sentido de que essa desaceleração da demanda mostra o cumprimento da expectativa da política monetária", diz Tavares. "Tínhamos certa dificuldade de ver de forma tão clara a ação a política monetária sobre a demanda. O câmbio estava sendo o funcionário do ano, mas o PIB de serviços vindo mais baixo e o componente de consumo desacelerando expressivamente são boas notícias que dão alívio ao mercado".

Diretor de pesquisa econômica do banco Pine, Cristiano Oliveira afirma que a dinâmica do consumo foi a única surpresa da instituição entre os componentes do PIB, que, em sua visão, reforça que o canal da política monetária está funcionando. "O consumo menor é a combinação de um mercado de trabalho em desaceleração, da política monetária atuando muito pelo canal de crédito e do endividamento das famílias em alta", disse Oliveira à Broadcast.

Para o diretor, o BC já teria condições técnicas de cortar o juro no encontro da próxima semana, tendo em vista o conjunto de dados que mostra arrefecimento da atividade, da inflação e do mercado de trabalho, mas a opção pelo discurso conservador da autoridade monetária o faz prever um ajuste para baixo em janeiro.