Cientistas encontram fóssil de tubarão de 8 metros que viveu há 115 milhões de anos

Por ANA BOTTALLO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Paleontólogos encontraram restos fósseis de um tubarão que viveu há 115 milhões de anos cujo tamanho estimado era de até oito metros. Isso indica que a linhagem de tubarões gigantes evoluiu muito antes do esperado, ainda na Era dos Dinossauros. A descoberta foi descrita em um estudo que saiu no último dia 25 na revista científica Communications Biology, do grupo Nature.

Os achados incluem cinco centros vertebrais de uma espécie da ordem dos lamniformes, grupo que inclui vários fósseis e 15 espécies atuais, como o tubarão-branco (Carcharodon carcharias) e o tubarão-elefante (Cetorhinus maximus). Os lamniformes variam em tamanho, com algumas espécies chegando a dez metros, e vivem desde em ambientes influenciados pelas marés (zona costeira) até a zona nerítica (além da plataforma continental).

As vértebras foram encontradas na Formação Darwin (grupo da Ilha Bathurst), na praia de Casuarina, no subúrbio do município Darwin, no Território Norte da Austrália. Elas têm idade estimada do Aptiano Superior (cerca de 115 milhões de anos).

Benjamin Kear, curador sênior do Museu Sueco de História Natural e coordenador do estudo, disse que se acreditava a partir de outros registros fósseis que os lamniformes surgiram há 100 milhões de anos. O novo fóssil, porém, altera isso.

"A linhagem dos tubarões modernos tem sua história evolutiva como gigantescos predadores de topo há 115 milhões de anos, na Era dos Dinossauros. Isso antecipa os registros anteriores em mais de 15 milhões de anos e associa de forma única os primeiros tubarões megapredadores a ambientes oceânicos de latitudes mais altas e águas mais frias", disse à Folha, por email.

Para chegar ao tamanho aproximado do bicho, os pesquisadores fizeram uma análise estatística comparando medidas de diferentes tubarões lamniformes, obtidas a partir de bases de dados de pesca e de coleções científicas, com as vértebras de Darwin, cujo tamanho varia entre 11,4 cm e 12,6 cm de diâmetro. A comparação indicou um comprimento total entre 6 e 8 m e um peso de até três toneladas. O tubarão-branco, que pode chegar a cinco metros e pesar até 3,4 toneladas, possui vértebras com 8 cm de diâmetro nos centros.

"Abordagens anteriores de estimativa de tamanho corporal geralmente usavam extrapolações baseadas em medidas de dentes e/ou centros vertebrais. Obtivemos um novo conjunto de dados que reunia comprimento cauda-focinho, peso total e dimensões vertebrais para uma variedade de espécies lamniformes vivas, e então usamos uma abordagem estatística rigorosa para comparar o tamanho do corpo tanto para o tubarão de Darwin quanto para uma variedade de outros tubarões fósseis gigantescos geologicamente mais recentes conhecidos da Era dos Dinossauros", explica Kear.

Um dos fósseis comparado é o maior tubarão que já existiu, o Otodus megalodon, que foi extinto há 3,6 milhões de anos e cujo tamanho estimado variava entre 15 a 20 m. Os autores afirmam que, em casos de tubarões muito grandes, o modelo preditivo acaba tornando difícil estimar o tamanho corporal a partir apenas das vértebras, mas que os tamanhos dos dentes e de ossos podem ajudar a identificar variações intraespecíficas. No caso do fóssil de Darwin, eles ainda esperam encontrar outros vestígios fósseis (como dentes) na mesma formação que ajudem a corroborar esse tamanho corporal.

"Essa abordagem levou em consideração os efeitos que diferentes formas corporais comparativas de tubarões poderiam ter na previsão do tamanho corporal dessas espécies extintas", afirma o paleontólogo.

De acordo com os autores, estudos anteriores da formação Darwin indicam um ecossistema de águas rasas e latitudes elevadas e um clima bem mais frio do que o encontrado hoje na Austrália. Os cientistas dizem acreditar que a presença de lamniformes nessa região pode ser resultado de uma condição conhecida como mesotermia, que é a regulação da temperatura corporal em águas geladas, fato que explicaria o gigantismo.

Além de tubarões, a formação Darwin é conhecida por ter restos de outros grandes vertebrados aquáticos, incluindo répteis, porém os lamniformes seriam os principais predadores dos mares naquela região, uma vez que não foram encontrados répteis marinhos gigantes na formação, indicando que os tubarões provavelmente ocupavam esse nicho ecológico.

"O achado é revelador em mostrar que o habitat [da formação Darwin] era um ambiente de águas mais frias, fundamental para a evolução conjunta de megatamanho corporal e mesotermia, o que claramente teria sido vantajoso para tubarões especializados como predadores de topo em tais ambientes", diz o pesquisador.