Tentar resolver tudo antes de o ano acabar gera frustração e sobrecarga emocional; saiba administrar tarefas

Por GIULIA PERUZZO

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A publicitária Jane Sousa, 31, viu suas demandas se multiplicarem nos meses que antecedem o fim do ano. Como a empresa em que trabalha entra em férias coletivas, ela precisa deixar todo o material de marketing preparado para ser publicado durante o recesso, além de cumprir sua rotina normal.

"Temos a campanha de final de ano e lançamento de coleção. Tento me organizar, mas sempre que acho que está tudo sob controle, chegam novas demandas", diz. "Parece que, no fim do ano, todo mundo quer tudo para ontem."

Jane também faz trabalhos como freelancer para complementar a renda, e percebe que esses pedidos cresceram. Suas metas pessoais e o convívio com a família e o marido acabam ficando de lado nessa época do ano, o que aumenta a sensação de sobrecarga emocional.

"Fica a necessidade de resolver as coisas acumuladas até o fim deste ano, de entrar no ciclo seguinte com tudo definido", afirma Ari Rehfeld, psicoterapeuta fenomenológico-existencial e professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

Rehfeld explica que, às vésperas de recessos ou férias, o tempo parece andar mais devagar por causa da expectativa de descanso. "À medida que envelhecemos, temos a sensação de que o tempo passa mais rápido e que sobra menos espaço para fazer tudo o que queremos."

A fisioterapeuta Viviane Dalto, 44, relata que, todo fim de ano, ela se vê diante de uma sequência de confraternizações e das apresentações escolares das duas filhas. "Eu sofro por antecipação. Sempre prometo que vou assumir menos compromissos, mas percebo que, ano após ano, eles só aumentam."

Além das pendências acumuladas, Rehfeld destaca que esse período carrega um ideal social de felicidade, união e entusiasmo com o novo. Essa expectativa pode gerar culpa em quem não se sente tão animado quanto acha que deveria. Conflitos familiares e convivências difíceis também tornam as festas motivo de ansiedade para muitas pessoas.

A psicóloga Larissa Fonseca aponta que a pressão para "amarrar pontas soltas" pode criar um senso de urgência que nem sempre é real. A promessa de satisfação ao concluir tudo costuma ser frustrada, já que as demandas continuam no ano seguinte.

É esse sentimento que o estudante Wagner Estevam, 22, tem vivido. O fim do ano coincidiu com o encerramento da faculdade, a entrega do TCC e o término do estágio. "Quero terminar tudo sentindo que fiz o melhor que pude, com o tempo e os recursos que tinha", diz. "A sobrecarga aumentou porque coloquei mais energia em todas as coisas."

O piloto de avião Gabriel Murari, 30, diz que a coincidência entre finalizações de ciclos em sua vida com o final do ano contribuem para o sentimento de sobrecarga nesse período. Neste ano, o preparo para o processo seletivo de companhias aéreas se soma ao aumento do número de voos para os quais é chamado, lotando sua agenda.

Os efeitos emocionais desse acúmulo incluem cansaço mental, irritabilidade, falhas de memória, dificuldade de concentração, problemas de sono, ansiedade e desmotivação, afirmam os especialistas. Jane, Viviane, Wagner e Gabriel dizem que a motivação, o sono e a ansiedade estão desregulados neste fim de ano.

Viviane relata que sente culpa por não conseguir cumprir todos os compromissos. "Tenho dificuldade em dizer não e fico exausta física e mentalmente." Jane também percebe isso. Quando está sobrecarregada, abre mão do lazer e perde a vontade de ir a confraternizações. "Era para ser algo prazeroso, mas vira só mais uma tarefa."

Para Wagner, a pressão interna pesa mais do que a externa. Ele se mudou de Cariacica, na região metropolitana de Vitória (ES), para estudar engenharia de software em São Paulo. Desde pequeno, contou com apoio da mãe, que o criou sozinha, e de instituições como o Instituto Ponte e o Instituto Semear.

"Quero que sintam orgulho de mim e que as oportunidades que recebi não tenham sido em vão", afirma. "Equilibrar tudo isso é muito difícil."

A sobrecarga no fim do ano costuma ser pontual, mas os especialistas alertam para que ela não evolua para quadros como burnout ou estafa mental .

"Uma sobrecarga pontual acontece quando você passa uma semana corrida e se recupera depois de descansar", explica Fonseca. "No burnout, não há descanso que dê conta."

Os sintomas mais comuns incluem exaustão persistente, desmotivação, sensação contínua de atraso, perda de prazer em atividades que antes eram prazerosas e isolamento social. "É uma exaustão profunda, física e emocional, que pode gerar dor de cabeça, tensão muscular e problemas gastrointestinais", acrescenta Rehfeld.

Para evitar o agravamento do quadro, os psicólogos sugerem algumas estratégias: delegar tarefas, rever expectativas, listar prioridades, recusar alguns convites, comunicar limites, reservar momentos de pausa, manter uma rotina mínima de sono e alimentação e respeitar os sinais de cansaço.

Jane diz que manter as sessões regulares de psicoterapia, que faz desde 2021, a ajuda a atravessar esse período. Wagner tenta preservar ao menos três treinos de atividade física por semana. Viviane alivia a pressão quando encontra pequenos momentos para simplesmente não fazer nada, apesar de considerá-los raros. Já Gabriel gosta de anotar as coisas em uma agenda e sente alívio em ver que uma etapa foi cumprida.

"Aprender a simplificar processos que não precisam ser tão desgastantes", afirma Rehfeld. "Às vezes, resolvemos as coisas de forma muito mais leve quando paramos para pensar no processo, e não apenas no resultado."