Empresários suspeitos de lavar dinheiro do PCC se entregam à polícia em SP

Por TULIO KRUSE E ROGÉRIO PAGNAN

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dois suspeitos de integrarem um grupo que prestava serviços de lavagem de dinheiro para a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), alvos de uma megaoperação na última semana, entragaram-se à Polícia Civil nesta sexta-feira (5), em São Paulo.

Alessandro Rogério Momi Braga, o Morango ou Alemão, e Manoel Sérgio Sanches, o Mané, são apontados pela investigação do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) como intermediários importantes em um esquema que envolve uma rede de dezenas de empresas usadas para ocultar dinheiro obtido com crimes como tráfico de drogas, jogos de azar, estelionato e extorsão.

A Folha procurou um advogado que defende Braga e Sanches neste sábado (6), mas não recebeu resposta até a publicação deste texto.

Braga é proprietário do grupo empresarial Key Car, apontado como uma peça central no esquema de lavagem de dinheiro. Sanches, por sua vez, foi considerado na investigação como sócio oculto.

As empresas desse grupo teriam sido usadas para fazer pagamentos em dinheiro e transferências bancárias para dezenas de pessoas e firmas suspeitas de praticar lavagem de dinheiro, segundo um documento obtido pela reportagem. O esquema, descoberto na Operação Falso Mercúrio, movimenta milhões de reais por dia.

O documento aponta que o Grupo Key Car recebia, por exemplo, dinheiro em espécie que vinha da operação ilegal de máquinas caça-níqueis. Depois de arrecadar valores de suspeitos apontados como "coletores" de dinheiro do crime, o núcleo de pessoas coordenado por Braga repassava a contas bancárias de empresas laranjas ou dos próprios coletores --ou seja, devolviam o dinheiro "lavado".

Para isso, recebiam uma comissão paga diretamente ao intermediário, por meio de boletos ou transferências para contas de terceiros, segundo a investigação. Há ainda casos em que os intermediários recebem dinheiro em espécie e repassam a um beneficiário final, e este faz depósitos diretamente nas contas dos coletores de dinheiro, simulando transações comerciais.

Mensagens encontradas em celulares apreendidos pela Polícia Civil mostram Braga orientando pessoalmente o fracionamento de pagamentos, uma técnica para que as transferências passem despercebidas dos órgãos de controle e para dificultar o rastreamento do dinheiro.

As mensagens também mostram que ele ofereceu o CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica) de uma de suas empresas para registrá-la como proprietária um veículo usado por uma pessoa ligada ao núcleo dos coletores de dinheiro. Para a polícia, é mais um indício de que ele oferecia o serviço de ocultação de patrimônio.

O uso de carros de luxo das empresas de Braga e Sanches era um dos serviços oferecido a criminosos interessados em ocultar patrimônio, segundo a polícia. Foram apreendidos 257 automóveis avaliados em R$ 42 milhões na operação da quinta-feira (4), segundo a Secretaria de Segurança Pública.

Braga é tratado na investigação como uma liderança no esquema de lavagem. Todos os gerentes e sócios se reportam a ele, segundo documento da investigação. A investigação identificou que ele movimentou ao menos R$ 17 milhões em pouco mais de dois anos, mas estima que esse valor seja apenas parte do total vinculado ao esquema.

Conta bancária de casa de pôquer

Já Manoel Sanches aparece na investigação conversando sobre dinheiro com Braga em diversas ocasiões, assim como suspeitos de serem coletores de dinheiro e beneficiários finais do esquema investigado.

Nas conversas com Braga, eles tratam de valores que ambos teriam recebido pelos serviços prestados. Para a polícia isso indica que ele de fato tinha participação nas empresas do Grupo Key Car suspeitas de lavagem de dinheiro.

Sanches estava na sede da empresa durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão na primeira fase da Falso Mercúrio.

Numa das conversas interceptadas pela polícia, Sanches tenta viabilizar um pagamento de R$ 400 mil a um dos beneficiários finais do esquema de lavagem de dinheiro. A conta indicada para o pagamento é de uma casa de pôquer, o que desperta o receio do cliente.

O endereço registrado da casa de pôquer é o mesmo de um bar karaokê no bairro da Liberdade, no centro de São Paulo.

Para convencê-lo, Sanches encaminha ao comparsa um áudio de Alessandro Braga, no qual ele argumenta que usar conta da casa de apostas seria vantajoso. Em caso de questionamento por alguma autoridade sobre o dinheiro, ele poderia justificar que era viciado em jogo para justificar a movimentação atípica, sugere Braga. O cliente topou.