Diabetes de início recente após os 50 anos pode estar relacionada a câncer de pâncreas
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Estudos recentes descobriram que o aparecimento de diabetes mellitus de início recente ?que surge de forma rápida e sem motivo aparente? em adultos acima de 50 anos pode ter relação com o câncer ou tumor de pâncreas.
Em pesquisa publicada em julho na revista Gastroenterology, a diabetes de início recente começou em média oito meses antes do diagnóstico do câncer. Os pesquisadores também relataram que a incidência de aparecimento de tumor nesses pacientes foi 4,6 vezes maior do que a taxa esperada na população de risco médio dos EUA.
A relação pode não ser sempre causal direta, mas os tumores se apresentam como fator de risco. A endocrinologista Lyz Helena Aires Lopes explica que, como o pâncreas é o órgão que produz insulina, o desenvolvimento de um tumor pode alterar a produção e a ação da insulina, causando diabetes.
"Por outro lado, uma diabetes que surge de forma repentina em adultos, especialmente acima dos 50 anos, pode ser um dos primeiros sinais de câncer de pâncreas, muitas vezes meses antes do tumor ser detectável por sintomas clássicos."
Com 10.980 novos casos e 13.507 mortes por ano, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de pâncreas é geralmente agressivo e de difícil diagnóstico. Nos estágios iniciais, esse tipo de câncer não tem sintomas, adiando o diagnóstico.
Por esse motivo, Lopes diz que os estudos melhoram a qualidade da avaliação médica, já que traz um marcador de atenção para a investigação. Para ela, a relação estabelecida permite o médico avaliar o pâncreas com mais atenção, realizar exames de imagem e de sangue direcionados e perceber mudanças antes que causem sintomas e garantir que a saúde do paciente esteja sendo monitorada de forma integral.
Felipe Coimbra, líder do Centro de Referência de Tumores do Aparelho Digestivo Alto do A.C.Camargo Cancer Center, diz que a idade de risco para o tumor de pâncreas é a partir de 60 ou 70 anos. Mas, como os estudos indicam que pessoas a partir de 50 anos com diabetes recente devem ser avaliadas, também se considera um grupo de maior risco.
Outro fator de risco importante é o quanto o paciente perdeu de peso, afirma o médico. Ou seja, quanto maior a perda, mais preocupante. Além da idade e da perda de peso, a variação da alteração da glicose deve ser um fator de risco considerado.
"Pacientes de alto risco, que são os acima de 50 anos, que desenvolveram diabetes nos últimos três anos, têm um risco seis vezes maior em relação ao restante da população", afirma Coimbra. "Eles devem ser investigados, fazendo exames de rastreamento e prevenção, para que seja possível fazer um diagnóstico precoce do câncer de pâncreas."
O diagnóstico precoce, nesse caso, é fundamental para um prognóstico positivo da doença. O médico cirurgião Rodrigo Surjan, especialista em tumores pancreáticos e hepáticos, diz que a detecção do tumor nas fases iniciais possibilita o tratamento cirúrgico, que, segundo ele, é a única forma que propicia chances reais de cura.
"Infelizmente, por ser um tipo de tumor que muitas vezes se desenvolve silenciosamente, geralmente apenas 20% dos pacientes são candidatos à cirurgia logo após o diagnóstico", afirma. Por este motivo, ele diz que estratégias de detecção precoce ?como investigar perante surgimento da diabetes de início recente?, especialmente em grupos de risco, podem ajudar.
Surjan diz que, mesmo com o mesmo tipo de tumor, cada caso vai apresentar características diferentes de avanço e agressividade. Alguns pacientes já apresentam um caso grave dois ou três meses após o início, outros podem demorar até um ano.
Do ponto de vista técnico para a cirurgia, diz o médico, a cirurgia não é afetada pelo diagnóstico de diabetes relacionado ao câncer de pâncreas. "A não ser pelos riscos cirúrgicos que existem em todos os tipos de procedimentos para pacientes diabéticos, como infecção, complicações cardiovasculares, dificuldade de cicatrização e maior risco anestésico."