Trabalho por aplicativo ajuda a diminuir criminalidade, diz estudo do MIT

Por FERNANDO CANZIAN

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Plataformas de entrega têm papel importante, via oportunidade de geração de renda para quem trabalha no ramo, na redução da criminalidade nas maiores cidades do estado de São Paulo.

Segundo estudo conduzido pela economista Isadora Frankenthal, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), a expansão do iFood no estado reduziu em 10,4% a criminalidade nas áreas onde o serviço começou a operar.

A queda foi mais forte em bairros de menor renda, indicando que o efeito está ligado à inclusão econômica e geração de trabalho para pessoas de baixa qualificação, grupo associado a "crimes de oportunidade" ?quando é mais fácil roubar ou furtar de forma impulsiva, sem grande planejamento.

Embora o efeito geral sobre o crime violento tenha sido uma redução de 4,5%, a queda é quase inteiramente impulsionada pelas áreas mais pobres. Esses bairros de menor renda experimentaram uma redução de 26,7% nas ocorrências violentas.

Ou seja, jovens dessas regiões encontraram oportunidade de trabalho em plataformas de aplicativo e diminuíram a propensão de executarem crimes tanto nas áreas onde residem quando em outras partes das cidades.

"Normalmente, as pessoas não tendem a percorrer grandes distâncias para cometer este tipo de crime", diz Frankenthal.

As reduções criminais são maiores em magnitude nos períodos do dia em que o retorno financeiro do trabalho de entrega é mais alto, como nas janelas de almoço e jantar. Para crimes mais graves (violentos), o infrator só se absteria de cometer o delito quando o trabalho de entrega é mais recompensador.

Para o trabalho, a pesquisadora analisou dados de 118 municípios paulistas com mais de 50 mil habitantes entre os anos 2010 e 2019.

No período, que exclui os efeitos da pandemia, o iFood dominava o mercado de entrega de alimentos e estava presente nessas cidades ?que tiveram também dados sobre crimes analisados, com base em estatísticas da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo.

Segundo o trabalho de Frankenthal, o impacto equivale a 529 crimes a menos por município e por ano, em média. O efeito se estende a uma redução de crimes contra a propriedade, incluindo o patrimonial violento (com uso de força ou arma). A queda na criminalidade, segundo o trabalho, persiste por até cinco anos após a introdução da plataforma.

Antes da chegada do serviço, o quadrante de bairros mais pobres registrava cerca de 50% mais crimes per capita do que o quadrante mais rico. A expansão do trabalho por aplicativo estaria ajudando também a diminuir essa desigualdade geográfica na segurança.

A população que trabalha com entregas é composta majoritariamente por homens jovens e de baixa qualificação, perfil demográfico historicamente mais propenso a cometer crimes patrimoniais, como roubo e furto. Neste momento, Câmara e Prefeitura de São Paulo estão definindo regras a para o serviço de mototaxi na capital, em meio a uma longa batalha jurídica. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem reforçado o risco de aumento das mortes no trânsito caso esse tipo de transporte seja liberado.

O levantamento sobre criminalidade faz parte da tese de doutorado da acadêmica, que espera publicá-lo nos próximos meses em revistas especializadas. No MIT, Frankenthal tem se dedicado a pesquisar temas ligados ao Brasil, sobretudo relacionados à área da segurança pública, usando estatísticas e dados empíricos.

Ela diz que não é possível, a partir dos números dessa pesquisa, chegar a conclusões mais detalhadas sobre como, por outro lado, criminosos disfarçados de entregadores têm contribuído para aumentar a ocorrência de crimes. Até porque o fenômeno é mais prevalente em cidades maiores, como na capital do estado.

Para Luiz Guilherme Scorzafave, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Lepes (Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social da FEA-RP/USP), o trabalho de Frankenthal é de "altíssima qualidade e muito bem feito".

"É muito interessante o fato de a pesquisa ter conseguido, a partir das informações da platafoma e da ocorrência de crimes, determinar também os horários e regiões onde a criminalidade caiu. É uma pesquisa ´top`", afirma.

Em geral, trabalhadores por aplicativos tendem a ser informais ou MEI (Microempreendedor Individual), enquadrando-se na categoria conta própria com CNPJ. No ano passado, segundo levantamento do economista Nelson Marconi, da Eaesp-FGV, trabalhadores neste regime que atuavam na área de transporte, por exemplo, recebiam mais do que pessoas com carteira assinada.

O estudo considera o rendimento médio das várias profissões analisadas e regimes igual a 1. Assim, é possível observar quanto recebem os empregados CLT e os por conta própria com CNPJ em relação à média 1 com dados do IBGE. Os contas próprias com CNPJ na área de transporte recebiam 1,22, ante 0,88 dos formais no setor.