Síndico do Copan, deu a vida pelo prédio projetado por Niemeyer
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Muita gente dizia que o edifício Copan sucumbiria à degradação do centro de São Paulo. Affonso Celso dos Prazeres veio para provar o contrário.
Nem arquiteto nem urbanista, o homem que segurou as pontas do prédio projetado por Oscar Niemeyer era formado em química e administração de empresas.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1939, Affonso se mudou para São Paulo pouco após completar 20 anos.
Seu primeiro emprego foi na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), onde revisava discursos num ambiente político muito mais formal do que aquele que se tem hoje.
Anos depois, trabalhou para Jânio Quadros em uma das administrações regionais da Prefeitura de São Paulo, pasta que hoje equivaleria às chamadas subprefeituras.
Affonso foi um dos primeiros moradores do Copan, onde se instalou em 1963 para nunca mais sair.
Elegeu-se síndico em 1993, na década em que o centro enfrentava um agudo processo de esvaziamento urbano, e decidiu blindar o Copan dessas transformações.
Começava ali um projeto para garantir vida própria ao edifício, o que incluía fomento a aluguel de espaços do prédio a eventos ou a produtoras interessadas em gravar no local.
Ele sabia que o tamanho e o próprio modelo arquitetônico do Copan -a maior estrutura de concreto armado do país- eram atrativos naturais ao prédio que abriga 1.160 apartamentos e uma infinidade de comércios distribuídos no térreo.
Parte da renda ia para os caixas do Copan e outra era destinada à manutenção preventiva do edifício, uma entre tantas marcas da gestão Affonso.
Deu tão certo que ele nunca deixou o cargo. Seu nome era praticamente unanimidade nas assembleias destinadas à eleição do síndico e assim se manteve até hoje.
Foi com ele que o Copan instituiu promoção de carreira a funcionários e uma equipe própria de colaboradores para a manutenção do prédio e dos apartamentos, o que garante preços mais baratos a moradores e ao mesmo tempo evita eventuais dores de cabeça com terceirizadas.
Foi também ele quem encabeçou projeto de revitalização do Copan cuja primeira parte foi concluída neste ano. "Ele sempre foi um consenso", conta o amigo Guilherme Milani, advogado e conselheiro do Copan.
"Quando eu me mudei para o prédio me disseram que o Copan tinha um síndico maravilhoso. E ele realmente fazia isso com maestria", diz a atriz e diretora de teatro Mika Lins.
Affonso Celso dos Prazeres morreu neste domingo (21), aos 86 anos, vítima de uma pneumonia. Não teve filhos. Ele deixa a mulher, Léia Vieira, e milhares de moradores que ajudou ao longo da vida.
