15 anos de Real (parte 2)

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Fernando Agra 11/8/2009

15 anos de Real (parte 2)

Como foi discutido no artigo do mês de julho, uma das maiores conquistas do Plano Real foi o controle da inflação. As âncoras cambial e monetária foram os principais instrumentos utilizados para este fim.

O primeiro mandato de FHC teve o auxílio da âncora cambial para controlar os preços na economia. Esta consiste na apreciação da taxa de câmbio de modo a tornar os produtos importados mais baratos. Em 1º de julho de 1994, quando da implantação do Real, U$$ 1 = R$ 1, entretanto, em novembro daquele mesmo ano, a taxa de câmbio chegou a seguinte cotação: U$$ 1 = R$ 0,83. Um dos fatores responsáveis por essa apreciação foram as elevadas taxas de juros já praticadas na economia brasileira à época que contribuíram para ampliar o ingresso de capital externo especulativo em busca de remunerações elevadas. Aliado a essa situação, Ciro Gomes, Ministro da Fazenda na ocasião, ainda reduziu consideravelmente as alíquotas de produtos importados. Com essa dupla força, o ingresso de importados aumentou na economia brasileira e contribuiu para aumentar a concorrência com os produtos nacionais. Além disso, as safras agrícolas recordes também contribuíram para a baixa dos preços dos alimentos: foi a chamada âncora verde.

A elevada apreciação cambial a que chegou o Real imineciava uma breve depreciação. Esta ocorreu em 13 de janeiro de 1999, poucos dias após a posse de FHC em seu segundo mandato. A taxa de câmbio passou de U$$ 1=R$ 1,54 para U$$ 1=R$ 2,14 e o governo abandonou a âncora cambial e passou a adotar a âncora monetária como principal instrumento para controlar a inflação, ou seja, fortaleceu a prática de juros altos para desaquecer a demanda e com isso diminuir a pressão nos preços. Vale ressaltar que juros altos controlam a inflação se esta for de demanda, mas por outro lado, pode alimentar a inflação de custos. Vale lembrar também que juros altos, por desaquecerem a demanda agregada, diminuem o nível de emprego na economia.

Já nos dois mandatos do Lula, a taxa de câmbio que havia chegado U$$ 1=R$ 3,99 poucos meses da eleição que deu a vitória ao próprio Lula, voltou à casa de U$$ 1=R$ 1,55 até antes da eclosão da atual crise, em meados de 2008. Isso mostra que a âncora cambial foi muito importante para controlar os preços na era Lula.

Enfim, controlar a inflação é fundamental, mas deve-se ter em mente que tão importante quanto é possibilitar o crescimento do emprego. Esse é um dilema que a teoria econômica carrega há muito tempo.

 


Fernando Antônio Agra é Economista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e professor universitário das faculdades Vianna Júnior, Estácio de Sá e Universo e do curso de Formação Gerencial do Instituto Educacional Machado Sobrinho, sendo todas a instituições em Juiz de Fora - MG