Rainha da Parada 2015 fala sobre direitos LGBT

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Rainha da Parada 2015 fala sobre direitos LGBT

Rainha da Parada 2015 fala sobre direitos LGBT

Primeira transexual de Juiz de Fora conta sobre seu processo para mudança dos documentos e orgulho de ser representante do maior evento Gay de Juiz de Fora

Angeliza Lopes
Repórter
12/09/2015

Como diz Christiane do Couto Melo não há maior título que uma pessoa possa receber que o posto de 'rainha'. Mais conhecida como Chris dos Brilhos, a primeira transexual de Juiz de Fora representará milhares de pessoas que lutam pelo "Respeito as famílias" LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) de todo o país, na 13ª Parada do Orgulho Gay de Juiz de Fora, com saída às 16h, da rua Jarbas de Lery. O preconceito que limita o entendimento em sociedade será abafado pelos hits da grande Festa Arco-Íris. "Temos que mostrar que também fazemos parte das famílias brasileiras", afirma Chris.

Chefe de cerimonial da cidade de Senador Cortes, professora de ensino fundamental, paisagista e catequista na paróquia São José, na avenida Sete de Setembro, a Rainha da Parada chama a atenção para a rotulagem comum de travestis e transexuais. "A sociedade coloca limitadores profissionais, como se todas só tivessem espaço como cabeleireiras e no mundo da prostituição", destaca. Mesmo a passos lentos, o mercado de trabalho tem aberto portas para o público LGTB, e, uma das principais conquistas que validam esta oportunidade são os direitos por igualdade de gênero. Christiane fez mudança de sexo em 2005, fora do Brasil, mas não conquistou de imediato seus novos documentos, com alteração do nome e sexo.

Ela conta que na época em que lutou pelo reconhecimento jurídico da mudança de gênero o assunto era bem restrito e o respaldo legal muito limitado. Todo o trâmite demorou dois anos para ser concluído e, finalmente, a Chris pode, a partir de nova certidão, trocar toda a documentação, como CPF, título de eleitor e carteira de trabalho.

"Todo o processo é muito burocrático e demorado. A maioria dos juízes ainda não reconhecia como direito a troca. Durante uma palestra no fórum na Semana Rainbow Fest pude conhecer o juiz que ministrava o evento, que era de Mato Grosso do Sul, e confirmou que a Justiça brasileira já garantia este direito. Ele que concedeu a jurisprudência para que eu conseguisse dar entrada no processo", relata.

Além de correr na Justiça, o procedimento para a mudança do nome e do sexo exige outros acompanhamentos, conforme destaca Chris. Ela precisou passar por perícia, consultas em urologista, além de avaliação de psicólogo e assistente social junto com a sua família. "A perícia era desmarcada várias vezes e isso atrasou os trâmites legais. Mas quando conquistei, realmente foi uma vitória e pude ter garantido minha nova identidade. Já dei palestras sobre o assunto e como foi todo o processo, até para esclarecer para as pessoas sobre o assunto".

 

Sem uma lei que defina os procedimentos da alteração dos documentos para pessoas transexuais, essa parcela da população LGBT é obrigada a procurar na Justiça o reconhecimento de sua identidade em processos que podem ser longos e que dependem do entendimento dos juízes, como foi o caso da Chris. Ainda, diferente do que muito pensam, não é necessário que a pessoa faça qualquer tipo de cirurgia para pedir a correção dos documentos. Atualmente, tramita na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados o Projeto de Lei João Nery (5002/2013), dos deputados Jean Willys (PSOL-RJ) e Erika Kokay (PT-DF), que determina que o reconhecimento da identidade de gênero é um direito do cidadão. O projeto recebeu o nome do primeiro transhomem operado no Brasil.

Adaptação

Segundo ela, mesmo antes da mudança de sexo sua relação era tranquila nos lugares em que frequentava. "Que eu me lembre nunca tive problema. Sempre frequentei os banheiros femininos mesmo antes de fazer a cirurgia. A coragem de ter nascido um dia, como diz o vocabulário vulgar gayzinho, viadinho, boiolinha, para me transformar em uma travesti, e, logo depois, uma transexual, superou barreiras. Tenho uma família maravilhosa, irmãos, sobrinhos, mãe. Todos muito carinhosos comigo".

Reconhecimento com muito brilho

Reconhecida no mundo gay pelos desfiles da galeria da beleza no Miss Brasil Gay, a Rainha da Parada conta que dobrou as horas da academia e já passou por sessões de fotografia para todo o material de divulgação do grande dia. "Estamos preparando vários trajes para a semana da festa. No dia da parada estarei vestida com as cores azul, vermelho, branco e verde da bandeira de Juiz de Fora em homenagem a cidade. É muita emoção vivida a cada segundo!", afirma Chris.

Ela considera que o título fecha com chave de ouro todo o ciclo de sua vida. "Já fui madrinha de bateria da escola de samba, recebi a faixa da primeira transexual de Juiz de Fora, título da galeria da beleza do Miss Brasil e hoje o maior título que uma trans pode receber, que é a Rainha do dia do orgulho LGBT".