E agora? Meu filho entrou na adolescência

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E agora? Meu filho entrou na adolesc?ncia

::: 14/05/2003

N?o ? dif?cil encontrar pais de beb?s e crian?as imbu?dos de sentimentos de alegria e temor quando pensam no desenvolvimento de seus filhos. Desejam ver a evolu??o deles, mas temem que suas doces e obedientes criancinhas tornem-se adolescentes, aqueles que costumam ser encarados como protagonistas de rebeldias e desmandos.

A adolesc?ncia pode ser encarada como uma etapa de transi??o crucial no processo de crescimento dos indiv?duos, marcada por transforma?es que se relacionam com os aspectos cognitivos, emocionais e mesmo com os de ordem contextual ou cultural.

A adolesc?ncia dura quase uma d?cada, aproximadamente dos 12 ou 13 anos at? por volta dos 20 anos, mas esse per?odo tem se estendido cada vez mais. Geralmente, considera-se que a adolesc?ncia se inicia na puberdade, o processo que leva ? maturidade sexual, ou fertilidade ? capacidade de reprodu??o (Papalia e Olds, 2000). Al?m disso, observa-se um r?pido crescimento em altura e peso que acarretam mudan?as nas propor?es e forma do corpo.

Nota-se, tamb?m, que nessa ?poca se desenvolve a capacidade do pensamento abstrato. Surge a capacidade de resolver problemas complexos, fazer julgamentos morais e imaginar sociedades ideais. Por?m, ?s vezes, o pensamento dos adolescentes parece imaturo. Um psic?logo chamado David Elkind (1984), descreve comportamentos e atitudes t?picas que podem ser provenientes de incurs?es dos jovens pelo pensamento abstrato: encontrar defeitos nas figuras de autoridade, tend?ncia a discutir, indecis?o, hipocrisia aparente, autoconsci?ncia, suposi??o de invulnerabilidade - acreditam que coisas ruins s? acontecem com os outros.

Segundo as pesquisadoras Dianne Papalia e Saly Olds, adolescentes tendem a passar a maior parte de seu tempo livre com os amigos com os quais se identificam e se sentem ? vontade. Eles, ?s vezes, parecem acreditar que a maioria dos outros adolescentes compartilha de seus valores e que a maioria dos mais velhos n?o. Na verdade, os valores fundamentais da maioria dos adolescentes permanecem mais pr?ximos dos valores de seus pais do que geralmente se imagina.

Percebe-se que s?o muitas as mudan?as que ocorrem nesta fase, exatamente por causa disso ? preciso que os pais atentem para suas pr?prias quest?es de cunho emocional quando os filhos entram na adolesc?ncia. Porque para muitos pais as rela?es com o filho adolescente tornam-se t?o dif?ceis?

S?o in?meros os pais que temem a partida do filho adolescente. Encaram cada uma de suas atitudes e comportamentos que evidenciam sua necessidade de crescer, como um sinal de dispers?o e de desagrega??o familiar irrepar?vel.

A implementa??o de valores familiares, a fun??o de prote??o desempenhada pelos pais at? ent?o, come?a a se ruir. Maria Inez Saito em um texto do livro ? Adolesc?ncia, Preven??o e Risco ? enfatiza que o desejo ilus?rio de uma hist?ria familiar sem descontinuidades nem separa?es ?, nesse per?odo, colocado definitivamente em cheque. H? um colapso transit?rio da identidade familiar. Um momento de n?o reconhecimento do pr?prio filho. ? comum os pais dizerem: "- a gente n?o o conhece mais; como ele est? diferente".

Esta mesma autora refor?a que a adolesc?ncia dos filhos gera um grande esfor?o na fam?lia para ?poder olhar? os fatos da vida e os fen?menos pr?prios da natureza humana, que, talvez em nenhuma outra fase do ciclo de vida estejam t?o evidentes. A adolesc?ncia coloca ? mostra a no??o de trajet?ria diante da inevitabilidade da morte. Sugere a incapacidade dos pais em manter um clima de harmonia e paz absolutas, a necessidade de ocultarem dos filhos seus sentimentos de impot?ncia e fragilidade. Necessidade de ocultar o que neles mesmos persiste de infantil e sexualmente conflitivo.

Muitos adultos tentam fazer dos adolescentes sua pr?pria continua??o, tentando realizar neles seus projetos e sonhos, destruindo assim a oportunidade de v?-los acontecer dentro de sua singular maneira de ser.

O estilo de educa??o dispensado aos filhos adolescentes merece um cuidado especial. Precisam ser tratados de maneira diferente das crian?as mais jovens; o estilo democr?tico de cria??o costuma funcionar melhor. Pais democr?ticos insistem em regras, normas e valores importantes, mas est?o dispostos a ouvir e a negociar. A cria??o predominantemente severa e autorit?ria pode ser contraproducente quando as crian?as entram na adolesc?ncia e sentem a necessidade de serem tratadas mais como adultas. Quando os pais n?o se adaptam a essa necessidade, seus filhos podem rejeitar a influ?ncia parental e buscar apoio e aprova??o dos pares a todo custo (Papalia e Olds, 2000).

Espa?os reais para o crescimento do adolescente surgem quando os adultos acreditam mais nele, na sua qualidade e dignidade. Entretanto, resvalar para o paternalismo exagerado, tamb?m, ? inadequado e pode esconder, por vezes, a descren?a na capacidade do outro de conduzir-se por si mesmo. Saito (2001) enfatiza que educar os adolescentes para o desenvolvimento de a?es solid?rias e/ou educativas voltadas para a qualidade de vida, significa envolv?-los no seu pr?prio processo de crescimento pessoal e de mudan?as que envolvam a comunidade.


Denise Mendon?a de Melo
? psic?loga, formada pelo
Centro de Ensino Superior
de Juiz de Fora.
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