Praça Dr. João Penido

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Praça Dr. João Penido é referência histórica e estética
Ponto que merece ser visitado, senão pela beleza e significado histórico, pela expressividade do setor, garantida pelos seu ambiente e suas edificações.


 

*Marinella Souza
Colaboração
05/10/2007

 

João Nogueira Penido veio de uma família desprovida de recursos pecuniários, mas contou com uma inenarrável capacidade de aprender e com a ajuda de pessoas que apostaram em seu talento. Cresceu, venceu galhardamente todos os obstáculos, doutorou-se em medicina, exerceu a profissão com excelência e paixão (chegou a aplicar sem si mesmo medicamentos de efeitos ainda desconhecidos), foi fiel aos seus brios políticos, virou praça.

A Praça Doutor João Penido ou Praça da Estação, como lhe chamam todos os juizforanos, situa-se na chamada "parte baixa" de Juiz de Fora, onde terminam as ruas Halfeld e Marechal Deodoro da Fonseca. Essa "cidade baixa" traz consigo uma bagagem grandiosa, um passado de esplendor e riquezas. Inaugurada no início do século XIX, a Praça da Estação foi construída para servir à Estrada de Ferro D. Pedro II e era a porta de entrada da cidade. Àquela época, início do período industrial, o transporte ferroviário era a principal via de acesso à Juiz de Fora, dessa forma, representa a fase áurea da industrialização da cidade, tendo perdido sua função de acessibilidade quando da decadência do período.

 

 

Conjunto arquetônico homogêneo do período eclético, caracteriza-se por uma profusão de estilos fundamentados na arquitetura do passado, em especial a clássica, não se trata de obra de um único arquiteto ou artista. A configuração da Praça da Estação foi se formando com o passar do tempo e hoje ela é um ambiente urbano bastante preservado, protegido e organizado, como afirma o professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Júlio Sampaio, para quem tal estado de preservação se explica pela própria decadência "trata-se de mais um espaço que a riqueza construiu e a decadência preservou", comenta.

 

Beleza arquitetônica dividida com o comércio
Além de contar com belíssimos prédios em estilo clássico, a Praça Dr. João Penido divide espaço com estabelecimentos comerciais modernos que desfrutam da tranquilidade do local e vêem na fidelidade da clientela um ponto forte, como conta o balconista de uma drogaria situada bem no centro da Praça, Eduardo Pinto, que considera um privilégio trabalhar "na única praça que possui ponto comercial e é um dos pontos turísticos da cidade com seus prédios centenários e comércio variado".

Segundo Eduardo, a vantagem da localização da drogaria é que garante a freguesia não só dos juizforanos, mas também dos moradores das cidades adjacentes, já que "é o primeiro lugar da cidade que eles vêem".

A aposentada Maria Lúcia Moraes de Almeida, que trabalha como voluntária em um bazar da região, afirma que além de ser um bom ponto, que garante boas vendas, a Praça possui "uma arquitetura impressionante, cheia de detalhes delicados, muito mais rica do que a atual". Segundo a voluntária, a tradição dos prédios antigos dão mais charme e leveza ao peso do concreto das instalações contemporâneas.

Para o senhor João Metiliano, aposentado e frequentador da Praça há mais de 20 anos, o ponto forte do local é a tranquilidade, que lhe permite tardes aprazíveis de convívio com pessoas diferentes e apreciação da beleza do entorno. Tranqüilidade e beleza são também o principal atrativo da Praça na opinião de Valcir Valadares, morador de Itabirita. Fazendo uma rápida passagem por Juiz de Fora, devido a encargos da firma onde trabalha, Valcir afirma "gostei muito da Praça, é muito bonita e passa uma tranquilidade pouco comum nos dias de hoje" e promete voltar trazendo a família para conhecer.

Mas nem tudo são flores no 'Reino do Dr. João Penido', há aqueles que têm ressalvas à Praça que carrega seu nome. É o caso do senhor Ludgero Kneipp, que freqüenta o local há 50 anos e reclama, nostálgico, "falta verde na Praça, acabaram com as árvores, arrancaram e não plantaram de novo". Mas acaba rendendo-se aos encantos desse espaço de convívio harmônico entre o velho e o novo: questionado sobre o porquê de continuar frequentando a Praça, derrete-se "ah... aqui é muito bonito, tem os amigos, é seguro, não tem malandros...é o mundo da gente..."

 

Importância histórica
Esse mundo particular dos felizes moradores de Juiz de Fora, tem também sua importância histórica. A Praça da Estação foi palco de grandes manifestações e comícios políticos, como recorda o comerciante Carlos Antônio Nunes da Silveira, que trabalha no local há 25 anos: "Eu vi Tancredo Neves cochilando num comício pelas Diretas Já! e um show do Gonzaguinha". Para ele "a Praça ficou estigmatizada, mas é um local de frequência de toda a população, além de ser um conjunto arquitetônico muito bonito, que objeto da curiosidade e admiração do que vêm de fora. Sempre tem turista fotografando aqui".

 

 

Há uma movimentação de algumas entidades no sentido de revitalização do espaço, numa tentativa de otimizar sua ocupação e cuidar desse ponto emblemático da cidade, em termos de deslocamento de pessoas. O secretário de Turismo, Indústia e Comércio, Ricardo Luíz Monteiro Francisco, garante que a Prefeitura tem intenção de valorizar o centro histórico com a reativação de alguns vagões do antigo trem e a criação de uma praça de alimentação, esta em parceria com a Associação Comercial. "Estamos aguardando autorização para a transferência de recursos", afirma. O Dr. João Penido, "homem que, por 28 anos plantou dignidade nas terras de Juiz de Fora e a fez vicejar...", como um dia escreveu Dormevilly Nóbrega, pode orgulhar-se de seu território onde modernidade e tradição fazem parte de um mesmo cenário urbano movimentado, unindo tranquilidade e movimento de maneira a proporcionar paz coletiva entre os membros da sociedade, cada qual com suas referências e prioridades .

*Marinella Souza é estudante de Jornalismo da UFJF